Eleições: Bolsonaros e PL foram alvos de 38 representações no TSE
Lula e o Partido dos Trabalhadores (PT) são acusados em 14 ações na Corte. Dados foram coletados entre janeiro e agosto deste ano
atualizado
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O clã Bolsonaro e o Partido Liberal (PL), do qual o presidente Jair Bolsonaro faz parte, foram alvos de 38 ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) neste ano.
Os dados são referentes ao período de 1º de janeiro a 29 de agosto de 2022, e foram disponibilizados ao Metrópoles pela Justiça Eleitoral. A reportagem filtrou representações que citam Jair, a esposa, Michelle, e os filhos Carlos, Eduardo e Flávio Bolsonaro, além do PL.
Qualquer partido político, coligação, candidato ou o Ministério Público podem apresentar representações ao TSE em caso de divulgação de conteúdo ilícito ou descumprimento da Lei das Eleições (9.504/1997). Cabe à Justiça Eleitoral julgar os processos e determinar medidas para coibir as infrações.
Das 38 representações contra os Bolsonaro e o PL, seis foram arquivadas. As demais estão em tramitação. Entre os membros da família, o presidente Jair Bolsonaro é o que mais aparece como alvo dos processos, sendo citado em 26 deles. Eduardo, filho do meio, é citado como foco de oito representações e Flávio, o primogênito, de quatro.
O terceiro filho do presidente, Carlos Bolsonaro, é alvo de quatro processos distribuídos, e a primeira-dama, Michelle, de uma. Além disso, o Partido Liberal, sigla da qual o presidente faz parte desde 2021, é citado em oito representações.
Entre os pedidos em tramitação movidos contra a família do presidente, há representações por propaganda eleitoral antecipada, propaganda na internet e divulgação de notícia sabidamente.
Adversários
Luiz Inácio Lula da Silva, principal adversário de Bolsonaro na corrida presidencial deste ano, e o Partido dos Trabalhadores (PT) foram alvo de 14 representações distribuídas na Corte — dessas, três foram arquivadas. O ex-presidente é citado em 12 dos processos, e a sigla, em 11.
No caso de Lula e do PT, todos os pedidos são referentes a possíveis propagandas eleitorais extemporâneas — exceto o mais recente, apresentado no fim de agosto.
Trata-se de uma solicitação de direito de resposta feita pelo PL, por discurso em que Lula chama Bolsonaro de “genocida”. O caso ainda não foi avaliado pela Justiça.
Além de Bolsonaro e Lula, Ciro Gomes (PDT) é o único presidenciável foco de representações no TSE. Trata-se de um pedido de resposta solicitado pela coligação Pelo Bem do Brasil (PP/Republicanos/PL), por críticas de Ciro Gomes às políticas econômicas e de saúde na gestão Bolsonaro. A solicitação foi negada pela Corte.
“Processo natural”
“As representações correspondem a uma natural judicialização das campanhas. O poder Judiciário é isento, e tende a julgar se as regras do jogo estão sendo cumpridas pelos candidatos ou não”, explica Renato Ribeiro de Almeida, advogado e especialista em direito eleitoral.
Desde o início do ano, o TSE recebeu 125 representações. A maior parte, 107, são relacionadas a propaganda eleitoral. É o caso de publicidades eleitorais divulgadas pelas redes sociais ou em outdoors. Na lista, também há 20 processos abertos por divulgação de notícias sabidamente falsas.
“Esse conteúdo que é considerado ilícito vai ser avaliado pelo TSE e, se necessário, retirado por força de decisão judicial. Um conteúdo que seja falso, que denigra a imagem do adversário ilegalmente, que está atribuindo a ele fatos mentirosos. Não é uma forma do TSE limitar a liberdade de expressão de candidatos. O objetivo é de que a legislação transcorra em paz”, explica o advogado.
O especialista lembrou de casos de grande repercussão neste ano, como a proibição de manifestações políticas durante os shows do festival Lollapalooza, em março deste ano.
Durante o evento, a cantora Pabllo Vittar levantou uma bandeira com o rosto do ex-presidente Lula. Outros artistas também se posicionaram favoráveis ao candidato no palco.
O ministro Raul Araújo atendeu a solicitação do PL e determinou a proibição das manifestações. Mais tarde, na mesma data, a Corte revogou a decisão porque o partido enviou informações erradas à Justiça Eleitoral, citando uma empresa sem relação com o festival.
Combate à desinformação
O envio de representações ao TSE somente pode ser realizado por partidos, candidatos ou coligações. No entanto, a população geral também pode auxiliar na fiscalização de atos ilícitos ou crimes eleitorais.
Neste ano, a Justiça Eleitoral lançou o aplicativo Pardal, que recebe denúncias de irregularidades como propaganda ilegal, compra de votos, abuso de poder econômico ou político e uso indevido das redes sociais. Até 23 de agosto, o programa já havia recebido mais de 1,3 mil denúncias de propaganda eleitoral irregular.
A advogada Laís Oliveira destaca que as ações do TSE para coibir irregularidades são de “extrema importância” para a democracia. Ela citou a criação da portaria nº 318/2022, que estabelece a Frente Nacional de Enfrentamento à Desinformação. A ação firmou parcerias com plataformas digitai8s e redes sociais para facilitar a identificação de conteúdo irregular ou fraudulento.
“Essa preocupação do TSE é extremamente importante para garantir que a população tenha conhecimento sobre os candidatos e suas propostas, evitando assim que haja uma polarização eleitoral injusta, constituída por um sentimentalismo latente – já característico do meio político – fazendo com que as decisões na hora do voto sejam tomadas de forma mais racional e alinhadas com os fatos reais”, explicou Laís.