Por alianças, PT tenta superar fantasma do impeachment de Dilma
Partido tenta acalmar a militância para voltar a compor com personagens políticos importantes que foram contra a sigla em 2016
atualizado
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Após fechar aliança com PV, PSol e PCdoB na Federação Brasil da Esperança, o PT busca avançar agora em territórios de centro. O partido tenta ampliar acordos com siglas de espectros ideológicos mais à direita.
Entre elas está o Solidariedade, de Paulinho da Força (SP), além de siglas como PSD e Avante e parcelas do MDB. Há expectativa que esses últimos, caso apoiem Lula, só venham a compor em um eventual segundo turno.
O episódio das vaias a Paulinho da Força, durante evento sindical em São Paulo, expôs a dificuldade do PT em conseguir conversar com vozes divergentes e expandir o leque de alianças.
Para concretizar a sonhada “frente ampla”, o partido vai precisar acalmar a própria militância e buscar reconciliação com personagens políticos que estiveram na oposição, mas que já compuseram com gestões petistas no passado. O desafio é semelhante ao das últimas eleições, mas agora ele é ainda mais imperioso para impedir a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) e voltar ao comando do país.
A estratégia de deixar de lado a mágoa com os “golpistas” – como a sigla chama os apoiadores do afastamento de Dilma Rousseff – foi iniciada em 2018, mas na época o impeachment ainda era uma ferida recente.
Ao não envolver Dilma na campanha, o PT demonstra querer superar o fantasma do impeachment. Ao contrário de 2018, quando tentou uma vaga no Senado, a ex-presidente decidiu que não vai concorrer a nenhum cargo neste ano.
Uma ala do PT segue refratária à composição com defensores do impeachment, motivo que levou vaias a Paulinho da Força, mas Lula defende não restringir as conversas políticas a quem esteve com o partido na época.
A sigla tem procurado caciques do MDB, alguns dos quais apoiaram o impeachment de Dilma, em 2016, políticos de regiões estratégicas, como o Nordeste, e empresários que debandaram para o lado de Bolsonaro.
Entre eles está o ex-senador Romero Jucá (MDB-RR), que já foi líder no Senado dos governos petistas. Depois de ter perdido mandato, em 2018, Jucá pretende voltar à cena política em 2022. Os ex-presidentes do Senado Renan Calheiros (AL) e Eunício Oliveira (CE) também estão nesse grupo.
Outro exemplo é Gilberto Kassab, presidente do PSD, sigla que rachou no decorrer do impeachment e que Lula tenta atrair para sua coligação. O partido tem integrantes pró-Bolsonaro, como o governador do Paraná, Ratinho Júnior, que vai disputar a reeleição. Em função disso, Kassab deve liberar os diretórios para apoiarem o candidato que preferirem no primeiro turno.
O cientista político Leandro Gabiati, da Dominium Consultoria, analisa que uma das dificuldades do PT reside na vocação hegemônica do partido e do ex-presidente Lula. Em que pese a relevância histórica e o tamanho do partido, esse fator acaba impedindo algumas alianças, avalia.
“O PT tem essa vocação hegemônica de não querer ceder espaço para outros partidos de esquerda”, explica Gabiati. “Pela trajetória e pelo poder do partido, ele não se sente na obrigação de ceder espaços locais para fortalecer uma aliança nacional”, prossegue.
Só Alckmin não é o bastante
O PSB participou das conversas iniciais sobre a federação, mas preferiu não se coligar com o PT e outros partidos da esquerda. Isso porque houve divergências na definição das chapas estaduais. Ainda assim, o ex-governador Geraldo Alckmin, recém-filiado ao PSB, deverá ser vice na chapa encabeçada por Lula.
A composição com o ex-tucano é uma sinalização ao mercado financeiro e a segmentos liberais. Alckmin levou com ele ao PSB outros quadros do PSDB, como o ex-deputado federal Silvio Torres.
Para Gabiati, Lula tem articulado nos bastidores a fim de conseguir uma aproximação de outros partidos e segmentos, o que se converte em uma tentativa de aumentar os votos. “Ir para o centro é uma tentativa de diminuir justamente a rejeição e poder elevar o teto de votos”, explica Gabiati.
O Partido dos Trabalhadores também precisa avançar em composições com setores do empresariado e do agronegócio. Foi nesse sentido que a sigla buscou aproximação com Josué Gomes da Silva, filho do ex-vice José Alencar e atual presidente da Fundação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Parte do agro está fidelizada a Bolsonaro, mas o partido busca se aproximar do setor por meio de figuras como a senadora Kátia Abreu (PP-TO), que esteve com Dilma até o último momento no impeachment.
Ex-presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Kátia é respeitada no setor produtivo e integra o PP de Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil de Bolsonaro. Lula articula apoio a Kátia na campanha pela reeleição numa tentativa de correr por fora.
Outro segmento que Lula tem tentado retomar contato é o militar, por intermédio do ex-ministro da Defesa Nelson Jobim. Apesar de o grosso ainda estar com Bolsonaro, a possibilidade de o petista voltar ao PT abre espaço para diálogo com esses grupos.
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