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Em depoimento, Torres diz que não interferia nas operações da PRF

Anderson Torres prestou depoimento à PF, nesta segunda-feira, em investigação sobre interferência na PRF durante eleições de 2022

atualizado

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Torres
1 de 1 Torres - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

O ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do DF Anderson Torres abriu mão do silêncio e falou por cerca de duas horas com investigadores da Polícia Federal, em Brasília. Torres, que também é delegado da PF, prestou esclarecimentos nesta segunda-feira (8/5) sobre a atuação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) durante o segundo turno das eleições presidenciais, em 30 de outubro de 2022.

No depoimento à PF, segundo a defesa, Torres disse que não interferia diretamente nas operações da PRF. Sobre a viagem à Bahia, na véspera das eleições, o ex-ministro de Bolsonaro manteve a versão de que esteve no Nordeste para inauguração de uma obra da Polícia Federal, sem relação com a PRF.

O advogado de defesa de Anderson Torres, Eumar Novacki, afirmou que o cliente “respondeu todos os questionamentos formulados” pela PF e que “mantém a postura de cooperar com as investigações, uma vez que é o principal interessado no rápido esclarecimento dos fatos e acredita que a verdade prevalecerá”, completou Novacki.

Torres é investigado por atuação da PRF, em 30 de outubro de 2022. Na ocasião, policiais rodoviários realizaram bloqueios e fiscalizações que afetaram a movimentação de eleitores na disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o então presidente Jair Bolsonaro (PL). A suspeita é que a corporação teria tentado prejudicar o deslocamento em redutos eleitorais do petista para interferir no resultado do pleito.

Torres chegou à sede da PF às 13h30, e a oitiva começou por volta das 14h30. O depoente deixou local em um veículo oficial da Polícia Militar do DF pouco antes das 17h.

Anderson Torres chega à PF para depor sobre ação da PRF nas eleições

À época do caso em investigação, Torres era ministro da Justiça e, portanto, a PRF estava sob sua alçada. Há indícios de que ele teria pedido apoio nos bloqueios que a PRF faria durante o segundo turno das eleições presidenciais. No entanto, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, proibiu a PF e a PRF de realizarem qualquer operação envolvendo o transporte público disponibilizado a eleitores, seja ele gratuito ou não, sob pena de responsabilização criminal.

Mesmo diante da proibição, ônibus foram parados e eleitores atrasados. Somente após forte operação do TSE, com reuniões entre Moraes e o ex-diretor-geral da PRF Silvinei Vasques, os veículos foram liberados. Os eleitores não chegaram a ficar sem votar, mas foram atrasados.

Nesta segunda, documentos veiculados na imprensa mostram que Torres esteve na Bahia dois dias antes do segundo turno. Além disso, o Ministério da Justiça, já sob o comando de Lula, divulgou que a PRF ganhou aditivo de R$ 3 milhões especificamente para a realização de blitze para 30 de outubro.

Relatório mostra que a PRF fiscalizou 2.185 ônibus no Nordeste, região onde o então candidato Lula liderava em intenções de voto, e 571 ônibus em locais onde o candidato derrotado detinha a dianteira. Em 19 de abril, a própria PRF decidiu reabrir a investigação sobre a atuação no dia das eleições.

Segundo a corporação, “o surgimento de fatos novos, apresentados por outros órgãos públicos e veículos de imprensa, além da existência de lacunas técnicas no decorrer do processo apuratório, motivaram a anulação do pedido de arquivamento”.

PRF fiscalizou 2,1 mil ônibus no Nordeste nas vésperas do 2º turno

Torres sob pressão

Essa não é a única investigação sobre tentativas de influenciar as eleições da qual o ex-ministro Anderson Torres é um dos principais personagens. Foi na casa dele que a Polícia Federal encontrou uma minuta de documento que tinha o objetivo de fechar o Tribunal Superior Eleitoral por — conforme o texto acusa, sem provas — influenciar o processo eleitoral. O material ficou conhecido como minuta do golpe.

Anderson Torres está preso desde 14 de janeiro em função das investigações sobre possíveis omissões de autoridades durante os atos golpistas ocorridos em Brasília, em 8 de janeiro. Ele chefiava a Segurança Pública do DF quando ocorreram as invasões nas sedes do Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal (STF) e Palácio do Planalto.

O ex-ministro cumpre a prisão no 4º Batalhão da Polícia Militar, no Guará (DF), desde que voltou ao Brasil. Torres viajou aos Estados Unidos antes dos atentados contra o resultado das urnas, o que levantou suspeitas de conivência ou omissão.

Saúde abalada

A oitiva do ex-secretário de Segurança Pública do DF estava marcada para 24 de abril. A defesa de Torres, porém, solicitou que a audiência fosse adiada devido ao estado emocional do ex-ministro, que não teria condições psicológicas para ser sabatinado.

Alexandre de Moraes, do STF, aceitou o pedido após laudo da Secretaria de Saúde do DF mostrar o acompanhamento médico frequente dado a Torres. O magistrado, no entanto, definiu que ele fosse ouvido até esta segunda.

De acordo com a decisão de Moraes, Torres pode ficar em silêncio. Porém, Eumar Novacki, advogado do ex-secretário de Justiça do DF, afirmou que o ex-ministro de Bolsonaro “vai esclarecer o que for perguntado”.

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