Oito em cada 10 policiais dizem que vencedor nas urnas deve assumir a Presidência
Pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra alto apoio à democracia entre policiais, mas há radicalizados
atualizado
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A grande maioria dos policiais brasileiros apoia a democracia e confia no processo eleitoral. Essa é uma das descobertas de pesquisa feita em agosto deste ano pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública com profissionais de todas as forças policiais .
Os diretores da organização avaliam que o dado pode ser encarado como uma boa notícia em meio ao temor de golpe no Brasil e à proximidade das manifestações convocadas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para o Dia da Independência.
Em 2021, a adesão de PMs às manifestações bolsonaristas no 7 de Setembro provocou reação de governadores, que tiveram de agir para controlar as tropas.
Quando chegou o dia, porém, não se tornaram públicas notícias de problemas com policiais, enquanto caminhoneiros que romperam barreiras e ocuparam a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, tentaram invadir o prédio do Supremo Tribunal Federal (STF).
Para as manifestações deste ano, que Bolsonaro convocou principalmente para Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, não há registros, até agora, de mobilização expressiva de profissionais da segurança pública. “Chegamos a 80,9% respondendo que não aceitam ruptura por golpe. Essa informação é importante”, assinala Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança.
Para ele, porém, “não se pode baixar a guarda” no monitoramento de mobilizações, porque a mesma pesquisa mostrou que entre 15% e 40% dos policiais que responderam podem ser considerados radicalizados ou potencialmente radicalizáveis, a depender das características da conjuntura política e institucional. São os que não discordam ou relativizam um golpe de Estado.
“A visão golpista existe e exige cuidado, mas os dados mostram que são muitos os policiais que acreditam na democracia, até mais que na população em geral”.
Segundo o levantamento, chamado Policiais, Democracia e Direitos 2022, e que começa a ser divulgado neste domingo (28/8), para 84,5% dos policiais a democracia é preferível a qualquer outro regime de governo, percentual quase 10 pontos maior do que o revelado pelo Datafolha em pesquisa divulgada no último dia 19 de agosto de 2022, que teve como público-alvo a população brasileira adulta.
Dados da pesquisa
A pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública foi feita entre 1º e 20 de agosto deste ano, com profissionais de polícias militares, civis, científica, guardas civis, bombeiros militares, policiais federais, rodoviários federais e penais.
Formulários com 45 questões temáticas e 11 perguntas sobre o perfil profissional e social da pessoa foram enviados para os policiais que constam no banco de dados da entidade. O levantamento também foi publicado nas redes sociais, e os comandos das polícias foram contatados para a divulgação da sondagem entre seus profissionais.
Responderam 5.058 profissionais de todo o país. De acordo com os autores do estudo, “a pesquisa não tem caráter probabilístico e não é estatisticamente representativa do universo de policiais brasileiros”, mas “permite uma visão bastante poderosa de como os profissionais da segurança pública estão dispostos a se posicionar no debate nacional”.
Respeito aos direitos humanos e adesão a um golpe
De acordo com o levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 95,6% dos que responderam concordam com a frase “O povo escolher seus líderes em eleições livres e transparentes é essencial para a democracia”.
Ainda segundo os dados, 74,9% acreditam que “Os direitos humanos serem respeitados é essencial para a democracia” e 62,9% discordam de que “Quando há uma situação de crise, não importa que o governo passe por cima das leis, do Congresso ou das instituições com o objetivo de resolver os problemas”.
Só 8,8% concordam ou concordam totalmente com um governo autoritário – e 14,7% concordam ou concordam totalmente com um golpe de Estado.
O resultado que aponta entre 15% e 40% dos policiais como possíveis radicalizados ou potencialmente radicalizáveis é coerente com dados levantados por outra pesquisa do Fórum, de 2021. A sondagem do ano passado mostrou que 38% dos policiais interagem em ambientes digitais ligados ao bolsonarismo mais ou menos radical.