Enfraquecido, olavismo chega pouco competitivo para as eleições
Nomes como os Weintraub, Ernesto Araújo e Salles chegaram a sonhar com candidaturas competitivas a cargos majoritários, mas se frustraram
atualizado
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A gestão de Jair Bolsonaro (PL) como presidente do Brasil começou sob forte influência do escritor e guru Olavo de Carvalho (1947-2022), que indicou ministros de algumas das principais pastas (como Educação e Relações Exteriores) e emplacou dezenas de alunos de seu curso on-line de filosofia em outros cargos da administração pública federal.
Ao longo dos últimos três anos, porém, o radicalismo dos discípulos do guru fez com que a influência deles se tornasse instável e, há poucos meses de uma nova eleição, os “olavetes” se encontram num ponto mais baixo do giro da roda gigante política, longe da relevância eleitoral que já imaginaram para si mesmos.
Quando ocuparam cargos importantes e contavam com a simpatia pública do presidente da República, olavistas como Abraham Weintraub e Ernesto Araújo vislumbraram a chance de serem candidatos competitivos a cargos de governador e senador ou até de vice na chapa presidencial de Bolsonaro para concorrer à reeleição.
O banho de água fria veio com uma guinada nas necessidades políticas de Bolsonaro, que se afastou de aliados da ala ideológica e passou a priorizar políticos mais profissionais, dos partidos do Centrão, como seu próprio PL, além do PP e do Republicanos.
Sem espaço para sonhos maiores, nomes que não caíram em desgraça com Bolsonaro nem se enrolaram com a Justiça deverão se contentar no máximo com apoio do presidente em candidaturas para a Câmara dos Deputados.
É o caso de deputados seguidores de Olavo de Carvalho que estão terminando o primeiro mandato e vão tentar a reeleição, como Carla Zambelli (PL-SP) e Carlos Jordy (PL-RJ). A brasiliense Bia Kicis (PL) é outro exemplo. Apesar de ter capital político considerável, o plano da bolsonarista de se candidatar ao Senado pelo DF deverá ser frustrado pela força da aliança do presidente com políticos do Centrão.
Outro olavista que sonhou com uma candidatura ao Senado, mas deverá ficar como opção para a Câmara, é o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL-SP).
Candidaturas sem apoio
Em outubro, também deverão tentar a sorte nas urnas alguns olavetes que não se conformaram com a perda de influência e tentam reviver uma espécie de bolsonarismo raiz, calcado na pauta de costumes. O caminho deles, porém, não parece fácil.
Pré-candidato ao governo de São Paulo pelo PMB e um dos críticos mais ruidosos das recentes opções políticas de Bolsonaro, o ex-ministro daEducação Abraham Weintraub não conseguiu passar do 1% de intenções de voto nas pesquisas feitas até agora, bem atrás do ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos), o candidato oficial de Bolsonaro ao cargo.
Suspeito de ter sido o coordenador do “ministério paralelo” da Saúde quando começou a pandemia de coronavírus, o ex-assessor presidencial Arthur Weintraub (PMB), irmão de Abraham, pode tentar uma vaga na Assembleia paulista. Outro olavista que pretende trilhar esse mesmo caminho é o editor do site Crítica Nacional, Paulo Enéas, que se filiou ao PTB.
Longe das urnas
A fragilidade política do olavismo levou alguns ex-alunos do guru a nem considerar uma candidatura nas próximas eleições, apesar de terem tido muita exposição nos últimos anos e de contarem com grande audiência nas redes sociais. É o caso do ex-chanceler Ernesto Araújo, que também almejou uma vaga no Senado antes de ser excluído do círculo bolsonarista, e do assessor palaciano Filipe Martins, que, com dificuldade, manteve seu cargo de assessor de Bolsonaro, mas já sem a confiança e influência de outros tempos.
Olavistas que assumiram cargos de destaque no segundo escalão, como Carlos Nadalim, secretário de Alfabetização no Ministério da Educação, e Adolfo Sachsida, chefe da Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos do Ministério da Economia, também preferiram (pelo menos até agora) não tentar cargos eletivos em outubro.
Primeiro ministro da Educação e indicado diretamente por Olavo (apesar de depois ter rompido com o olavismo), Ricardo Vélez Rodrigues também preferiu seguir apenas como professor e blogueiro, sem aspirações político-eletivas.
