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Esnobada em 2018, velha guarda da política tenta voltar à cena em 2022

Diversos políticos tradicionais que perderam terreno para o bolsonarismo em 2018 buscam reconquistar seus mandatos neste ano

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1 de 1 19_03_2022_08_42_20 - Foto: Arte/Metrópoles

Na esteira do bolsonarismo e das rupturas de paradigmas que marcaram as eleições de 2018, uma série de políticos da dita “velha política” perdeu os mandatos e submergiu nos últimos três anos. Agora, esse grupo busca reconquistar o eleitorado e retomar mandatos no Congresso e no Executivo.

Entre os caciques que planejam o retorno aos holofotes, estão principalmente políticos de diferentes matizes ideológicas que ocuparam cargos no Legislativo por anos.

Um dos que não conseguiu se reeleger em 2018 foi o então senador Romero Jucá (MDB-RR). Para não ficar de fora dos bastidores de Brasília, Jucá fundou uma consultoria política e seguiu na atividade de lobby ao longo dos últimos anos. Ele tentará reconquistar sua cadeira no Senado, onde foi líder de diferentes governos.

Outros emedebistas que pretendem retornar à cena política são o ex-presidente do Senado Eunício de Oliveira (MDB-CE) e a ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney (MDB). Do ninho tucano, Beto Richa (PSDB-PR) e Marconi Perillo (PSDB-GO) esperam retornar à cena.

Ex-governador do Paraná, Richa foi preso durante as eleições de 2018, suspeito de liderar uma organização criminosa que ordenava o recebimento de propinas de fornecedores do governo estadual. Com o desgaste, ele não conseguiu se eleger ao Senado. Perillo, que foi quatro vezes governador de Goiás e uma vez senador, deve disputar desta vez o cargo de deputado federal. Ele também chegou a ser preso acusado de corrupção.

A estratégia de Perillo e outros de concorrer à Câmara em vez de ao Senado ocorre porque em 2022 há apenas uma vaga de senador por estado em disputa, o que diminui as chances de se eleger.

Esquerda oxigenada

No campo da esquerda, a possibilidade de retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anima antigos aliados. Em 2018, com o líder condenado e inelegível, petistas perderam terreno e tiveram seu pior desempenho nas urnas em 20 anos. Agora, com a anulação de condenações de Lula pelo Supremo Tribunal Federal (STF), eles devem tentar surfar na nova onda favorável ao partido.

Ex-senador derrotado em 2018, Lindbergh Farias (PT-RJ) conseguiu um mandato de vereador em 2020 e agora deve tentar uma vaga na Câmara.

O ex-governador e ex-senador Jorge Viana (PT-AC) ainda estuda se vai se candidatar ao Executivo local ou ao Legislativo federal, mas pretende voltar ao Senado depois de ter perdido sua vaga para Márcio Bittar (MDB), aliado de Bolsonaro.

Em Santa Catarina, o petista Décio Lima busca ser o cabeça de uma frente de esquerda no estado, depois de ter amargado uma quarta posição ao governo estadual em 2018, com 12,7% dos votos.

Candidata a vice-presidente na chapa de Fernando Haddad (PT), Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) acabou ficando sem mandato. Ela pode disputar o Senado na chapa do petista Edegar Pretto, deputado estadual e pré-candidato ao governo gaúcho. Haddad, por sua vez, é favorito nas pesquisas para o governo paulista e tenta garantir ao PT a primeira gestão do governo de São Paulo.

Apoiado por Lula e Alckmin, Haddad lidera em SP com 38%

O ex-governador do Distrito Federal Rodrigo Rollemberg (PSB) se prepara para concorrer a uma vaga na Câmara ou no Senado, mas ainda não está descartada candidatura ao Palácio do Buriti. Rollemberg foi derrotado nas urnas em 2018 pelo novato Ibaneis Rocha (MDB) e não conseguiu um segundo mandato.

Outro ex-governador do DF, Agnelo Queiroz (PT) estava inelegível no último pleito, após condenação por superfaturamento nas obras do Estádio Mané Garrincha. Neste ano, ele pretende disputar um mandato de deputado federal.

Também da capital federal, o ex-deputado federal Alberto Fraga, amigo pessoal de Bolsonaro, de quem se distanciou depois da morte da esposa por Covid, não conseguiu se eleger em 2018 após denúncias de corrupção. Ao longo da atual gestão, ele chegou a ser cotado para assumir ministérios em diferentes ocasiões, mas acabou preterido.

Aborrecido com o comando do União Brasil, partido decorrente da fusão entre DEM e PSL, Fraga pretende se filiar ao PL, partido no qual Bolsonaro ingressou recentemente, para se candidatar a deputado federal. Um dos desafios de Fraga é romper o estigma de “velha política” perante o entorno ideológico do presidente.

