Em despedida, Pazuello dispara: “Todos queriam pixulé do final de ano”
O ex-ministro da Saúde se despediu de colegas no Ministério da Saúde com discurso acalorado
atualizado
Compartilhar notícia
O general Eduardo Pazuello se despediu, nesta quarta-feira (24/3), dos servidores do Ministério da Saúde. Ao lado do médico Marcelo Queiroga, que assumirá o cargo, o ex-chefe da pasta falou da pressão que estava enfrentando de outros políticos, que estariam interessados em “pixulé”, apelido para propina.
“Ali começou a crise com a liderança política que nós temos hoje. (…) Aí chegou no final do ano, uma carreata de gente pedindo dinheiro politicamente. Foi outra porrada, porque todos queriam o pixulé no final do ano”, confessou o general.
Em seguida, declarou que se recusou a considerar pedidos de “lideranças políticas” enumeradas em uma lista enviada à pasta. O ministro, entretanto, não chegou a citar nomes dos envolvidos.
Em outro momento do discurso, divulgado pela Veja, Pazuello comentou que, inicialmente, não tinha o propósito de chefiar, nem integrar o Ministério da Saúde. No entanto, teria aceitado o cargo após o presidente da república, Jair Bolsonaro, ter solicitado a ele “uma missão”, o que seria algo “sagrado” para os militares como ele.
“É claro que eu não queria vir. Quem é que já me ouviu dizer isso mil vezes? Eu estava comandando uma região militar que tinha quatro estados — Amazonas, Roraima, Rondônia e Acre — e estava na preparação para fazer o combate à Covid. Precisávamos combater a Covid também na Amazônia”, recordou Pazuello, que indicou ter vítima de um complô político.
“Trouxemos esses atributos para onde, normalmente, pela própria construção política que se faz, não são atributos que vêm junto. Quais são os atributos que têm aqui: relacionamento, composição política, direcionamento de políticas não sei do quê. É um cargo político”, disse Pazuello.
Em outro momento da oratória, o ex-ministro falou como enxerga o cenário que teria sido vivenciado na Esplanada dos Ministérios, em relação a interrogatórios duvidosos de outros colegas de profissão. “As pessoas começam a te olhar diferente e questionar: ‘poxa, você não tem interesse?’ ‘Não’. ‘Não quer falar com a empresa tal?’ ‘Claro que não’. ‘Você não recebe empresa?’ ‘De jeito nenhum’. ‘Não vai aceitar o cara aqui fazendo lobby?’ ‘Não’. ‘Não vai favorecer o partido A, B ou C?’ ‘Claro que não’. ‘E o operador do fulano, beltrano?’ ‘Não’. Porra, vai dar merda. É assim que funciona”, anunciou.
Confira o vídeo obtido pela revista Veja do discurso do ex-ministro:
Combate à Covid
Depois, discursou sobre o motivo que, para ele, o fez cair: “O grupo (de médicos do Ministério da Saúde) tentou empurrar uma pseudo-nota técnica que nos colocaria em extrema vulnerabilidade, querendo que aquele medicamento, a partir dali, estivesse com critérios técnicos do ministério, e ele (o medicamento) não tinha”, declarou Pazuello.
Direcionado a Queiroga, Pazuello fez um pedido para que a atual gestão tenha mais atenção e cuidado com a saúde pública e questões ligadas à sociedade brasileira. “Atenda o SUS, atenda os estados e municípios, não se renda a pressões políticas”, pediu ao sucessor do cargo.
Para ele, no fim do ano passado, os pareceres técnicos aos quais teve acesso mostravam um cenário menos caótico do que a real situação envolvendo a pandemia do novo coronavírus e as campanhas de vacinação. “A perspectiva nossa no final do ano era outra. (…) O cenário mais provável não aconteceu”, lamentou.
Como resposta, Queiroga, que é médico cardiologista, disse que “mesmo sem CRM, você (Pazuello) salvou muitas vidas, meu amigo […]. Fala desse jeito de comandar a tropa (militar), mas a gente vê que é um sujeito de grande coração, e de coração eu entendo”, afirmou o novo chefe da pasta.