Em faixa, padre de GO critica postura de “falsos cristãos” na pandemia
Ao expressar luto pelas mortes, pároco de Itapuranga lamentou também a insensibilidade de pessoas que frequentam a igreja no atual contexto
atualizado
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Goiânia – Uma faixa de luto pelas mortes causadas pela Covid-19 no Brasil, posicionada em frente a uma igreja de Itapuranga, cidade do interior de Goiás, chama a atenção por um detalhe. O padre Celso Leonel Carpenedo fez questão de destacar, também, o luto pela insensibilidade de alguns cristãos, diante dos efeitos da pandemia. “Pela dureza de mente e coração de muitos cristãos”, escreveu.
Em um momento que se discute a necessidade de isolamento e paralisação das atividades, até mesmo das igrejas, para conter a transmissão da doença e as milhares de mortes causadas pela pandemia, o padre diz perceber a ausência de entendimento e solidariedade por parte daqueles que se dizem cristãos, mas que pensam apenas no lucro e no capital.
Além da faixa, cruzes de madeira foram fincadas no jardim da Igreja Cristo Redentor, da Paróquia Nossa Senhora de Fátima e São Sebastião. Elas foram posicionadas na manhã desta quinta-feira (4/3). A ideia partiu dele, após conversar com a equipe pastoral.
“Como que a gente faz enquanto cristão? Não ficar indiferente. Oração é orar mais ação. Não podemos nos ausentar de olhar para o sofrimento do irmão. A indiferença mata. É o pior vírus. Como cristão, não dá para a gente aceitar o comércio e o lucro individualista acima da vida das pessoas”, disse ao Metrópoles.
Itapuranga tem pouco mais de 25 mil habitantes e já registrou 48 mortes por Covid-19 e 1.653 casos confirmados de contaminação pela doença. Para o padre, o que acontece a nível federal repercute nas pequenas cidades, principalmente as falas do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido), que “minimiza a pandemia”.
Hipocrisia
Padre Celso diz enxergar muita incoerência entre os que se dizem cristãos. “Temos uma sociedade que fala muito de Deus. Os políticos, por exemplo, usam Deus de uma forma idolátrica, não correta, enquanto a sociedade, o irmão doído, sofrido é deixado de lado”, pontua.
Ele diz que o papel dele, enquanto padre, é alertar as pessoas para um caminho de conversão a Jesus, ao evangelho e aos que necessitam de ajuda. “Amor e caridade devem ser a roupa do cristão. Não precisa de ter nenhum distintivo externo ou sair por aí se afirmando cristão”, explica.
O padre se diz da velha guarda da igreja, e por isso mantém o hábito de expressar pensamentos. Aos 62 anos, foi monge beneditino, na cidade de Goiás, antiga capital do Estado, por mais de 20 anos e está como padre há mais de uma década.
Ele critica os rumos da religião nos tempos atuais: “Religião virou moda, virou fachada, virou álibi para consolar egoísmos, individualismos e consumismos. Religião virou consagração de sociedade pecadora que marginaliza as pessoas e jogar os pobres na mais profunda miséria”.
Nesta quinta-feira (4/3), o prefeito da capital do estado, o pastor Rogério Cruz (Republicanos), tomou uma atitude que vai ao inverso do que o padre de Itapuranga prega. O administrador quer que as atividades religiosas sejam essenciais durante a pandemia, mesmo nas situações de medidas mais restritivas.
Sobrevivência da fé
Mudar o pensamento e refletir sobre as atitudes é urgente, na visão do padre. A realidade das igrejas e templos religiosos, hoje, levanta uma série de questionamentos para ele, que cita como reflexão a passagem bíblica que fala sobre a volta de Jesus Cristo e o questionamento se ele encontrará fé na terra.
“Vai encontrar muita igreja, muito santuário, muita louvação, peregrinação, mas não sei se ele vai encontrar fé, realmente. Fé é botar os nossos passos no caminho do senhor. Você até pode ter a Bíblia embaixo do braço, o terço na mão, mas seguidores de Jesus têm que ter compromisso com o irmão, efetiva compreensão dos fatos e efetiva solidariedade. O mundo está cheio de falastrões”, expõe.