Em evento com Biden, Lula diz que “não há sustentabilidade com guerra”
Presidente Lula (PT) falou em cúpula virtual sobre o mudanças climáticas e não citou especificamente a guerra da Ucrânia
atualizado
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Após o mal-estar diplomático entre Brasil e Estados Unidos provocado por declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre uma suposta falta de empenho norte-americano pela paz na Ucrânia, o petista deu uma alfinetada no chefe de Estado norte-americano durante discurso em cúpula virtual sobre mudanças climáticas.
“Somos defensores intransigente da paz entre os povos. Não há sustentabilidade num mundo em guerra”, disse Lula, em um discurso lido.
O presidente brasileiro falou, nesta quinta-feira (20/4), em cúpula virtual do Fórum das Grandes Economias sobre Clima e Energia. Na abertura do evento, o presidente dos EUA, Joe Biden, comprometeu-se a pedir autorização ao Congresso norte-americano para doar US$ 500 milhões (cerca de R$ 2,5 bilhões) para o Fundo Amazônia, um consórcio internacional destinado a ajudar o Brasil a proteger a floresta amazônica.
“Além da paz, é urgente buscarmos uma relação de confiança entre os países”, disse ainda Lula no discurso. “No entanto, desde a Convenção do Clima, em 1992, no Rio de Janeiro, a confiança entre os atores envolvidos tem declinado. Desde que o compromisso foi assumido, em 2009, o financiamento climático oferecido pelos países desenvolvidos mantém-se aquém da promessa de 100 bilhões de dólares por ano. Como disse no início, é preciso que todos façam a sua parte”, cobrou o presidente brasileiro.
Lula também se comprometeu a “fazer sua parte” e aumentar a produção de energia limpa no Brasil por meio de parques de geração de energia solar e eólica, além de reduzir o desmatamento na Amazônia. Nesse ponto, Lula ainda alfinetou seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL).
“Fomos capazes de reduzir o desmatamento da Amazônia em mais de 80% ao longo de uma década, e voltaremos a fazê-lo. Os danos ao meio ambiente causados pelo governo anterior serão revertidos”, disse Lula. “Para tanto, retomamos o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia, que em passado recente foi responsável pela queda recorde na devastação da floresta. Nossa meta é o desmatamento zero”, prometeu o presidente.
Apesar da promessa, o governo do petista ainda não conseguiu começar a reduzir os índices de queimadas e desmatamento. Os índices de desmatamento na Amazônia triplicaram no último mês de março, e os números apurados consolidam o primeiro trimestre de 2023 como o segundo pior em pelo menos 16 anos.
Leia a íntegra do discurso do presidente Lula no evento
Quero cumprimentar o Presidente Joe Biden pela realização deste Fórum sobre Energia e Clima. Aproveito para saudar a todos os participantes.
A resposta ao desafio climático – talvez o maior da nossa geração – depende da ação coordenada entre todos os países. O Brasil está fazendo a sua parte, e vai avançar ainda mais nos esforços para mitigar os efeitos da mudança do clima.
Temos a matriz energética mais limpa do planeta. Mais de 80% da nossa eletricidade provém de fontes renováveis: hidrelétrica, eólica, solar, etanol e biomassa. E vamos aumentar essa proporção, com a instalação de novos parques de geração de energia solar e eólica. Continuaremos também a investir em soluções como a agricultura de baixo carbono, infraestrutura verde e biocombustíveis.
Fomos capazes de reduzir o desmatamento da Amazônia em mais de 80% ao longo de uma década, e voltaremos a fazê-lo. Os danos ao meio ambiente causados pelo governo anterior serão revertidos. Para tanto, retomamos o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia, que em passado recente foi responsável pela queda recorde na devastação da floresta. Nossa meta é o desmatamento zero.
Temos o compromisso de reflorestar 12 milhões de hectares, e estamos fortalecendo os investimentos em bioeconomia, assegurando trabalhos dignos e sustentáveis para os 25 milhões de brasileiros que vivem na região.
Em agosto, vamos reunir os líderes dos oito países amazônicos, com o objetivo de impulsionar uma nova agenda comum para a Amazônia. Reafirmaremos a nossa disposição para trabalhar conjuntamente em projetos de maior alcance, que protejam o bioma e promovam o seu desenvolvimento sustentável.
Também trabalharemos com países que detêm florestas tropicais na África e na Ásia. Como sinal de comprometimento, apresentamos a candidatura de Belém, na região amazônica, para sediar a COP30 em 2025.
Senhoras e senhores.
Os efeitos da mudança do clima agravam ainda mais a pobreza, a fome e a desigualdade no mundo, flagelos que o Brasil combate com todas as forças. Também somos defensores intransigente da paz entre os povos. Não há sustentabilidade num mundo em guerra.
Além da paz, é urgente buscarmos uma relação de confiança entre os países. No entanto, desde a Convenção do Clima, em 1992, no Rio de Janeiro, a confiança entre os atores envolvidos tem declinado. Desde que o compromisso foi assumido, em 2009, o financiamento climático oferecido pelos países desenvolvidos mantém-se aquém da promessa de 100 bilhões de dólares por ano. Como disse no início, é preciso que todos façam a sua parte.
Hoje o mundo está próximo de um ponto irreversível. Vemos diante de nós a urgência de cumprirmos as promessas feitas. Precisamos de uma governança mais efetiva e legítima, que nos permita resgatar a solidariedade para o bem de toda a humanidade.
Podem contar com o Brasil.