Eleições: número de policiais eleitos diminuiu em relação a 2020
Eleitores de todo o país foram às urnas em 6 de outubro para escolha dos próximos prefeitos e vereadores
atualizado
Compartilhar notícia
Os resultados das Eleições Municipais de 2024 demonstram uma queda no número de policiais, militares e civis, eleitos no primeiro turno deste ano, em comparação com o pleito de 2020. Em 6 de outubro, eleitores de 5.569 municípios foram às urnas para escolha dos próximos prefeitos e vereadores.
O levantamento do Metrópoles considerou as informações apresentadas pelos candidatos a respeito da ocupação profissional de cada um deles ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Confira a página especial sobre as Eleições de 2024
Em números absolutos, o pleito deste ano elegeu 454 policiais civis e militares. Já em 2020, o índice de membros das forças de seguranças eleitos foi de 508.
O estado de São Paulo, o maior reduto eleitoral com 34.667.793 eleitores, teve o maior número de policiais eleitos. Foram 79 candidatos que conquistaram os cargos. Seguido por Minas Gerais, com 78, e Paraná, com 73.
Já no outro ponto da balança, o Amapá teve apenas um policial eleito. Josiney Alves (PDT) foi eleito vereador para o município de Santana – a 20 quilômetros de distância de Macapá, capital do estado.
Já na divisão de candidaturas, foram eleitos 23 policiais para o cargo de prefeito, 21 para vice-prefeito e 410 para vereador, somados aqueles que conquistaram o posto apenas pelo número de votos e por quociente partidário (QP).
O QP é o resultado do número de votos válidos conquistados pelo partido dividido pelo quociente eleitoral. O total definirá o número total de cadeiras ocupadas por cada sigla em cada câmara municipal.
O partido com maior número de policiais eleitos foi o Partido Liberal (PL), do ex-presidente Jair Bolsonaro, com 74 postulantes, seguido pelo Republicanos, com 57 cadeiras e o Progressistas (PP), com 54 eleitos.
Análise do primeiro turno
Rodrigo Horochovski, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e doutor em sociologia política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), avalia que o resultado do primeiro turno é um rescaldo da eleição presidencial de 2018, que terminou com a vitória de Jair Bolsonaro. Naquele pleito, a segurança pública e o acesso a armas de fogo foram temas centrais dos candidatos.
“De lá para cá, o sistema político vem dando sinais de reacomodação combinada ao fortalecimento dos grupos políticos da direita tradicional, instalada no chamado centrão. Este fenômeno é muito visível nas capitais, por exemplo, o que recompõe o espaço para atores mais identificados com o sistema político e reduz, consequentemente, o terreno de alguns novos atores, entre os quais se encontram policiais, por exemplo. Olhando os números, a queda foi razoável, de pouco mais de 10%, mas ainda não é tão drástica. As próximas eleições dirão se isso é uma tendência”, analisa Horochovski.
O professor da UFPR reforça que os policiais têm espaço, em especial, na ala mais direitista da sociedade. No entanto, esses personagens estão perdendo espaço para novas figuras que surgem no cenário da direita brasileira, como influenciadores digitais.
“É preciso apontar que novos personagens estão entrando em cena, como, por exemplo, influenciadores digitais, que tiveram um desempenho expressivo em várias cidades brasileiras. Como este perfil é majoritariamente ocupado por pessoas de direita, o fato de eles ocuparem cadeiras desloca outros grupos dentro do mesmo espectro ideológico. É uma hipótese a ser confirmada conforme venham as próximas eleições”, salienta Rodrigo Horochovski.
Vale destacar, por exemplo, a candidatura do coach e influenciador Pablo Marçal (PRTB) à Prefeitura de São Paulo. Ele conquistou 1.719.274 votos no primeiro turno, sendo 56.853 votos a menos do que obteve Guilherme Boulos (PSol), que disputará o segundo turno contra Ricardo Nunes (MDB).
André Felipe Rosa, cientista político e professor da UDF, reforça que a eleição de policiais privilegia a própria categoria, visto que os candidatos tendem a favorecer propostas que beneficiem os membros da segurança pública.
“O policial foi eleito através de uma categoria ou de um corporativo. De certa forma, e ele precisa dar um retorno, uma resposta ao seu reduto eleitoral. Essa resposta são justamente políticas de segurança. Mas o mais interessante é que, apesar da segurança, para além disso, é uma política muito mais voltada para a saúde e bem-estar dos profissionais no trabalho, e a própria segurança, de uma forma geral, com condições de trabalho e condições jurídicas. Assim, caso este policial venha a ter algum problema, como uma intercorrência ou um excesso nas ruas, por exemplo, ele terá uma maior segurança jurídica para poder realizar o seu trabalho”, defende André Rosa.