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Itamaraty: embaixadoras querem chefiar representações diplomáticas em países estratégicos

Mulheres nunca foram nomeadas pelo Itamaraty para chefiar as embaixadas brasileiras em Washington, Paris, Genebra ou Buenos Aires

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Palácio do Itamaraty
1 de 1 Palácio do Itamaraty - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

A comemoração pela posse de Maria Laura da Rocha, primeira mulher a assumir a secretaria-geral do Ministério das Relações Exteriores, reflete o tamanho da conquista feminina dentro do Itamaraty. Diplomatas mulheres de diferentes hierarquias usaram roupas na cor lilás (símbolo da luta das mulheres pelo direito ao voto) para celebrar o espaço que será ocupado.

A presença feminina no Itamaraty ainda é tímida. Em abril de 2022, só 23% do corpo diplomático era formado por mulheres. Quanto mais alto o cargo, menor o percentual. Com o novo governo e as promessas de mais representatividade, a expectativa é alta para que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nomeie, pela primeira vez, mulheres para os chamados postos A, considerados os mais importantes.

O Brasil nunca teve embaixadoras em capitais como Buenos Aires, Lisboa, Washington, Londres, Madri, Genebra ou Nova York. Dados divulgados pela Associação de Diplomatas Brasileiro (ADB) referentes a 2022 mostram que o país não tem representante mulher na América do Norte ou Europa Ocidental. Por sua vez, a África Subsaariana é o lugar com mais embaixadoras (são cinco), seguida pela América Central (com quatro representantes).

“A presença feminina no Itamaraty é de qualidade e de trabalhos prestados, mas sem reconhecimento”, diz a embaixadora Irene Vida Gala, subchefe do escritório do Itamaraty em São Paulo. “Existe uma imagem positiva no que a gente faz, os colegas não desqualificam. Mas não temos acesso ao poder, é um teto de vidro que começou a ser quebrado.”

Para a ex-embaixadora brasileira em Gana, que também já atuou como conselheira da missão do país junto à Organização das Nações Unidas (ONU), o cenário é “absolutamente propício” para uma maior participação feminina. “Neste momento, temos um número de mulheres que podem alcançar posições de destaque e poder no Itamaraty”, observa.


Há dez anos, as mulheres do Itamaraty se unem no Grupo de Mulheres Diplomatas, que representam as demandas do movimento. O grupo pretende mudar o nome, ainda neste mês, para Associação das Mulheres Diplomatas do Brasil (AMDB).

Para Irene, a imagem feita na quarta-feira (4/1) durante a cerimônia é “uma vitória, uma manifestação de poder político que se faz de uma forma muito peculiar e própria, que é o poder feminino”.

“Temos qualidade, competência e disposição para ocupar essas posições. Falam que mulheres não têm apetite por essas posições porque são muito políticas. Isso não é verdade. O momento está dado”, ressalta.

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Ela é a primeira mulher a assumir o cargo
Diplomatas brasileiras vestiram lilás para a posse da 1ª mulher a ocupar o cargo de secretária-geral do Itamaraty
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Maria Laura da Rocha se tornou a primeira secretária-geral das Relações Exteriores ao tomar posse nesta quarta-feira (4/1)

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Ela é a primeira mulher a assumir o cargo

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Diplomatas brasileiras vestiram lilás para a posse da 1ª mulher a ocupar o cargo de secretária-geral do Itamaraty

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Cota masculina

Irene cita frase da colega Eugênia Barthelmess, embaixadora brasileira em Singapura, para falar sobre a presença de mulheres em postos importantes da instituição. “Já temos uma cota que é 100% masculina. Precisamos romper essa cota que dá esses cargos exclusivamente para homens”, destaca.

A reserva de vagas nestes casos até poderia ser uma alternativa, avalia: “Pode ser uma cota consensuada politicamente ou escrita, mas vai estar na observação das nossas expectativas de representatividade de poder. Vamos checar se estamos tendo o quinhão que nos é de direito, e quando não tivermos nós vamos dizer.”

De acordo com a ADB, o percentual da presença feminina em cargos mais altos é ainda menor que a média na instituição, de 23%. Entre os 314 conselheiros, 71 são mulheres (22,6%). Nos postos mais altos, o percentual continua a cair: apenas 19,5% entre os 236 ministros de segunda classe (46) e 20,5% dos 210 ministros de primeira classe, popularmente conhecidos como embaixadores (43).

A última turma de aprovados na seleção do Instituto Rio Branco, que forma os diplomatas do país, teve recorde de mulheres aprovadas: 15 entre os 35 aprovados (cerca de 42%). É o maior número dos últimos 30 anos, com média no período de 23,545, de acordo com o MRE.

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