Embaixadores pedem mais transparência contra corrupção no Brasil
Os representantes da Suécia, Dinamarca, Finlândia e Noruega ofereceram um café da manhã a jornalistas, em Brasília, para discutir o tema
atualizado
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Embaixadores dos países nórdicos ressaltaram nesta segunda-feira (09/12/2019) que o Brasil precisa aperfeiçoar as práticas de transparência para combater a corrupção e fortalecer a democracia. Os representantes da Suécia, Dinamarca, Finlândia e Noruega ofereceram um café da manhã a jornalistas, em Brasília, em comemoração ao Dia Internacional de Combate à Corrupção.
O embaixador da Finlândia no Brasil, Jouko Leinonen, defendeu a abertura de dados fiscais, por exemplo, para trazer mais clareza às movimentações financeiras.
“Em nossos países, todo ano são divulgados dados de quanto as pessoas ganharam, em que investiram. Por que a Receita [Federal do Brasil] não faz isso? Não são dados sigilosos, mas de ganhos totais, renda, dividendos”, explicou.
Na mesma tendência, o embaixador da Dinamarca, Nicolai Prytz, avaliou que mesmo em países desenvolvidos a corrupção existe, mas é combatida com melhores ferramentas. “A grande diferença é como se lida com isso, de forma rápida, eficaz e transparente. É necessário ter sistemas fortes para isso”, ponderou.
O embaixador da Noruega, Nils Martin Gunneng, ressaltou que a imprensa tem papel fundamental no processo de enfraquecimento das fraudes entre governo e empresas.
“As investigações próprias, a divulgação de dados, de informações, também fazem parte do enfrentamento. A confiança na mídia, na Justiça e na polícia, além da sociedade civil, colaboram para se evitar esses casos”, avaliou.
A embaixadora da Suécia, Johanna Brismar Skoog, acredita que a corrupção é parte de uma mudança cultural. “Temos esses casos em nossos países, mas lá são severamente punidos, as empresas sabem dos riscos, dos problemas que enfrentarão”, afirmou.
Imagem internacional
Representantes de entidades da sociedade civil também participaram do evento. O diretor executivo da Transparência Internacional, Bruno Brandão, destacou que a polarização política atrapalha investigações e a imagem internacional do Brasil.
Ele citou como exemplo a operação Lava Jato. “Surpreendeu o mundo um país emergente conseguir dar respostas a um caso como esse, mesmo tendo falhas no processo que sabemos que exitem”, frisou, ao se referir à troca de mensagens entre procuradores e o então juiz do caso, o atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.
Bruno acredita que a população brasileira está mais atenta a casos de corrupção e mais disposta a combatê-los. Ele usou uma pesquisa da entidade que mostra como 83% dos brasileiros dizem ter condições de contribuir para melhorar o panorama. “Foi o melhor índice em 77 países avaliados”, concluiu.
A coordenadora da Unidade de Paz e Governança do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Brasil (Pnud), Moema Freire, salientou que a colaboração de entidades internacionais na elaboração de políticas e práticas que mitiguem as fraudes são importantes.
“A transparência é ponto acelerador, faz parte dos objetivos de desenvolvimento sustentável. Nesse aspecto, é importante juntar boas práticas dos países, cooperações técnicas e troca de experiências”, pontuou.
Estados e municípios
Entre as principais críticas dos embaixadores e dos representantes de entidades internacionais está a corrupção em estados e municípios onde, segundo eles, os mecanismos de combate são deficitários.
“Vemos um combate à corrupção mais estruturado na esfera federal, mas todo esquema tem suas raízes fincadas dos estados e municípios. O desvio de dinheiro público em uma grande obra deixa impactos, mas nas cidades as pessoas sentem diretamente no dia a dia, no transporte, na segurança”, criticou Bruno.
O embaixador Jouko Leinonen finalizou chamando a atenção de empresas para esse problema. “Quem tem um bom produto, reconhecido e competitivo, deve ter noção do que a corrupção causa, do custo que isso pode trazer”, destacou.
O evento foi organizado dentro do plano Diálogos Nórdicos, que tem o objetivo de difundir soluções para desafios que o Brasil enfrenta com aprimoramento e transmissão de perspectivas e experiências da região nórdica.