Em carta, deputados de Portugal citam “retórica perigosa” de Bolsonaro
No documento, divulgado neste domingo (25/9), parlamentares falam sobre os riscos à democracia e às instituições brasileiras
atualizado
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Em carta divulgada neste domingo (25/9), 24 deputados de Portugal expressaram preocupação com o que eles chamam de ameaças feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) à democracia brasileira e à transparência do processo eleitoral.
O texto foi publicado no jornal Público. Os parlamentares – majoritamente integrantes de partidos de esquerda – se dizem profundamente preocupados e citam, ainda, a proliferação de informações falsas por parte do presidente e destacam o medo de uma escalada da violência.
Os deputados começam o texto referindo-se aos ataques de Bolsonaro ao sistema de votação eletrônica. Para eles, o objetivo único é o de “disseminar desinformação sobre a legitimidade e integridade dos processos eleitorais, e atacar publicamente as entidades eleitorais independentes”.
“Portugal tem o dever de estar atento a todas as iniciativas que ameacem incitar à violência política no país e minar a integridade de seu processo eleitoral”, apontam os deputados.
Eles lembraram do encontro com embaixadores, promovido por Bolsonaro em julho deste ano, quando ele se utilizou do discurso para afirmar a “vulnerabilidade” do sistema eletrônico de evotação, mas sem apresentar qualquer prova ou indício.
“Esta não foi a primeira vez que tentou desacreditar as instituições eleitorais brasileiras. Nos últimos anos, tem promovido ativamente uma campanha que põe em causa o sistema eletrônico, atacou a imparcialidade do Supremo Tribunal Federal e do Supremo Tribunal Eleitoral do Brasil, e ameaçou que só terminaria o seu actual mandato sendo ‘preso, morto ou vitorioso'”, expõem.
Medo da violência
Diante de tantas investidas, o temor dos deputados portugueses é de que Bolsonaro não aceite entregar o cargo pacificamente, em caso de derrota nas eleições do próximo dia 2. Os parlamentares consideram “imprudente” e “perigosa” a retórica adotada pelo presidente.
“Em junho, prometeu ‘ir para a guerra’ se necessário para impedir uma eleição ‘roubada’. A 7 de setembro de 2021, exortou os seus apoiantes a atacar o Supremo Tribunal do país. O Presidente Bolsonaro apelou também às Forças Armadas para que interviessem no processo eleitoral, conduzindo uma contagem paralela dos votos, uma função constitucionalmente reservada à Justiça Eleitoral do Brasil”, acrescentam.
Os episódios recentes de violência por divergência política são um sinal, na visão dos deputados, do perigo a que os brasileiros estão sujeitos. Eles atribuem os casos fatais ao aumento da circulação de armas, promovido pelo governo Bolsonaro.
“O risco de violência política é ainda maior para candidatos de populações vulneráveis, incluindo mulheres, LGBTIQ+, indígenas, e comunidades afro-brasileiras. (…) Esta realidade é exacerbada pelo aumento dramático do número de armas em circulação no Brasil desde que Bolsonaro tomou posse, o que já levou à ocorrência de assassinatos durante o decorrer da campanha”.
A carta aberta é assinada em Lisboa pelos deputados:
- Alexandra Leitão (Partido Socialista)
- Alma Rivera (Partido Comunista Português)
- Capoulas Santos (Partido Socialista)
- Diogo Leão (Partido Socialista)
- Edite Estrela (Partido Socialista)
- Eunice Pratas (Partido Socialista)
- Francisco César (Partido Socialista)
- Inês Sousa Real (Pessoas Animais e Natureza)
- Isabel Moreira (Partido Socialista)
- Jamila Madeira (Partido Socialista)
- Joana Mortágua (Bloco de Esquerda)
- João Dias (Partido Comunista Português)
- José Soeiro (Bloco de Esquerda)
- Maria João Castro (Partido Socialista)
- Mariana Mortágua (Deputada Bloco de Esquerda)
- Nathalie Oliveira (Partido Socialista)
- Paulo Pisco (Partido Socialista)
- Pedro Filipe Soares (Bloco de Esquerda)
- Porfírio Silva (Partido Socialista)
- Ricardo Lino (Partido Socialista)
- Romualda Fernandes (Partido Socialista)
- Rui Tavares (Livre)
- Susana Correia (Partido Socialista)
- Tiago Barbosa Ribeiro (Partido Socialista)