Em detalhes: o que disse o serial killer de GO na análise psiquiátrica
Laudo revela a face mais sincera e oculta do homem condenado a quase 700 anos de prisão. Tiago é considerado de altíssima periculosidade
atualizado
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O laudo psiquiátrico feito pela Junta Médica Oficial do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) sobre o vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha, o serial killer de Goiânia (GO), revela a face mais sincera e oculta do homem condenado a quase 700 anos de prisão, por matar mais de 30 pessoas. O Metrópoles teve acesso ao conteúdo do documento.
Tiago completou 10 anos de prisão nessa segunda-feira (14/10). O laudo foi produzido após três dias de entrevistas com psicólogos e médicos psiquiatras, em fevereiro de 2015, meses após ele ser preso pela força-tarefa da Polícia Civil de Goiás (PCGO). Ao todo, 33 equipes policiais foram às ruas de Goiânia para tentar encontrar o matador que vinha assassinando mulheres na cidade, em 2014.
Conforme o texto do laudo, após apresentar certa resistência, Tiago passou a contribuir com a análise, ao ser informado sobre as razões do exame. Depois de fazer um breve retrospecto sobre a infância, a vida escolar e o relacionamento em família – ele é o filho mais velho entre dois irmãos, nunca soube quem é seu pai e a mãe o teve aos 17 anos -, ele começou a falar sobre os crimes cometidos:
“Eu só segui meu curso, só cumpri minha missão, mano. Eu sou extremamente equilibrado, consigo me controlar, mas fico nervoso várias vezes. (…) Eu tenho ódio da humanidade. Não me culpo por nada que eu fiz”, disse ele.
Faria o mesmo com a própria mãe
Em seguida, o exame seguiu no intuito de avaliar os relacionamentos interpessoais de Tiago. Ele afirmou que não confia nas pessoas e que se relacionar o deixa irritado. Os médicos o perguntaram, então, sobre quem o visitava na penitenciária. O serial killer está preso no Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. Ao falar sobre as visitas, ele fez a seguinte revelação:
“O filho da [nome da mãe dele], meu irmão uai, me visita e minha mãe. Eu tento não transparecer, mas eu não ligo. Eu não estou nem aí para as pessoas. Se eu recebesse a missão [de matar] com relação à minha mãe e ao meu irmão, eu faria. Lá eu converso com os presos, converso na língua deles, que eles entendem. O meu vizinho de cela, talvez, ele seja minha missão também, estou aguardando ordens. Eu sou muito inteligente. Não tenho medo de morrer”, expôs.
Tiago disse que havia se relacionado amorosamente uma única vez, aos 19 anos. Ele teve uma namorada, que conheceu na igreja, mas a relação durou seis meses, apenas. A mãe do matador, também entrevistada no exame, conta que o filho foi batizado na Assembleia de Deus, mas que ele não seguia a religião. E ele fez questão de esclarecer isso: “não sou evangélico”.
“Eu sou iluminado”
O serial killer de Goiânia trabalhava como vigilante. Ele fez curso de formação na Academia de Vigilantes Tiradentes e chegou a atuar em, pelo menos, três empresas de segurança terceirizada na capital. Na época em que foi preso, ele fazia parte da vigilância do, então, Hospital Materno Infantil, hoje chamado Hospital Estadual da Mulher (Hemu).
A face profissional, de total discrição e silêncio, escondia a versão assassina de Tiago, e ele passava despercebido por todos. Perguntado, no exame, se já havia feito algum tratamento psiquiátrico antes, o serial killer fez novas revelações e demonstrou certa desconexão de ideias, mostrando, ao mesmo tempo, o que pensa sobre si:
“Só fiz exame que a empresa pedia mesmo. Eu não estou autorizado em falar nisso, tenho uma missão. Vou perder minha recompensa, eu não sou do seu mundo, cara. Eu sou iluminado, muito tempo fazendo essas missões. Antes de você nascer, eu já estava em atividade. Você acha mesmo que eu sou o Tiago? Você não é desse mundo, você não sabe. O que tem aqui dentro é infinito, ainda vou fazer muitas missões. Já fiz muitas. Você é humano, você não entende”, disse ele.
Em seguida, Tiago deu continuidade, dizendo que “a humanidade é louca” e que ele não é o único iluminado da Terra. “Tem vários que tinham missões parecidas com a minha, que são iluminados, Hitler, Stalin, Mussolini”, mencionou.
“[Matava] quem eu visse e sentisse”
Todas as vezes que o serial killer usava a palavra “missão” nos relatos feitos aos médicos, ele estava se referindo ao ato de matar. Na parte de análise psicológica do laudo, fica demonstrado que ele entende seguir ordens de algo superior, cujo sentido seria a “salvação”.
“Eu tinha que fazer, só isso. Eu saí pra fazer a missão, era quem eu visse e sentisse. Quando eu vou pra fazer a missão, eu sinto. (…) Eu paro quando eu quero. É um por vez. E missão cumprida.”
O laudo concluiu que Tiago tem Transtorno de Personalidade Antissocial e traços de psicopata. Isso, no entanto, não o faz uma pessoa com doença mental ou com incapacidade de compreender a gravidade do que fez. Pelo contrário, os psiquiatras atestam que ele é “inteiramente capaz de entender o caráter ilícito” das coisas.
O exame afirma, ainda, que Tiago é uma pessoa de “altíssima periculosidade” e com tendência natural em reincidir nos mesmos delitos. De acordo com o juiz Jesseir Coelho de Alcântara, que presidiu 20 sessões dos casos envolvendo o serial killer, 99% das testemunhas pediram, por medo, para serem ouvidas na ausência do matador.
Ele teve que ser retirado da sala ou, até mesmo, sair, momentaneamente, das chamadas de vídeo, quando as audiências ocorreram à distância.