PT investe no WhatsApp, mas segue longe do engajamento bolsonarista
Campanha de Lula tenta ocupar espaços em ambiente central para a campanha do principal adversário, o presidente Jair Bolsonaro
atualizado
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera as pesquisas de intenção de voto para as eleições de outubro, mas seu principal adversário, o presidente Jair Bolsonaro (PL), vem recuperando espaço nos últimos levantamentos. Para tentar manter o favoritismo, a campanha petista tenta avançar em um campo onde o bolsonarismo domina, a disseminação de propaganda via aplicativos de trocas de mensagens, como WhatsApp e Telegram.
O quase bloqueio do Telegram no Brasil demonstrou a importância que Bolsonaro e seu entorno dão a esse tipo de ferramenta. Apesar de a própria plataforma ter reconhecido erros e pedido desculpas ao Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente da República se manifestou mais de uma vez condenando a decisão do ministro Alexandre de Moraes e mobilizou o governo para tentar reverter a suspensão.
A tarefa do petismo na esfera digital é árdua. A estratégia bolsonarista está consolidada, conta com engajamento orgânico da militância e tem raízes que remontam ao período pós-eleição de 2014, que foi vencida pela petista Dilma Rousseff. Desde então, influenciadores bolsonaristas estimulam e coordenam uma rede de sites e canais de apoio em plataformas como o YouTube, que alimentam uma capilarizada rede de grupos iniciados no WhatsApp e hoje espalhados em qualquer plataforma de mensagens ou redes sociais.
O real tamanho dessa rede bolsonarista é desconhecido. O WhatsApp, que tem mais de 120 milhões de usuários no Brasil, não divulga esse tipo de estatística. Nem os responsáveis pela estratégia digital do presidente, como o filho Carlos, têm controle sobre o universo de grupos, que operam sem depender de uma coordenação centralizada – o que também serve para afastar de pessoas ligadas ao presidente a responsabilidade sobre possíveis abusos de campanha, como a propagação de informações falsas.
Veja exemplos da dinâmica em grupos bolsonaristas acompanhados pela reportagem:
PT tem estratégia centralizada
Com a militância do campo da esquerda longe de ter a mesma capacidade de engajamento que o bolsonarismo nessas plataformas digitais, a campanha de Lula está tentando dar um “empurrão” nessa estratégia. No início de março deste ano, o PT lançou um site para distribuir material que pode ser usado em grupos de WhatsApp e Telegram, o Lulaverso.
No ambiente, é possível baixar vídeos, figurinhas e outros materiais de propaganda remetendo a um passado lulista que a campanha quer lembrar aos eleitores. O PT quer dar a seus militantes material para usar, por exemplo, nos grupos de família ou da igreja, que possam ser um contraponto às postagens dos bolsonaristas. Mas há ainda algumas dezenas de grupos em aplicativos criados pela própria campanha para tentar engajar a militância no ambiente digital.
Até a produção dessa reportagem, o Lulaverso tinha 20 grupos fechados, nos quais só administradores podem enviar material e fazer postagens, e 29 grupos abertos, que permitem interação entre os participantes. Como cada grupo no WhatsApp permite 256 participantes, no máximo, os internautas que morderam essa isca seriam pouco mais de 12 mil (lembrando que é possível um mesmo número estar em mais de um grupo).
No Telegram, onde o limite é bem maior, a campanha tinha conseguido 2,2 mil adesões no único grupo criado até agora. São números, entretanto, irrelevantes, se comparados aos dos adversários. Só no Telegram, os membros da família Bolsonaro (sem falar na militância) falam com mais de um milhão de seguidores.
O engajamento nesses ambientes lulistas, que o Metrópoles também tem acompanhado, é muito menor do que a média nos grupos bolsonaristas. Mesmo nos grupos abertos, a maioria das postagens é dos administradores, e eles restringem a possibilidade de usuários interagirem em vários momentos, como no período noturno e quando há a “invasão” dos espaços por adversários bolsonaristas.
O material postado também tem menos volume, pois os administradores se limitam a encaminhar imagens e vídeos produzidos pela própria campanha e alguns links de notícias da imprensa tradicional, sobretudo tratando da crise econômica atual e de problemas como a alta na inflação.
Postagens de sites mais ideológicos e ligados ao lulismo não apareceram, por enquanto, nos grupos acompanhados pela reportagem. Informações potencialmente falsas postadas pelos usuários, ainda que positivas para Lula, são excluídas pelos moderadores.
Os grupos do Lulaverso, portanto, são menos movimentados. Ainda assim, quando a estratégia foi iniciada, o WhatsApp identificou atividade ilegítima e bloqueou parte dos grupos – problema que, segundo a campanha, já foi resolvido.
Veja exemplos de interação nos grupos lulistas que a reportagem acompanhou:
Ciente da distância que separa as militância de Bolsonaro e Lula na estratégia nos grupos de mensagens instantâneas, a campanha petista não almeja “empatar” o jogo nesse campo, mas conquistar espaços.