Encontros de Bolsonaro com empresários crescem 80% em ano eleitoral
Economia é tida como foco principal das campanhas de candidatos que irão disputar o Palácio do Planalto nas eleições deste ano
atualizado
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Fome, inflação e desemprego. Nunca a economia esteve tão em foco em uma eleição presidencial. Há um consenso entre todas as campanhas de candidatos que vão disputar o Palácio do Planalto que, se a corrupção foi o tema principal das últimas eleições, o foco deste ano é a recuperação da economia. Diante disso, Jair Bolsonaro (PL), que tentará a reeleição, tem investido em reuniões com empresários e aumentou em 80% suas agendas com o segmento desde o ano passado.
Segundo levantamento feito pelo Metrópoles com base na agenda presidencial, de janeiro a agosto de 2021, o atual chefe do Executivo federal se encontrou com empresários dos mais diversos setores em 15 oportunidades. No mesmo período de 2022, o número quase dobrou – ao todo, foram 27 agendas.
De todos os encontros com empresários registrados na agenda de Bolsonaro, o setor do agronegócio foi o que o presidente mais investiu entre 2021 e 2022. De janeiro a agosto do ano passado, houve apenas uma agenda com empresários do agro. Neste ano, foram 15.
Os eventos com o setor incluem a participação do presidente em feiras do agronegócio. Nas ocasiões, Bolsonaro costuma exaltar “o homem do campo”, agricultores e produtores rurais que impulsionaram a economia durante a pandemia.
Empresários de mais de um setor, como do segmento internacional, por exemplo, ocupam o segundo lugar dos que mais se encontraram com o presidente neste ano: 7 ao todo. Comércio (4) e indústria (2) aparecem na sequência. Veja a lista completa abaixo:
Economia no foco de presidenciáveis
O plano dos marqueteiros de campanha do presidente Jair Bolsonaro é atrair justamente o eleitorado de baixa renda, que recebe benefícios sociais. No último mês, o governo articulou – e o Congresso Nacional aprovou – a PEC dos Auxílios, que abriu caminho para o Planalto desembolsar R$ 41,2 bilhões em programas sociais em pleno ano eleitoral.
A ampliação do Auxílio Brasil para R$ 600, por exemplo, fez o núcleo de campanha de Bolsonaro comemorar o avanço, ainda que tímido, do presidente nas recentes pesquisas eleitorais.
O comitê de campanha do atual mandatário da República planeja que até mesmo a primeira-dama Michelle Bolsonaro se reúna com empresários. O encontro deve ocorrer ainda este mês, em São Paulo.
A estratégia eleitoral não se limita apenas a Bolsonaro. Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) também têm se encontrado com empresários. Para Eduardo Galvão, analista político e professor de Relações Institucionais do Ibmec Brasília, os números relacionados à economia e ao desemprego têm sido a principal preocupação dos brasileiros quando se fala em eleições.
“O próximo presidente eleito precisará trabalhar em parceria com as empresas para que de fato possa restabelecer os empregos e o poder de compra dos brasileiros. Ciente disso, os candidatos ajustam seus discursos e dão reconhecimento ao empresariado”, explica Galvão.
Rodolfo Tamanaha, professor de Ciências Políticas do Ibmec Brasília, pontua que a estratégia de campanha de Bolsonaro em focar no empresariado tem o intuito de demonstrar que o discurso político de uma gestão pró-liberal possa ser liberado.
“Essas movimentações recentes que a gente tem visto por parte do presidente Jair Bolsonaro seguem uma lógica muito tradicional das eleições do Brasil. O apoio da classe empresarial sempre é visto como um elemento muito importante”, observa.
Na última semana, Lula, que é o principal adversário político de Bolsonaro, se reuniu com empresários em evento com presidenciáveis promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Na ocasião, ele defendeu que fará uma reforma administrativa e tributária, caso eleito – o que agradou o setor.
No mesmo evento, Ciro disse que o estado de São Paulo é a sede e a saída da crise econômica que o país vivencia. Já Tebet disse a empresários que, se eleita, seu governo será parceiro da iniciativa privada. Em sua fala, ela defendeu que o Estado é aquele que garante políticas públicas, mas deve deixar a iniciativa privada produzir e gerar emprego e renda.
A participação de Bolsonaro no evento da Fiesp estava prevista, mas foi cancelada de última hora em meio à divulgação dos manifestos pela democracia. A própria federação apoiou o documento. O atual titular do Planalto tem criticado o movimento e passou a chamar o documento em defesa da democracia de “cartinha”.