Na mira dos tribunais
Militantes bolsonaristas que não assumiram cargos no governo, mas gozaram de grande influência e exposição na mídia, também poderiam tentar usar esse capital político em outubro, mas estão mais preocupados com seus problemas na Justiça.
A ativista Sara “Winter” Giromini formou e liderou o grupo extremista 300 do Brasil e acabou se desiludindo com Bolsonaro por achar que não recebeu apoio quando começou a enfrentar um cerco judicial. Respondendo a processos e usando tornozeleira eletrônica, ela acabou se afastando da militância política.
Já o jornalista Allan dos Santos, criador do finado site Terça Livre, nunca se afastou da militância, mas teve de fugir do Brasil para evitar ser preso por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) e não teve a oportunidade de vislumbrar seu nome em uma corrida eleitoral.
Olavo e um desejo realizado
A julgar por declarações do próprio Olavo de Carvalho ao longo do governo Bolsonaro (e mesmo antes), o afastamento de seus pupilos da administração pública e mesmo da política em geral é a realização de um desejo dele.
Dedicado a combater o comunismo e o que dizia serem variações dessa ideologia, como o marxismo cultural e o globalismo, Carvalho defendia que uma mudança no pêndulo do poder não deveria começar pela via eleitoral.
Em entrevista à BBC Brasil em 2016, o guru afirmou que, para combater a esquerda, os conservadores deveriam se concentrar em ocupar espaços não no Estado, mas “na igreja, nas escolas, nas sociedades de amigos do bairro, no clube”.
E já no terceiro mês de governo Bolsonaro, em março de 2019, o ex-astrólogo começou a jogar água no chopp dos olavetes com cargos em Brasília. “Jamais gostei da ideia de meus alunos ocuparem cargos no governo, mas, como eles se entusiasmaram com a ascensão do Bolsonaro e imaginaram que em determinados postos poderiam fazer algo de bom pelo país, achei cruel destruir essa ilusão num primeiro momento”, disse ele, na época.
“Mas agora já não posso me calar mais. Todos os meus alunos que ocupam cargos no governo – umas poucas dezenas, creio eu – deveriam, no meu entender, abandoná-los o mais cedo possível e voltar à sua vida de estudos. O presente governo está repleto de inimigos do presidente e inimigos do povo, e andar em companhia desses pústulas só é bom para quem seja como eles”, completou.
Já em seus últimos meses de vida (e com seus seguidores sem moral com os donos do poder), o autoproclamado filósofo começou a pegar mais pesado com o governo Bolsonaro. “A briga já está perdida“, disse Carvalho, em dezembro do ano passado, numa live da qual participavam Salles e Weintraub.
“O Bolsonaro não é obedecido em praticamente nada, nada. Quem manda no Brasil é a turma do STF, da mídia, do show business. Acabou. E o pessoal das Forças Armadas? Assiste a tudo isso. Só acredita em neutralidade ideológica. Ou seja, no Brasil só existem duas possibilidades: ou você é comunista ou você é neutro. Não existe direita. Existe bolsonarismo”, completou.
E Bolsonaro com isso?
O presidente da República ouviu calado as críticas de Olavo de Carvalho ao longo de seu governo, mas se afastou do escritor assim como de seus discípulos.
Em fevereiro deste ano, após a morte do guru, o colunista Guilherme Amado, do Metrópoles, revelou que os integrantes remanescentes do núcleo ideológico do governo ainda comentavam sobre como a família presidencial negligenciou o escritor em seus últimos dias de vida.
Os seguidores do extremista diziam que Bolsonaro e os filhos haviam deixado de telefonar para Carvalho e sua família e nem sequer fizeram uma visita de cortesia durante o período em que ele esteve internado no Brasil.
Quando o escritor morreu, porém, Bolsonaro decretou luto oficial no país e, assim como os filhos, publicou homenagens nas redes sociais. Na última sexta-feira (29/4), quando Olavo de Carvalho completaria 75 anos se fosse vivo, Bolsonaro lhe fez outra homenagem.
Uma homenagem meio escondida, é bem verdade: apenas nos stories do Instagram, que se apagam depois de 24 horas.
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