Lula diz que faria Belo Monte de novo e expõe diferenças com Marina
A postura do petista pode afastar apoio da ex-ministra, que estabeleceu a “humildade” e compromisso ambiental como condições
atualizado
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato do PT à Presidência da República, disse nesta quinta-feira (23/6) que não se arrepende de ter defendido a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, e que se tivesse que tomar novamente a decisão de fazer a usina, “o faria”.
A obra é alvo de vários processos movidos pelo Ministério Público Federal, inclusive por não cumprimento de acordos firmados. Além disso, trata-se de um ponto sensível do ponto de vista político, por ser uma das posições citadas pela ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede) para declarar apoio ao petista.
“Quem é conta hidrelétrica é contra hidrelétrica em qualquer situação”, criticou Lula, em entrevista à Rádio Difusora, de Manaus.
Segundo Lula, o projeto original de Belo Monte foi reduzido em mais da metade. “Fizemos um projeto com um pouco mais de um terço do que era o projeto original, fizemos um ajuste de conduta com todos os movimentos, com índios, com ribeirinhos e com o Ministério Público”, contestou.
Lula elencou mudanças feitas no projeto na época de seu governo com o objetivo de minimizar o impacto socioambiental da hidrelétrica. Essas mudanças, no entanto, não foram suficientes para evitar a crise com Marina Silva e sua consequente saída da pasta e do PT.
“Desenvolvimento”
Lula falou ainda de suas discussões com ex-ministros da pasta ambiental em sua gestão em relação ainda à construção da BR 119, entre Manaus e Porto Velho, obra também condenada por ambientalistas e por Marina. Lula apontou que já teve muita “dor de cabeça” ao discutir o assunto com ex-ministros.
“Eu já tive muita dor de cabeça discutindo isso com a Marina, com o Minc”, disse. “Eu era favorável que se apresentasse um projeto, primeiro de preservação ambiental. A estrada já tinha existido um tempo, já tinha funcionado. Ou seja, o abandono da estrada fez com que a floresta crescesse”, relatou.
“Eu acho que, se levar em conta a preservação ambiental, fazer com que os anumais possam transitar de uma lado para o outro, fazendo espaços para isso. Você pode construir a estrada e ter um um sistema de fiscalização forte e pago pelos próprios usuários da estrada.
“O que não dá é a gente ficar impedindo o desenvolvimento de determinadas regiões, envolvendo o estado do Amazonas e Rondônia”, disse.
Marina, no caso dessa estrada, defende a construição de uma ferrovia.
Condicionantes
Em recente entrevista ao Metrópoles, Marina elencou condicionantes ambientais para declarar seu apoio a Lula, ou a outro candidato, exceto o atual presidente Jair Bolsonaro, a quem ela não considera como pertencente ao campo democrático.
Além de exigir “humildade” para reconhecer o conhecimento produzido por ONGs ambientalistas, Marina condicionou seu apoio a uma nova postura do petista.
“Essas coisas que deram certo durante a minha gestão foram graças à ação de transformar essas boas experiências em políticas públicas. Agora os candidatos terão que fazer isso também. Não é só receber apoio. Eles têm que também entender o que estão apoiando. Não podem continuar apoiando projetos como Belo Monte (construção da hidrelétrica no Pará)”, disse Marina.
Conflito
As exigências de Marina remontam aos mesmo conflitos que a fizeram abandonar a pasta, o governo de Lula e o próprio PT, partido da qual foi fundadora. Na época, Marina teve embates acalorados com a então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, em torno da construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.
A usina foi responsável pela inundação de áreas indígenas, com prejuizos socioambientais sérios na região de Altamira e da Volta Grande do rio Xingu.
Dilma, na época, venceu a queda de braço. À Marina, coube o rompimento com o partido e, posteriormente, sua candidatura à Presidência da República, em disputa com Dilma, apadrinhada por Lula – e que acabaria vencedora também nas urnas.