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Supostas laranjas, candidatas chegam a gastar R$ 169 mil e obtêm só 10 votos

Postulantes contrataram empresas e advogados ligados a partidos, o que aumenta suspeita sobre candidatura laranja e desvio de verba pública

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Teste de integridade das urnas eletrônicas com biometria
1 de 1 Teste de integridade das urnas eletrônicas com biometria - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Levantamento feito pelo Metrópoles revela que candidatas nas eleições deste ano receberam quantias volumosas de partidos políticos para gastar durante a campanha eleitoral e, por fim, angariaram pouquíssimos votos. Além disso, elas contrataram empresas e advogados ligados às legendas políticas, o que reforça indícios de candidaturas laranja.

Essas postulantes a cargos de deputada estadual ou federal receberam verbas das legendas, investiram em publicidade, serviços e equipamentos, mas, mesmo assim, não chegaram nem perto de atingir votos suficientes para a eleição.

Em sua maioria, trata-se de mulheres ou pessoas que se autodeclararam negros.

A reforma eleitoral aprovada pelo Congresso no ano passado adotou novas regras em uma tentativa de incentivar que mulheres e negros ocupem mais cargos no Legislativo. Os partidos foram obrigados a preencher com pessoas do sexo feminino, no mínimo, 30% de suas candidaturas a todos os postos em disputa. No entanto, os dados trazem fortes evidências de concorrência de fachada.

Candidata a deputada estadual de Tocantins pelo PSD, Maylla do Alto Lindo, de 25 anos, gastou R$ 169 mil durante as eleições deste ano, mas obteve apenas 10 votos. Ou seja, cada voto custou, em média, R$ 16,9 mil.

Maylla Pereira dos Santos, nome completo da candidata, recebeu R$ 101,5 mil do Fundão. Ainda não está claro, contudo, qual a origem dos outros R$ 69 mil gastos no decorrer da campanha, uma vez que ela declarou não ter bens.

Entre as despesas contratadas, R$ 46,4 mil foram destinados a Wanderson José Lopes Ferreira, por serviços contábeis.

Wanderson foi contador da Prefeitura de Goiatins (TO) e, em 2016, teve mandado de prisão temporário decretado pela Operação Bagration, da Polícia Federal, que investigou organização criminosa que atuava no desvio de recursos públicos no município. Ele foi apontado como arquiteto do esquema criminoso.

Maylla também contratou, por R$ 60 mil, o advogado Franklin Dias Rolins.

Franklin defende o ex-prefeito de Goiatins Vinícius Donnover Gomes, que também foi alvo da Operação Bragation. A organização criminosa teria desviado R$ 10 milhões em recursos públicos. Além disso, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou o político por irregularidade em licitações e desvio de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

Em 2020, Vinícius Donnover Gomes tentou voltar à Prefeitura de Goiatins pelo PSD, mesmo partido de Maylla.

Procurado, Franklin se recusou a conversar com a reportagem. “Não estou autorizado a falar por telefone”, disse ele. O Metrópoles tentou contato com Maylla e Wanderson, mas não obteve retorno em um primeiro momento.

Após a publicação da matéria, no entanto, Wanderson procurou a reportagem e informou que os serviços contratados foram prestados e que o “escritório de contabilidade não pode gerar obrigação no que tange à auferição de votos a candidatos”. Afirmou, ainda, que já presta serviços eleitorais há muitos anos.

PL

Candidata a deputada federal de Roraima pelo PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, Talita Canal gastou R$ 152 mil durante a campanha, mas obteve apenas 11 votos. Nas redes sociais, ela se coloca como “empresária do agronegócio” e pede votos ao mandatário do país.

Talita recebeu R$ 200 mil da sigla. Isso significa média de R$ 18,1 mil por voto.

Desse total, R$ 50 mil foram direcionados ao escritório Jansen Victorio Sociedade Individual de Advocacia. Em conversa com o Metrópoles, o advogado Jansen Costa Victorio declarou ter sido indicado pela legenda. “Foi indicação do partido. Assim, [eles] vão indicando advogados”, disse, ao ser questionado sobre como conheceu a candidata.

Victorio não revelou, contudo, quem ele conhecia dentro do PL de Roraima. Ele pontuou que se sentiu surpreso por Talita anunciar a desistência da candidatura a cerca de uma semana do primeiro turno. “Dei todo o suporte jurídico. Tudo, tudo, tudo. Mas chega um momento em que ela desiste. Achei estranho. Não se sabe porque ela desistiu. Tanto é que, no processo de desistência dela, não fui eu que fiz. Foi outro advogado”, conta.

Talita Canal também destinou R$ 47,9 mil para C. Moreira da Silva, empresa que teria feito a montagem de estruturas metálicas para a sua campanha.

A companhia pertence a Cleber Moreira da Silva. Ele é assistente administrativo na Assembleia Legislativa de Roraima. Trata-se de um cargo comissionado. O Metrópoles ligou para o servidor. “Rapaz, o senhor tem que falar com a candidata”, disse e, em seguida, desligou o telefone.

Outros R$ 38,6 mil da campanha de Talita foram direcionados para a F D Rabelo Nascimento Eireli – montante referente à publicidade por adesivo.

Francisco Doan Rabelo Nascimento, ex-secretário de Comunicação do governo de Antônio Denarium (PP), em Roraima, é o proprietário da empresa contratada. Ele atuou na gestão do bolsonarista entre março de 2020 e março de 2021. Além disso, em 2018, foi candidato a deputado federal pelo PSL.

A F D Rabelo Nascimento recebeu, no total, R$ 223 mil nestas eleições, incluindo R$ 179,8 mil da campanha do próprio Antônio Denarium.

R$ 3,4 mil por voto

As redes sociais de Jacinta José (Podemos-MA), que concorreu a uma vaga de deputada federal, mostram alguns atos de campanha. No entanto, os números a colocam entre as supostas candidaturas laranjas. Isso porque ela gastou R$ 1,5 milhão do Fundo Partidário e obteve apenas 434 votos – o equivalente a R$ 3,4 mil por voto.

Jacinta destinou R$ 100 mil ao advogado Thiberio Henrique Lima Cordeiro. Ele também atua para os deputados Pedro Lucas Fernandes (União) e Fábio Macêdo, presidente estadual do Podemos, o partido de Jacinta José.

A candidata também destinou R$ 600 mil para a Sapere LTDA, em razão de comícios, eventos de promoção de candidatura e produção de programas de rádio, televisão ou vídeo. A sócia-administradora da empresa é Maria Bernadete Carmo Lima, denunciada em 2009 pelo Ministério Público do Maranhão (MPMA) e, em seguida, condenada no caso de “juízes fantasmas” do Tribunal de Justiça do Maranhão. Bernadete é ex-servidora da Corte e teria incluído cinco pessoas na folha de pagamento do órgão como juízes, entre 1998 e 1999. Os salários totalizaram R$ 660 mil.

A Sapere também recebeu R$ 3,2 millhões nas eleições deste ano, incluindo verba das campanhas de Pedro Lucas Andrade e Fábio Macêdo.

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