O ex-ministro Carlos Marun (MDB-MS) avalia retornar à Câmara dos Deputados em 2022. Ele acabou não disputando a reeleição em 2018 para se manter no governo Temer. Em seguida, ocupou um cargo de conselheiro na Itaipu binacional e agora está na iniciativa privada.

Após a publicação desta matéria, Marun disse que não será candidato a deputado federal. “Se eu disputar vai ser para o Senado. Porém penso que, como temos candidato a Governador no MS, o melhor é nos coligarmos e termos Tereza Cristina ou Rose Modesto como nossa candidata ao Senado”, afirmou ele.

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Marconi Perillo (PSDB) em seu escritório em Goiânia
Eunício Oliveira (MDB-CE) foi presidente do Senado, mas não se reelegeu em 2018
Alberto Fraga foi deputado federal pelo DF e candidato a governador nas eleições de 2018
Na esquerda e atualmente sem mandato, Manuela D'Ávila (PCdoB-RS) tem apoio do ex-presidente Lula
Lindbergh Farias (PT) conversa com jornalistas
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Ex-senador Romero Jucá (MDB-RR)

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Marconi Perillo (PSDB) em seu escritório em Goiânia

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Eunício Oliveira (MDB-CE) foi presidente do Senado, mas não se reelegeu em 2018

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Alberto Fraga foi deputado federal pelo DF e candidato a governador nas eleições de 2018

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Na esquerda e atualmente sem mandato, Manuela D'Ávila (PCdoB-RS) tem apoio do ex-presidente Lula

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Lindbergh Farias (PT) conversa com jornalistas

Marcos Oliveira/Agência Senado

Inexperientes não têm vez

O cientista político André Rosa lembra que as eleições de 2018 foram muito marcadas pelo antipetismo, e que o cenário agora muda com o retorno de Lula.

“Os eleitores estavam querendo um processo de mudança e buscaram vários outsiders, alguns que nem eram tanto assim”, lembra ele. Outsiders são os candidatos que têm pouca experiência política. O próprio Bolsonaro se vendeu como player externo, apesar de ter exercido sucessivos mandatos políticos.

Na visão do especialista, a pandemia foi um fator determinante para alterar a visão contrária à política tradicional, e essa mudança deve interferir nas eleições deste ano. “A pandemia mostrou que o político inexperiente não tem vez para tocar um processo econômico difícil, como está o Brasil hoje”, justificou. Na visão dele, o pleito deste ano será mais pautado pela experiência.

Entre os outsiders que ficaram pelo caminho está Wilson Witzel, eleito governador do Rio com apoio de Bolsonaro. Acusado de beneficiar entidades para desvios de verba durante o combate à Covid-19, Witzel sofreu impeachment em 2021 e está inelegível até 2026.

Nas eleições municipais de 2020, já houve uma sinalização positiva em direção a políticos tradicionais, que estão em partidos consolidados, como PP, PL, Republicanos e MDB, e conquistaram muitas prefeituras e vagas nas câmaras municipais.

Os especialistas ressaltam que, pelo caráter personalista da política brasileira, políticos já carimbados poderão ter a preferência do eleitor. “Eu entendo que o apoio ao confortável, ao seguro, é mais fácil, ainda mais em um contexto de desemprego, de crise econômica. Inconscientemente, o eleitor tende a ir no mais familiar”, avalia Noemi Araújo, cientista política e coidealizadora da Representativa, consultoria voltada para a formação de lideranças políticas femininas.

Para Noemi, com as mudanças eleitorais – como o fim das coligações, as federações e mudanças no quociente eleitoral –, os partidos vão, por óbvio, buscar os candidatos com maior potencial de votação. Nesse sentido, a aposta em figuras consolidadas será uma via.

Ela ressalta, porém, que esse fator pode ser um dificultador da renovação:

“Isso é um problema, porque quando a gente busca pessoas novas para trazer mudança, esses novatos vão ter muita dificuldade de se colocar como opção. Primeiro, por falta de apoio político, porque ele vai precisar mostrar muito serviço para que o partido o considere.”

Entre os grupos que devem enfrentar esse desafio, associado às dificuldades para reunir recursos para bancar suas campanhas, estão mulheres, negros e indígenas, que já costumam ser preteridos nas disputas partidárias.

Outros neófitos que pretendem se viabilizar, como o empresário Luciano Hang, podem ter alguma facilidade em razão do capital político, poder aquisitivo e independência de recursos públicos, ressalta Noemi.

De Luciano Hang ao “filho 06”: saiba quem Bolsonaro quer ver no Senado

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