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Em livro, Janot narra pressão para poupar Cunha na Lava Jato

Em seu livro de memórias ele conta passagens e bastidores de seus dois mandatos como procurador-geral da República (2013/2017)

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Rodrigo Janot
1 de 1 Rodrigo Janot - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Em seu “Nada menos que tudo”, livro de memórias em que narra quatro anos no topo do Ministério Público Federal, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot cita um encontro no Palácio do Jaburu com o então vice-presidente Michel Temer e o ex-deputado Henrique Eduardo Alves. O tema da reunião, segundo Janot, era Eduardo Cunha, alvo da Lava Jato. Segundo o ex-procurador-geral, Temer e Alves pediram por Cunha, que a qualquer custo deveria ficar à margem das investigações.

“Eu chamei o senhor aqui porque quero conversar não com o procurador-geral da República, mas com um brasileiro preocupado com o Brasil, com um patriota”, teria dito Temer, segundo o relato de Janot.

‘”Nada menos que tudo” é o compilado de diversas passagens de Janot na PGR contadas por ele aos jornalistas Jailton de Carvalho e Guilherme Evelin.

O ex-mandatário do Ministério Público Federal foi alvo de buscas na sexta (27/09/2019), por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, depois que declarou, na quinta (26/09/2019), ter planejado o assassinato a tiros de Gilmar Mendes, em 2017. Agentes da Polícia Federal recolheram uma pistola, um tablet e celular de Janot.

No livro, ele relembra. “Quando cheguei ao Jaburu, encontrei Temer e o deputado Henrique Eduardo Alves, do PMDB do Rio Grande do Norte, que havia acabado de sair da presidência da Câmara. Alves, amigo próximo do vice-presidente, era àquela época um dos mais veteranos parlamentares de Brasília, com 11 mandatos consecutivos de deputado.”

Janot destaca que ‘Temer estava bem à vontade’.

Henrique Alves, por sua vez, ‘sem meias palavras’, disse que ele, procurador, ‘não poderia investigar seu sucessor, o deputado Eduardo Cunha’ – recém-eleito presidente da Câmara.

“Cunha é um louco, pode reagir de forma imprevisível e colocar o Brasil em risco. Confiamos no senhor como brasileiro e como patriota para manter a estabilidade do país”, teria insistido Henrique Alves.

Segundo o ex-procurador-geral, chegou, então, o então ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) e ‘testemunhou o resto da conversa’.

Ainda de acordo com Janot, ‘sem embaraço, Henrique Alves seguiu dizendo que ele deveria arquivar, para o bem do país, a investigação contra Eduardo Cunha’.

Naquela época, Cunha já era investigado por uma suposta cobrança de propina milionária no âmbito de uma compra da Petrobrás de dois navios-sondas. Ele foi delatado pelo doleiro Fernando Falcão Soares, o ‘Fernando Baiano’, e pelo lobista Júlio Camargo.

O inquérito que citava o ex-presidente da Câmara fazia parte do lote de 23 investigações instauradas contra um grupo de 54 políticos supostamente envolvidos com esquema de propinas das maiores empreiteiras do País.

Janot diz que ‘ficou estupefato’ com o que ouviu no Jaburu, para onde tinha ido após receber uma ligação de Temer.

Ele afirma ter reagido assim ao pedido. “O senhor é do Direito, a minha área, ele (Henrique Alves) não é. O senhor está entendendo a gravidade do que ele está propondo ao procurador-geral da República?”

Ainda segundo Janot, o então vice ‘não se abalou’.

“Ele (Alves) está propondo ao patriota Rodrigo Janot. Esse homem (Eduardo Cunha) é muito perigoso, e a gente não sabe quais as consequências que poderão vir dele. Então apelamos para que o senhor não leve a cabo essa investigação, que a arquive”, teria dito Temer, sempre segundo Rodrigo Janot.

O ex-procurador-geral narra que ‘respirou fundo’ e disse: “Olha, vice-presidente, eu acho isso muito complicado. Na verdade, não consigo separar a figura do patriota da figura do procurador-geral. O que os senhores estão me propondo aqui é que eu cometa um crime de prevaricação. Isso eu não farei jamais. E muito me estranha que o vice-presidente da República e o ex-presidente da Câmara dos Deputados venham fazer uma proposta indecorosa dessas ao procurador-geral da República. Estou chocado com a ousadia de vocês.”

COM A PALAVRA, MICHEL TEMER
Na sexta-feira (2709/2019), quando o conteúdo do livro de Rodrigo Janot começou a ser divulgado, o ex-presidente Michel Temer divulgou nota em que chamou o ex-procurador-geral de ‘mentiroso contumaz’.

‘O ex-procurador Janot, além de mentiroso contumaz e desmemoriado, revela-se um insano homicida-suicida. As ocasiões em que esteve comigo foram para detratar e desmoralizar os possíveis integrantes de lista tríplice para Procurador-Geral da República e para sugerir que nomeasse alguém fora da lista. Não merece consideração.”

COM A PALAVRA, EDUARDO CUNHA
“Com relação à divulgação de versões contidas no livro do Sr. Janot, tenho a esclarecer o que se segue:

1. Como podemos observar, trata-se de um psicopata e homicida que não merece respeito.
2. É tão absurda a acusação de invasão da sua casa, desprovida de qualquer prova, quanto é absurda a sua tratativa de homicídio do ministro do STF, Gilmar Mendes.
3. Janot é dotado de ódio pessoal contra mim e foi responsável pela divulgação de falsas acusações contra mim.
4. Ele mesmo fala que o inquérito contra mim estava muito ruim, o que só prova que sou vítima de perseguição comandada por ele, que forçou delatores a mudarem versões contra mim e mesmo com o inquérito muito ruim, apresentou denúncias contra mim.
5. Vou acioná-lo judicialmente, assim como espero que ele seja responsabilizado pela tentativa do homicídio.
6. Janot gostaria de ter ido ao STF como ministro, mas eu o frustrei quando aprovei a emenda dos 75 anos, impedindo que houvessem mais vagas naquele governo.

Eduardo Cunha”

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