Em meio à pandemia, fundação da Samarco corta auxílio a vítimas de barragem
Atingidos dizem que até 7 mil benefícios podem ser cortados. Fundação Renova diz que bacia do Rio Doce está em condições pré-desastre
atualizado
Compartilhar notícia
A barragem de Fundão, que guardava 56,6 milhões de m³ de lama de rejeito da mineradora Samarco, se rompeu em 5 de novembro de 2015, matando 19 pessoas na hora no distrito de Bento Rodrigues (MG) e espalhando um rastro de destruição no Rio Doce que chegou até a sua foz, no Espírito Santo. Passados quatro anos e meio, a fundação Renova, criada pela empresa controlada pela Vale para socorrer quem perdeu renda em dezenas em cidades ribeirinhas dos dois estados informa que “caminha para dar respostas definitivas aos atingidos”.
Segundo informe divulgado nesta quarta-feira (01/07) pela fundação Renova, “as condições da bacia [do Rio Doce] são hoje semelhantes às de antes do rompimento. O rio Doce é hoje enquadrado na classe 2 pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), e a água pode ser consumida após tratamento convencional”.
Por isso, e apesar da calamidade pública trazida pela pandemia de coronavírus, a fundação anunciou que “deu início ao cancelamento do pagamento do auxílio financeiro emergencial (AFE) para aqueles casos concedidos na fase emergencial que não preenchem os requisitos do Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC) e para aqueles que já tiveram restabelecidas as condições para retomada de atividade econômica ou produtiva, com base nos resultados de estudos técnicos e científicos produzidos e compartilhados com os órgãos públicos”.
Questionada pelo Metrópoles sobre quantos anúncios serão cortados, a Renova não respondeu até a publicação desta reportagem. Segundo dados no site da entidade, em janeiro deste ano 14.679 pessoas recebiam o auxílio e a Renova calculava atingir 32,9 mil pessoas, com os dependentes.
O valor do benefício corresponde a um salário mínimo vigente, acrescido de 20% por dependente, além do montante equivalente a uma cesta básica.
Segundo entidades que reúnem atingidos e já organizam protestos em cidades como Mascarenhas (ES), onde a linha de trens da Vale está sendo bloqueada, o número de cortes pode chegar a 7 mil beneficiários.
Cronograma do corte
A Renova informou que além do auxílio correspondente ao mês de julho, será feito o último pagamento, até agosto, “a título de quitação final, no valor correspondente a três meses (agosto, setembro e outubro).”
Ainda segundo a fundação, o pagamento não vai parar ainda para pescadores comerciais e de subsistência “para os moradores de Mariana, Gesteira e Barra Longa, para quilombolas e indígenas, entre outros”.
O total desembolsado pela fundação no pagamento do auxílio emergencial até agora foi de R$ 1,3 bilhão.