Há 4 anos, partidos hoje com Bolsonaro se uniam em torno de Alckmin
Todos os partidos que hoje formam a coligação de Bolsonaro (PL, PP, PTB e Republicanos) estavam com o então tucano em 2018
atualizado
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O mundo girou 1.456 vezes e tudo mudou na política brasileira desde o dia 26 de julho de 2018, quando o então candidato à Presidência pelo PSDB, Geraldo Alckmin, conseguiu reunir em torno de si a maior coligação daquele pleito, com nove partidos. Todas as quatro legendas do Centrão que hoje se coligam em apoio à reeleição de Jair Bolsonaro (PL) estavam com o atual pré-candidato a vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A aliança de Alckmin com o Centrão foi considerada por analistas políticos como um grande trunfo para o então tucano quando foi anunciada, com capacidade para tirá-lo de uma posição desconfortável nas pesquisas de intenção de voto e torná-lo o adversário do PT no 2º turno, desbancando o então isolado Bolsonaro, que não tinha coligação.
Formavam a coligação de Alckmin, além do PSDB, o DEM (atual União Brasil), o Solidariedade, o PPS, o PSD, o PTB, o PR (atual PL), o PP, o PRB (atual Republicanos) e o PTB. Os quatro últimos da lista estão agora oficialmente com Bolsonaro.
Esse união de partidos garantiu à campanha tucana 5 minutos e 32 segundos do tempo de rádio e televisão, quase metade do tempo total, e a maior fatia do fundão eleitoral; mas deu tudo errado. A campanha dos tucanos com o apoio do Centrão conseguiu apenas 4,76% dos votos no primeiro turno do último pleito presidencial e Bolsonaro e Fernando Haddad (PT), que substituiu Lula na cabeça de chapa, foram para o segundo turno, vencido pelo então candidato do PSL (atual União Brasil após se fundir com o DEM).
O acordo em torno de Alckmin foi costurado pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, então afastado da presidência do atual partido de Bolsonaro em consequência de sua condenação no processo do Mensalão. O então presidente do PTB, Roberto Jefferson, que depois se tornou um dos grandes aliados de Bolsonaro, disse, ao colocar seu partido na chapa tucana, que o Brasil precisava “construir pontes” e não “barreiras” e que o que era necessário erma “construtores, como Geraldo Alckmin, e não gladiadores”.
O resultado
O único sucesso da coligação encabeçada por Alckmin foi eleger a maior bancada de deputados federais: 223 deputados, 150 a mais que a segunda colocada nesse ranking, a coligação do PT, que elegeu 73 parlamentares. Já entre o primeiro e o segundo turno, porém, a maior parte desses parlamentares resolveu apoiar Bolsonaro, num movimento que pavimentou a adesão do Centrão ao atual governo.
Um deles, porém, traiu o tucano desde antes do primeiro tempo – e para o outro lado, o de Lula. Esse parlamentar é Ciro Nogueira, presidente do PP e atual ocupante de um dos principais cargos de primeiro-escalão, a chefia da Casa Civil da Presidência da República.
Ainda em julho de 2018, logo após de formalizar, como presidente do partido, a adesão à chapa de Alckmin e indicar até a candidata a vice, a então senadora Ana Amélia (RS), Nogueira disse, em entrevista ao jornal Valor Econômico, que votaria em Lula (que acabou proibido pela Justiça de se candidatar por ter sido enquadrado na Lei da Ficha Limpa).
“Temos uma aliança lá (no Piauí) com o governador Wellington Dias (PT), temos uma proximidade muito grande com o presidente Lula. Estamos esperando a definição. Se o presidente vier a ser candidato, nós votaremos no presidente Lula”, disse o atual ministro de Bolsonaro.
Depois, em agosto daquele ano, Ciro Nogueira, que era então candidato à reeleição no Senado pelo Piauí (e foi reeleito), efetivamente subiu no palanque de Haddad em Teresina e pediu votos para a chapa petista.
Era primeiro ato de campanha e Nogueira disse que a escolha petista pela capital do Piauí mostrava o “diferencial” de Lula e o “carinho” que o petista teria “pelos mais pobres” e “pelo Nordeste”.
Pelo discurso atual, porém, Ciro Nogueira não sente mais nenhuma identificação nem com Alckmin nem com Lula:
Obrigado, Alckmin, segundo melhor cabo eleitoral do presidente Bolsonaro. Sem dúvida o primeiro lugar nessa função é do Lula, mas as palavras de Geraldo Alckmin sobre o PT confirmam tudo o que temos dito. pic.twitter.com/8ASolMoaZs
— Ciro Nogueira (@ciro_nogueira) April 14, 2022
“Não me surpreende”, diz cientista político
A migração dos partidos do Centrão que apoiaram Alckmin na eleição passada para o entorno de Bolsonaro é explicada pela falta de compromisso programático das siglas no Brasil, avalia o cientista político Rui Tavares Maluf, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).
“Não me surpreende em nada esse movimento, pois não esperamos coerência programática dos partidos políticos no Brasil, a luta pelo poder é o que os move”, afirmou o especialista, em entrevista ao Metrópoles. “Não estou dizendo que vale tudo, que não há nem uma pequena aproximação com valores e programas, sobretudo na atuação parlamentar dos membros de partidos, mas estou dizendo que essa aproximação é frágil, não vai longe, não impede que pulem de um candidato para outro em um período curto de tempo”, completa ele.
“Acho que me surpreende mais o movimento pessoal do Alckmin, que deixou o PSDB e foi para o PSB ser vice na chapa de um partido com o qual ele tinha razoável diferença política”, afirmou ainda Tavares Maluf.
Nesse movimento, porém, Alckmin não conseguiu levar muitos aliados. Dos partidos de sua mega-aliança em 2018, apenas o Solidariedade marcha agora com PT e PSB, que contam ainda com PCdoB, PV, PSol e Rede na coligação.
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