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Em 3º mandato, Lula vai gerenciar ministério repleto de presidenciáveis

Lula terá que administrar ambições de Alckmin, Haddad, Tebet, Dino, Marina e Wellington Dias (e talvez de mais ministros)

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1 de 1 c98a1baa-ba69-4441-a86e-b94104104ddd - Foto: Breno Esaki/Especial Metrópoles

Pressionado pela necessidade de formar uma frente ampla para se contrapor a Jair Bolsonaro (PL) na eleição presidencial mais concorrida da história brasileira, o petista Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, mais de uma vez, durante a campanha, que seu terceiro mandato seria o último, comprometendo-se a não tentar uma reeleição. Vitorioso, Lula abre desde já a disputa nos bastidores pela sua sucessão, que, no campo político de centro-esquerda, vai se dar no quintal do próprio governo.

Os ministros que o presidente eleito terminou de escalar na quinta-feira (29/12) tem ao menos cinco nomes que já concorreram à Presidência ou almejam fazê-lo num futuro próximo – e mais alguns correndo por fora.

Com ministros, como Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria e Comércio); Simone Tebet (Planejamento); Fernando Haddad (Fazenda); Marina Silva (Meio Ambiente); Wellington Dias (Desenvolvimento Social); e Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública), com a esperança de pavimentar o sonho presidencial daqui a três anos e meio, caberá a Lula a difícil missão de administrar vaidades e impedir que brigas internas atrapalhem o andamento do governo.

Todos políticos experientes, os “ministros presidenciáveis” vão evitar, enquanto for possível, explicitar seus planos. Eles vão buscar, porém, usar os cargos como vitrine e tentar manter seus nomes bem posicionados nas mesas de apostas para 2026.

Especialistas ouvidos pelo Metrópoles avaliam que o presidente eleito vai ter de se dedicar muito para manter a harmonia em uma equipe tão cheia de presidenciáveis em potencial.

O cientista político André Rosa avalia que, entre os ministros de olho no Planalto, Tebet poderá se tornar a maior pedra no sapato de Lula. “Vejo ela como um problemaço, à la Joaquim Levy [economista liberal nomeado ministro da Fazenda por Dilma Rousseff em 2015, mas que durou menos de um ano no cargo]”.

“O fato de ela ter de trabalhar em harmonia com Haddad, em um governo que prega maior participação do Estado na economia, vai contra suas próprias convicções. Estamos falando de uma senadora que, politicamente, está a centro-direita, defensora de um viés econômico mais liberal de mercado aberto. Ela precisará ser mais flexível”, pontua Rosa. Ele ainda destaca que a senadora está em uma das pastas com maior potencial para capitalizar politicamente.

“Vejo [o Ministério do Planejamento] como uma vitrine muito maior para ela. É uma pasta muito estratégica, pois terá que trabalhar com todas as pastas da Esplanada. Acredito que é quase ou tão importante quanto o Ministério da Fazenda, um dos órgãos com maior protagonismo.”

A avaliação do cientista político André César é pessimista. Ele crê que a busca pelo protagonismo na Esplanada trará “muito ruído, rusga e turbulência” ao novo governo. “Haddad, Alckmin e Tebet são o tripé da economia e concentram maior potencial de crise. O tripé não pode balançar. São três nomes muito fortes, veja: o vice é um candidato natural; Haddad é um faz-tudo do PT e foi candidato à Presidência; Simone cresceu muito, saindo maior do que entrou e é um ativo político muito forte do Centrão.”

“Um eventual sucesso de todos os ministros os colocará na vitrine para 2026. Há ainda os cavalos que não estamos olhando e que acabam surgindo ao longo do processo, ganhando mais força do que integrantes do governo. Lula terá de, mais do que nunca, ter muita capacidade de apaziguamento, e sabe que está incorrendo em riscos”, completa.

Veja quem são e o que vão fazer os ministros de Lula considerados presidenciáveis em potencial para 2026:

Simone Tebet

Senadora Simone Tebet (MDB)
Senadora Simone Tebet (MDB)

A senadora Simone Tebet ocupará uma das cadeiras do MDB na Esplanada dos Ministérios. A emedebista iniciou as eleições como candidata da chamada terceira via, que pregava nomes alternativos a Lula e a Bolsonaro, mas terminou fazendo campanha para o petista. A parlamentar foi muito importante para assegurar a vitória nas urnas, pois transferiu votos, em especial do eleitorado feminino, para o candidato do PT.

Desde então, Tebet teve o nome ventilado para ocupar uma das pastas do novo governo. Em conversas com Lula, a senadora externou o desejo de comandar um dos ministérios com maior capital político, e acabou, após intensa negociação, aceitando o convite de chefiar o Planejamento.

Uma boa gestão frente à pasta, considerada uma das de maior importância, poderá fortalecer a emedebista para o próximo pleito eleitoral. Como ministra, Tebet terá que traçar o planejamento de custos, a análise e viabilidade de projetos e o controle de orçamentos, com a liberação de fundos.

