Mourão se filia ao Republicanos e vai concorrer ao Senado pelo RS
Vice não precisará se desincompatibilizar do cargo, mas não poderá assumir comando no Planalto nos meses que antecedem o pleito de outubro
atualizado
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O vice-presidente Hamilton Mourão filiou-se ao Republicanos, em cerimônia na sede do partido, na noite desta quarta-feira (16/3). Nas eleições deste ano, o general deve se candidatar ao Senado Federal pelo Rio Grande do Sul.
Em seu discurso, Mourão disse que não poderia “abandonar o campo de batalha” diante do que definiu como “mares turbulentos, com problemas econômicos, políticos, sanitários e sociais”. Ele ainda declarou “apoio irrestrito” à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Cheguei aqui como vice-presidente do presidente Jair Bolsonaro e ele sabe perfeitamente que tem toda a minha lealdade e apoio irrestrito ao seu projeto de reeleição, que considero fundamental para que continuemos a dar os passos necessários para dar rumo nas soluções para que o Brasil atinja o seu destino manifesto que é sermos a maior e mais prospera democracia liberal ao sul do Equador”, afirmou.
A filiação de Mourão à sigla, que é presidida pelo deputado federal Marcos Pereira (SP), ocorre em um momento no qual o Republicanos tem se afastado da base de Bolsonaro.
Questionado, Pereira disse que tem conversado com o Palácio do Planalto e com o próprio Bolsonaro sobre o apoio do partido à campanha de reeleição do atual chefe do Executivo. Segundo ele, a negociação ainda está em andamento e alguns detalhes precisam ser ajustados.
“Nós estamos conversando com o Palácio, com os ministros, com o próprio presidente [Bolsonaro]. Eu tenho muita confiança que as coisas vão se ajustar o mais rápido possível. Faltam detalhes que eu não posso — obviamente por questões estratégicas — revelar, mas que serão ajustadas e eu tenho muita confiança nisso. As conversas estão muito melhores e avançando”, afirmou.
Futuro político de Mourão
Para concorrer ao Senado neste ano, Mourão não precisará se desincompatibilizar do cargo de vice, mas não poderá assumir o posto de presidente da República interino nos seis meses que antecedem o pleito de outubro.
Segundo o colunista do Metrópoles Igor Gadelha, o general prepara uma agenda de viagens internacionais entre abril e outubro para não se tornar inelegível.
Por isso, todas as vezes que o presidente Bolsonaro viajar ao exterior nesse período, Mourão também terá de deixar o Brasil.
Em abril, Bolsonaro deve ir à República Dominicana e à Guiana. Então, o vice pretende viajar a Londres. Em outras viagens do presidente, Mourão planeja ir ao Uruguai, país vizinho ao Brasil.
Bolsonaro deve viajar para o exterior pelo menos outras duas vezes. Em junho, vai a Los Angeles, nos Estados Unidos, para a Cúpula das Américas. Em setembro, será a vez de Nova York, para a Assembleia-Geral da ONU.
Bolsonaro e Mourão
O presidente Jair Bolsonaro e o atual vice-presidente têm se afastado ao longo do governo. Em junho, Mourão chegou a dizer que “sente falta” de se reunir com o mandatário do país.
Em três anos de governo, o general e o capitão reformado do Exército têm tido vários posicionamento distintos— o que, segundo interlocutores, não tem agradado o chefe do Executivo.
Em abril do ano passado, quando Bolsonaro já dava os primeiros recados de que não iria dar continuidade à chapa em 2022, Hamilton Mourão disse que o chefe do Executivo deveria escolher outro nome, mas que Bolsonaro ainda não o havia procurado para tratar do assunto.
“Bolsonaro vai escolher outra pessoa para acompanhá-lo para a reeleição. O que tenho visto [nas] declarações de Bolsonaro é que ele precisaria de outra pessoa no meu lugar, mas ele nunca disse isso para mim”, disse à época.
Em uma das mais recentes declarações sobre o assunto, Bolsonaro afirmou que o novo vice não pode “atrapalhar”. Em outra oportunidade, o chefe do Executivo federal disse que “vice bom é aquele que não aparece”.
“A gente não está pensando em ter uma chapa para ganhar a eleição e depois não poder governar. Isso é horrível, isso é péssimo. Ter um vice que te atrapalhe. Isso é horrível”, afirmou o presidente no início do mês.
Agendas entre os dois diminuíram 85%
De acordo com um levantamento feito pelo Metrópoles, o descontentamento com o atual vice ficou evidente não apenas nas declarações do chefe do Executivo federal, mas também na agenda pública do presidente.
Os encontros entre Bolsonaro e Mourão diminuíram 85% desde o início do mandato, em 2019. Naquele ano, o presidente e o vice tiveram o maior número de reuniões durante o governo: foram oito agendas privadas e outras 27 conjuntas, com a presença de diferentes autoridades.
Em 2020, ano em que o presidente da República mais criticou seu vice e fez declarações no sentido contrário às de Mourão, houve registro de três agendas particulares entre os dois — número menor do que a metade dos encontros registrados no ano anterior. Mourão participou de outras 18 agendas conjuntas, como reuniões ministeriais convocadas por Bolsonaro.
A quantidade de reuniões entre Bolsonaro e Mourão em 2021 foi menor ainda: os dois se encontraram em apenas cinco oportunidades, sendo duas agendas privadas e três conjuntas. Neste ano, Jair Bolsonaro também deixou evidente que deve escolher outro nome para disputar uma eventual reeleição à Presidência em 2022.