Em nova estratégia, Bolsonaro estimula disputa entre militares e TSE
Além de criticar a Corte eleitoral por acordo com o WhatsApp, presidente tenta transformar em disputa a cooperação entre militares e TSE
atualizado
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O presidente Jair Bolsonaro (PL) deixou para trás a frágil trégua que vinha mantendo com o Poder Judiciário e voltou a criticar abertamente o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e seus ministros. Além de fustigar a Corte eleitoral por causa do acordo com o WhatsApp, que ele tenta reverter, Bolsonaro estimula um clima de disputa entre o órgão e as Forças Armadas, tendo como pano de fundo a organização das eleições deste ano.
A estratégia ficou evidente na última edição da live semanal que o presidente transmite nas redes sociais. Na quinta-feira (14/4), o chefe do Executivo federal acusou o TSE de “carimbar como confidenciais” sugestões dos militares para aprimorar a segurança das urnas eletrônicas e voltou a colocar em dúvida a segurança do sistema de contagem dos votos.
“Os votos que são transmitidos para Brasília vão pra uma sala secreta. A contagem tem que ser pública, mas vai para uma sala secreta. Que continue indo pra sala secreta, só que o mesmo canal que leva para uma sala secreta vai levar pra outra sala aberta, onde estarão ali as Forças Armadas, a CGU, a OAB e mais umas 10 entidades que foram convidadas também pelo então presidente do TSE, ministro [Luís Roberto] Barroso”, cobrou o presidente.
Bolsonaro deu a entender ainda que o TSE estaria resistindo a acatar sugestões das Forças Armadas em relação à segurança das eleições, e reclamou do adiamento, pela Corte, de uma reunião que havia sido pedida pelos militares, os quais, em sinergia com os anseios de Bolsonaro, estão insistindo em discutir questionamentos que enviaram ao TSE no início deste ano, e que foram respondidos em fevereiro, num arquivo com 700 páginas de anexo.
A decisão de divulgar o material foi tomada em conjunto pelo então presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, e pelos ministros Luiz Edson Fachin (atual presidente da Corte) e Alexandre de Moraes, que estará à frente do tribunal durante as eleições de outubro.
No TSE, as cobranças de Bolsonaro são vistas como uma reciclagem de polêmicas já explicadas. A Corte informa que uma reunião pedida pelos militares foi desmarcada devido a “choques de agenda”, e lembra que está marcada, para o dia 25 deste mês, reunião da Comissão de Transparência das Eleições, da qual as Forças Armadas fazem parte.
Críticas como as feitas por Bolsonaro têm circulado em grupos bolsonaristas de aplicativos, como WhatsApp e Telegram.
Veja:
Resposta do TSE
Há pouco mais de uma semana, o próprio TSE publicou, em sua página especial para rebater notícias falsas, um material sobre as novas cobranças.
“Começaram a circular informações falsas sobre as sugestões enviadas ao TSE para o aprimoramento do sistema eletrônico de votação. A mensagem que circula em vídeo afirma que o TSE teria imposto sigilo às recomendações enviadas pelo Exército para barrar o acesso de um deputado federal à documentação, que comprovaria a insegurança do sistema eletrônico de votação”, diz o comunicado.
“A alegação é totalmente enganosa”, complementa o texto, que dá a seguinte explicação:
“O TSE não determinou sigilo à documentação. Os comentários também distorcem um acontecimento para sugerir que o TSE estaria omitindo informações públicas. No entanto, ao contrário do que é afirmado, o TSE apenas negou o acesso de um único parlamentar à documentação, e não impôs sigilo às orientações recebidas. O documento não foi compartilhado com o deputado porque tramita na esfera administrativa do Tribunal e ainda será objeto de análise da Comissão de Transparência das Eleições – da qual o parlamentar não faz parte – em reunião marcada para o dia 25 de abril”.
Frente de batalha do WhatsApp
Bolsonaro também tem reclamado de Fachin, Barroso e Moraes devido a um acordo feito entre TSE e WhatsApp para que a plataforma não aplique grandes mudanças no Brasil, como a criação de grupos com milhares de pessoas, antes das eleições.
Após motociata em São Paulo na sexta-feira (15/4), o presidente criticou o acordo, que chamou de “inadmissível, inaceitável e que não vai ser cumprido”.
No dia seguinte, o presidente voltou à carga e disse que o governo deve marcar uma reunião com o WhatsApp para discutir o tema.
“Já conversei com o Fábio Faria [ministro das Comunicações]. Vai conversar com representante do WhatsApp aqui no Brasil para explicar o acordo”, disse Bolsonaro em entrevista à CNN. “Se ele [WhatsApp] pode fazer um acordo com o TSE, pode fazer comigo também, por que não?”, completou o presidente.