PSDB mantém total de governadores para 2023, mas vê bancada encolher
Partido viu hegemonia de 28 anos em São Paulo cair. No Congresso, perdeu espaço para PL e PT, adversário antigo
atualizado
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O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) conseguiu manter, nas eleições deste ano, o mesmo número de governadores eleitos em 2018. Após terminar o primeiro turno sem nenhuma vitória consumada, neste domingo (30/10), com o resultado nas urnas, três governadores do partido foram eleitos no país: no Rio Grande do Sul, em Pernambuco e em Mato Grosso do Sul.
Em um movimento descrescente ao longo dos últimos anos, a sigla que governou o país de 1995 a 2002 e rivalizou com o PT por 20 anos enfrentou um duro baque ao se tornar “nanica” no Congresso, além de perder a hegemonia no estado mais populoso do Brasil.
No Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) conseguiu a reeleição com 57%, após desbancar o adversário Onyx Lorenzoni (PL), que somou 42% dos votos neste domingo (30). No Mato Grosso do Sul, Eduardo Reidel venceu por Capitão Contar (PRTB), com 56%.
A ex-prefeita de Caruaru Raquel Lyra será a primeira mulher a governar Pernambuco depois de vencer Marília Arraes, ex-petista e atualmente no Solidariedade. A única derrota no segundo turno ocorreu na Paraíba, onde Pedro Cunha perdeu para João Azevêdo (PSB).
A sigla tem encolhido desde 2014, quando Aécio Neves (PSDB) perdeu a eleição presidencial para Dilma Rousseff (PT) e questionou o resultado, colocando em dúvida o sistema eleitoral brasileiro pela primeira vez.
Veja o número de governadores eleitos da sigla, desde 1990:
Especialistas consultados pelo Metrópoles avaliam que, entre os motivos que levaram ao encolhimento do partido no cenário brasileiro, estão a carência de planejamento e renovação de lideranças; divergências internas na sigla e a falta de identidade da legenda, com o caso Doria.
A ascenção da ultradireita, na figura do Bolsonarismo, também é um entrave identificado no contexto atual, segundo os cientistas políticos.
Hegemonia perdida
A derrota do governador Rodrigo Garcia no 1º turno da eleição ao governo de São Paulo encerra uma hegemonia de 28 anos do PSDB no comando do maior estado do país, e colocou em xeque o futuro do partido.
Mais que uma causa do enxugamento da sigla, a derrota no maior reduto do país é uma consequência da falta de organização e renovação de lideranças do partido, segundo o cientista político Valdir Pucci.
“A disputa entre Aécio Neves e João Doria gerou uma autofagia no PSDB. A perda do governo de SP é um resultado desse fenômeno: falta de organização, brigas internas, divisão do partido. Tudo isso levou a uma não preparação da sigla para as eleições do estado. O resultado é uma consequência dessa desornganização da própria legenda”, sustenta.
Excluído do segundo turno, Garcia ficou em terceiro lugar na corrida estadual e teve o pior desempenho eleitoral registrado por um candidato tucano ao governo do estado desde 1990. Quem levou a melhor na disputa foi o ex-ministro de Bolsonaro, Tarcísio de Freitas (PL), que derrotou o petista Fernando Haddad com 55% dos votos.
Desde 1994, quando venceu com o ex-governador Mário Covas, o PSDB acumulou sete vitórias consecutivas nas urnas. A última delas em 2018, com o ex-governador João Doria, apontado por alguns tucanos como uma dos responsáveis pela crise do partido que desencadeou na derrota histórica deste domingo.
O alto índice de rejeição de Doria, seu antecessor, foi um obstáculo que Garcia não soube transpor. Ele também não conseguiu quebrar a polarização entre petistas e bolsonaristas na corrida estadual. Tanto Haddad quanto Tarcísio exploraram na campanha a popularidade de seus respetivos padrinhos políticos, Lula e Jair Bolsonaro.
A professora Janina Onuki, do departamento de Ciências Políticas da Universidade de São Paulo (USP), argumenta que “a perda é certamente o primeiro reflexo do fenômeno de esfacelamento do partido”.
“O anti-petismo que antes se apoiava nos tucanos pra garantir sua liderança, só encontrou a possibilidade de se radicalizar e ir para a extrema-direita, pois o PSDB não mais representa os ideais conservadores”, afirma.
Bancada no Congresso
Sem Tasso Jereissati (CE), que se despede do Senado em fevereiro, e o paulista José Serra, que não conseguiu uma vaga em 2022, a bancada tucana será reduzida de seis para quatro cadeiras, já que o partido não teve nenhum senador eleito no último pleito. Na Câmara dos Deputados, a legenda ocupará apenas 13 cadeiras a partir do próximo ano, menor número da história da legenda.
A polarização característica da eleição presidencial se refletiu também nas bancadas do Congresso Nacional. Partido Liberal, PL, sigla do presidente Jair Bolsonaro, elegeu 99 deputados, enquanto o PT do ex-presidente Lula ficou com 68 cadeiras na Câmara. No Senado, a legenda emplacou oito candidatos. Dessa forma, terá 14 cadeiras das 81.
Há quatro anos, em 2018, as maiores bancadas eleitas pertenciam ao PT, com 56 deputados, e ao então PSL, com 52. Na Câmara, o PSDB tinha 29 cadeiras, o que representa uma queda de mais de 55%, para as 13 do pleito em 2022. No Senado, quatro foram eleitos no último pleito — e este ano, nenhum tucano conseguiu a cadeira na Alta Casa.
A votação para o Senado ocorre a cada quatro anos, junto às eleições presidenciais. Diferentemente da Câmara dos deputados, a recomposição da Casa se dá alternando entre a renovação de um terço e dois terços de seus membros. Por isso, ao contrário de 2018, quando o eleitor votou duas vezes para senador, neste ano apenas um candidato foi escolhido, pois se trata da renovação de um terço.
Novas dicotomias
O fenômeno não é exatamente novidade na política brasileira. Em um cenário de multipartidarismo, siglas passam por crises e refundações.
Entre os exemplos, o Partido Frente Liberal (PFL) passou por um enfraquecimento, que resultou na troca de comando e na substituição da denominação anterior da legenda por Democratas (DEM), em 2017. Quatro anos depois, a sigla se uniu ao Partido Social Liberal (PSL) para formar o União Brasil (União).
A expectativa é que algo similar ocorra com o PSDB, que avalia a possibilidade de uma eventual com o Cidadania. “O próprio MDB pode ser assim colocado, praticamente dominou a política brasileira durante algumas décadas, e hoje é um partido menor, não sendo mais considerado entre as grandes legendas do Congresso”.