Em 3 anos, deputado Arthur do Val nomeou apenas 2 mulheres no gabinete
Conhecido por Mamãe Falei assinou contratações de 16 servidores que atuam diretamente com ele. Hoje, dos 9 no gabinete, há apenas uma mulher
atualizado
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Após a divulgação de áudios nos quais objetifica sexualmente mulheres refugiadas na Ucrânia, o deputado estadual paulista Arthur do Val (Podemos), conhecido como Mamãe Falei, tem se defendido da repercussão negativa de suas falas.
Logo que desembarcou no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, na manhã deste sábado (5/3), o parlamentar pediu desculpas pelas mensagens, ainda que tenha reiterado “contextos diferentes” para as interpretações nas redes sociais.
A atuação dele no Legislativo, entretanto, mostra que mulheres não são tratadas de forma igualitária em seu gabinete.
Em consulta à área de transparência da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), é possível observar que as mulheres não são presença frequente na atividade do parlamentar, que ganhou notoriedade pela atuação no Movimento Brasil Livre (MBL).
Dos nove assessores lotados no gabinete dele atualmente, apenas uma é mulher. Nomeada em 22 de novembro de 2022, a secretária especial legislativa Adelina Castro Oliveira é a que contabiliza menos tempo de trabalho entre os atuais colaboradores do deputado.
Ela é uma das duas pessoas do sexo feminino que trabalharam com Arthur durante o mandato na Alesp, iniciado em janeiro de 2019.
De lá até março deste ano, foram 16 servidores nomeados para o gabinete. Além de Adelina, quem já trabalhou no gabinete do parlamentar foi Janiffer Ferreira Cabral, produtora do MBL. Segundo seu perfil no LinkedIn, ela foi admitida em agosto de 2020 e exonerada seis meses depois.
Por meio da assessoria de imprensa, o deputado pontuou que tem “um gabinete enxuto, o mais econômico da Alesp”. Ainda de acordo com o texto encaminhado ao Metrópoles, o gabinete “não tem política sexista para contratar”.
“Nossos critérios não são baseados em gênero, mas na qualidade técnica dos indivíduos. Ambas as assessoras que trabalharam ou trabalham no gabinete são excelentes profissionais”, diz a mensagem.
“É inacreditável”
Divulgada em matéria da coluna de Igor Gadelha, do Metrópoles, a autenticidade da polêmica fala foi confirmada pelo próprio parlamentar. Arthur esteve na Ucrânia para, supostamente, auxiliar na fabricação de coquetéis molotov usados pela resistência civil ucraniana contra as tropas russas, que mantêm uma invasão militar ao país há 11 dias.
Depois da repercussão dos áudios, o deputado declinou da pré-candidatura ao governo de São Paulo.
No material obtido pela coluna, é possível ouvir o deputado se referindo às mulheres ucranianas, refugiadas, como alvos “fáceis” para uma conquista sexual. “Vou te dizer: elas são fáceis porque são pobres. Minha carta do Instagram, com número de inscritos, funciona demais. É inacreditável a facilidade”, disse num dos trechos da conversa.
Em outro ponto do arquivo, Arthur comenta as pretensões de voltar ao país europeu “assim que essa guerra acabar”. O deputado estadual pelo Podemos também classificou as ucranianas como “gold diggers”, expressão em inglês usada pejorativamente para taxar determinadas mulheres como “oportunistas” ou “interesseiras”.
As mensagens foram enviadas pelo próprio deputado, conforme disse, em “um grupo privado”.