Wellington Dias

Futuro Ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias (PT), chega ao CCBB, sede do governo de transição. Ele é cercado por jornalistas - Metrópoles
Futuro Ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias (PT)

Considerado o “azarão” entre os ministros potenciais presidenciáveis, o senador eleito Wellington Dias (PT) é ex-governador do Piauí e foi determinante nas articulações pela construção de um texto pacificado da PEC da Transição.

Dias foi o escolhido de Lula para, na transição de governo, ficar responsável pela análise do orçamento e, com o desempenho, se credenciou para comandar o Ministério do Desenvolvimento Social – uma das pastas de maior relevância nos governos petistas por administrar os programas sociais, como o Bolsa Família.

Caso consiga fazer uma gestão exitosa, será justamente em função da importância dos projetos sob a asa do ministério que Dias poderá ser projetado ainda mais no cenário político nacional, e turbinar uma eventual candidatura ao Palácio do Planalto.

Flávio Dino

Imagem colorida do senador eleito Flávio Dino durante entrevista nos estúdios do Metrópoles. Na foto ele segura os óculos com a mão direita, sobre o rosto. - Metrópoles
Flavio Dino vai assumir a Justiça

Outro ministro anunciado por Lula que também já teve o nome ventilado entre potenciais postulantes ao Planalto é o do senador eleito Flávio Dino (PSB). Em 2019, sem a perspectiva da candidatura de Lula, o então governador do Maranhão já ensaiava os primeiros passos para concorrer à Presidência nestas eleições.

Foi à época que iniciou as tratativas a fim de migrar do PCdoB para o PSB, partido de maior projeção nacional, com mais dinheiro e capital político. Foi pelo PSB, inclusive, que concorreu e venceu as eleições para senador pelo estado.

Conhecido pela personalidade forte, Dino foi um dos primeiros ministros anunciados por Lula, e chefiará um ministério-chave do novo governo, o da Justiça e Segurança Pública. Tem como objetivo de sua gestão “consertar a pasta” e restaurar a “plena autoridade e legalidade das polícias”, referindo-se ao desempenho do atual ministro, Anderson Torres.

Marina Silva

A ex-ministra Marina Silva, usando máscara, chega ao CCBB para reuniões do Governo de Transição - Metrópoles
Marina Silva será ministra do Meio Ambiente

Deputada federal eleita pela Rede por São Paulo, Marina Silva voltará a ser ministra do Meio Ambiente 14 anos após ter deixado o cargo devido a conflitos com o PT, no segundo governo Lula. Desta vez, porém, a parlamentar chega com mais poder simbólico e real.

Num momento histórico em que as mudanças climáticas são uma pauta central no país e no mundo, Marina terá enorme visibilidade como ministra do Meio Ambiente, pois será uma espécie de embaixadora do Brasil no mundo em temas relacionados à sustentabilidade.

Para se viabilizar politicamente, porém, terá de enfrentar o desafio de reduzir o desmatamento na Amazônia, aliar proteção da natureza e desenvolvimento econômico e vencer os embates com a ala desenvolvimentista do governo.

Fernando Haddad

Futuro ministro da Fazenda do governo Lula, Fernando Haddad, fala à imprensa ao deixar o CCBB - Metrópoles
Futuro ministro da Fazenda do governo Lula, Fernando Haddad

Ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Haddad é hoje um dos principais quadros políticos do PT e homem de confiança de Lula. Em 2018, Haddad foi escolhido para substituir o presidente eleito na chapa presidencial, que estava impedido de concorrer pela Lei da Ficha Limpa.

Quando chegou ao segundo turno, Haddad não conseguiu vencer Bolsonaro, mas consolidou seu nome para uma parcela ampla da sociedade, e ficou mais conhecido nas regiões Norte e Nordeste.

À frente da Fazenda, Haddad dependerá de um bom desempenho econômico do governo para poder sonhar com nova candidatura ao Planalto, pois as derrotas na tentativa de se reeleger na Prefeitura de São Paulo e na própria disputa presidencial de 2018 pesam contra suas possíveis ambições.

Geraldo Alckmin

Imagem colorida mostra o político Geraldo Alckmin (PSB) - Metrópoles
Vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB)

Escanteado no PSDB, partido que ajudou a fundar, o vice-presidente eleito já estava se retirando silenciosamente da política quando foi resgatado para simbolizar, ao lado de Lula, uma frente ampla para enfrentar Bolsonaro nas últimas eleições. Filiado ao PSB, Geraldo Alckmin voltou aos holofotes e teve papel central tanto na campanha quanto no processo de transição, que coordenou.

Ex-governador de São Paulo por dois mandatos, Alckmin já concorreu à Presidência em 2006, pelo PSDB, mas acabou derrotado justamente por Lula, que conquistou naquele ano sua reeleição. Agora, junto ao petista, reconstrói sua história política e conquista o direito de sonhar de novo com o escritório do 4º andar no Palácio do Planalto.

A escolha de Alckmin para comandar um ministério de destaque na área econômica é uma amostra de sua crescente importância no governo petista. Para tentar viabilizar seu nome, porém, o político, que fala baixo e gosta de agir nos bastidores, terá de vencer as resistências internas do PT e de toda a esquerda, que ainda o vê com desconfiança por seu passado tucano.

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