Investida de Lula sobre tucanos históricos irrita PSDB de Doria
Para não prejudicar o governador de São Paulo, partido tentar frear pontes com o PT e deixar eventuais conversas para depois das eleições
atualizado
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Os gestos de aproximação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para com tucanos históricos tem gerado incômodo no PSDB. A cúpula atual do partido vê na busca do petista por diálogo mais uma tentativa de desestabilizar a campanha do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), ao Planalto, do que, de fato, construir pontes para que um eventual futuro governo de conciliação nacional.
Nesta semana, tucanos trataram de conter esse movimento e de tornar mais explícito o apoio do partido ao nome escolhido para a corrida eleitoral.
O senador Izalci Lucas (PSDB-DF), que coordena as tratativas para a formação de uma federação do partido com o Cidadania em torno de Doria, foi enfático ao classificar o movimento do petista como “irreal”.
“Ele está querendo desconstruir ou passar uma imagem que não é verdadeira de que alguém do PSDB está com ele”, disse o senador, ao Metrópoles.
“Vingança”
Ele ainda considerou que o movimento do ex-tucano Geraldo Alckmin, cotado para ser vice na chapa de Lula, abriu brecha para essa aproximação e evidenciou a tentativa de colocar Doria como não aceito pelo próprio partido.
“A saída de Alckmin do PSDB se deu muito por uma questão muito emocional, talvez de vingança”, avalia Izalci. “Foi uma posição totalmente irracional, incoerente. Conheço o Geraldo. Basta ver os discursos dele para saber que ele é totalmente contrário ao Lula. Ele e Lula são água e vinho”, comentou.
“Pontes”
A saída de Alckmin do PSDB e sua possível união na chapa com Lula já é considerada pelos petistas um sucesso da estratégia de “edificar pontes com aqueles que já estiveram do outro lado”, como aponta o texto de convocação de um seminário do PT, a se realizar nesta segunda-feira, no Congresso Nacional.
Alckmin saiu do partido ao qual ficou filiado por 33 anos há mais de um mês, mas ainda não anunciou seu destino. Para o PT, o melhor cenário seria o ex-governador se filiar ao PSD, partido comandado pelo ex-ministro Gilberto Kassab.
Isso serviria ao PT no resgate de outra legenda no campo do centro. “Seria a melhor estratégia”, diz o deputado federal, José Guimarães (CE), que vem trabalhando assiduamente nesta construção de alianças.
“Aventura”
Nessa junção de forças pretendida pelo PT, Lula já alcançou algumas vitórias. Uma delas refere-se à ex-petista Marta Suplicy, hoje secretária de Relações Institucionais da Prefeitura de São Paulo, nomeada pelo então prefeito Bruno Covas, que morreu em maio deste ano.
Marta deixou o partido em abril de 2015, fazendo críticas à política econômica adotada por Dilma após a reeleição. Hoje, ela resgatou sua relação com Lula e integra o núcleo mais próximo do ex-presidente.
“A Marta está com Lula e tem muita gente do PSDB que vai de Lula”, sustenta Guimarães. “Esse Doria é uma aventura para eles.”
“Movimento”
No PT, a busca por diálogo com antigos adversários históricos é executada como estratégia tanto de campanha quanto para um futuro governo, na linha da fala do próprio Lula de que ele “não pretende ser uma candidato do PT, mas de um movimento”.
“Cresce a consciência nacional de que só Lula pode liderar um processo de reconstrução do país. E, consciente do seu papel, ele já cumpre a missão, edificando pontes com aqueles que já estiveram do outro lado, mas, por nutrir valores democráticos, podem e devem estar juntos neste processo de retomada democrática do país”, diz o texto de convocação do evento da próxima segunda, assinado pela presidente do partido, Gleisi Hoffman, pelos líderes no Senado e na Câmara, Paulo Rocha (PA) e Reginaldo Lopes (MG), e pelos presidentes da Fundação Perseu Abramo e do Instituto Lula, Aloizio Mercadante e Marcio Pochmann, respectivamente.
Demonstração de apoio
Ao perceber a estratégia, o PSDB, nesta semana, tratou de agir para tentar conter o movimento. Diante da notícia de um possível novo encontro de Lula com FHC, nomes do partido trataram de enfatizar o apoio à candidatura do governador de São Paulo, em oposição à liderança do petista e do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas pesquisas de intenção de voto.
“Já tive a oportunidade de manifestar o meu apoio ao candidato governador João Doria à Presidência e que foi respaldada pelo meu partido”, escreveu FHC em uma postagem na rede social.
Já tive a oportunidade de manifestar o meu apoio ao candidato Governador João Doria à presidência e que foi
respaldada pelo meu partido.— Fernando Henrique Cardoso (@FHC) January 25, 2022
“Feliz ano novo”
Com FHC, Lula já havia feito seu dever de casa no fim do ano passado, quando telefonou ao colega tucano no Natal e no Ano Novo, desejando boas festas e convocando para o resgate da política nacional das mãos de Bolsonaro.
O tom vigente agora, entre os tucanos, é deixar as conversas para “depois da eleição”
Esse também foi o tom adotado pelo ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto (PSDB), depois de ter sido sondado pela campanha de Lula para trabalhar ao lado do presidente, como diplomata, em caso de vitória em 2022. “Sinto-me honrado como diplomata por lembrarem da minha qualificação, mas tenho compromisso com meu partido e não abro mão disso”, disse Arthur Virgílio Neto.
A mesma postura foi externada pelos ex-deputados José Aníbal e Aloysio Nunes, também alvos das costuras petistas.
Outro tucano que tem sido sondado é o ex-governador de Goiás Marconi Perillo. O PT tenta restabelecer as pontes com ele, que foi governador durante os governos de Lula. Ele, no entanto, negou já ter encontrado com o petista e também enfatizou seu apoio a Doria.