Em plena ditadura, falso coronel da FAB enganou militares por 3 anos
Ele usava identidade roubada para se passar por militar, foi indicado para a maçonaria e participou do desfile de 7 de setembro
atualizado
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Durante o regime militar no Brasil, a caça a possíveis comunistas era usada como motivo para inúmeras investigações, prisões e até mortes. Toda paranoia com a “invasão vermelha” parece ter ocupado tanto as Forças Armadas que um homem enganou a todos e se passou por coronel da Aeronáutica durante três anos.
A farsa começou em 1983, quando Edson Nogueira de Miranda teria encontrado a identidade do coronel Gilberto Surreaux Strunck em um ônibus no Rio de Janeiro. O caso está descrito em documentos do Ministério da Aeronáutica, divulgados na última semana pelo Arquivo Público do Distrito Federal.
Após encontrar a identidade, Miranda teria copiado o papel com uma foto própria e passou a usar a identidade falsa. “O nominado xerocou o carteira, colocou o próprio retrato em cima da foto do Cel. Gilberto, tornou a xerocar e, com um lápis de cor, deu a coloração azul, imitando a original . Após, o nominado plastificou a ‘nova’ carteira e destruiu a original”, aponta o relatório do ministério.Para reforçar a nova personalidade, Miranda comprou fardamentos iguais aos usados por militares. Um dos trajes era guardado no porta-malas do carro para casualidades. O caráter supostamente idôneo do falsário fez até mesmo com que fosse convidado para participar da maçonaria, onde ficou conhecido por “irmão coronel”.
As peripécias não pararam. “Como ‘irmão Coronel’ foi convidado e aceitou ao convite para participar dos festejos de 7 de Setembro de 1986 , comparecendo fardado e ficando ao lado do palanque em um desfile escolar, realizado no Bairro de Belfor Roxo”, consta no arquivo, classificado na época como confidencial.
A verdade sobre a farsa só foi descoberta em 1987, após a saída do governo militar. A investigação ainda mostrou que não era a primeira vez que Miranda se passava por outra pessoa. O falsário havia sido detido em 1973 ao dizer que era “Capitão de Corvete” na cidade de Três Rios (RJ), onde trabalhou em um porta-aviões e atendia como suposto psicanalista.
A atração pela carreira militar teria começado na juventude de Miranda, quando serviu na Força Aérea Brasileira (FAB). Segundo as investigações, ele ainda trabalhou como comissário de bordo da extinta Panair antes de começar as farsas. “O falsário é homem frio, calculista, fala fluentemente quatro idiomas e envolve as pessoas com facilidade” indica o relatório.
Além da identidade do Coronel Strunck, o falsário ainda usava outros nove nomes e fora preso por três vezes, sendo uma por corrupção de menores e outra por exercício ilegal da medicina. O destino do investigado, porém, não é esclarecido pelo documento do Ministério da Aeronáutica.