Derrotado pela 3ª vez, Haddad terá protagonismo no governo Lula
Embora não tenha conseguido vencer o antipestimo na eleição ao governo, ex-prefeito sai fortalecido e se credencia como sucessor de Lula
atualizado
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O resultado das eleições deste domingo (30/10) em São Paulo sacramentou a terceira derrota seguida de Fernando Haddad (PT) nas urnas. Mesmo com o melhor desempenho da história do partido no estado, o ex-prefeito não conseguiu suplantar o antipestimo que ainda é forte entre os paulistas, assim como ocorreu em 2018, quando perdeu a disputa presidencial para Jair Bolsonaro, e em 2016, ao não conseguir se reeleger na Prefeitura da capital.
Mas apesar do revés diante do ex-ministro bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), recém-eleito governador, Haddad sai do pleito com mais musculatura política, com protagonismo assegurado no ministério que será montado pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e todas as credenciais para ser o candidato petista à sucessão de seu padrinho político em 2026 — Lula prometeu não disputar a reeleição.
As conversas que irão definir qual cargo será ocupado por Haddad no governo Lula só começam a partir desta segunda-feira (31/10). Até a eleição, o núcleo petista desconversava sobre assunto, com o discurso de que uma virada na disputa pelo governo de São Paulo ainda era possível, embora pouco provável. Haddad liderou todas pesquisas até o primeiro turno, quando Tarcísio ganhou por sete pontos de vantagem e consolidou o favoritismo na corrida.
Nos bastidores do QG petista, já foi especulada a indicação de Haddad para diferentes ministérios, como o da Fazenda, o do Planejamento, que Lula prometeu recriar — no governo Bolsonaro, eles foram fundidos para dar lugar ao Ministério da Economia de Paulo Guedes –, e até a volta para a Educação, pasta que ele ocupou por mais de seis anos entre os governos Lula e Dilma Rousseff.
Nas últimas semanas de campanha, contudo, Lula deu sinais de que deve indicar para a Fazenda um nome que agrade ao mercado, como Henrique Meirelles, que foi titular da pasta no governo Michel Temer (MDB) e presidente do Banco Central no governo Lula. Durante o segundo turno, Meirelles declarou apoio ao petista na disputa contra Bolsonaro e já até alinhou seu discurso aos anseios do presidente eleito, como a revisão do teto de gastos.
Sucessor natural
Petistas ouvidos pela reportagem disseram que mesmo com a derrota ao governo de São Paulo, eleição que o PT nunca conquistou, Haddad solidifica seu nome como o sucessor natural de Lula dentro do partido. Apesar de algumas críticas à estratégia adotada pelo ex-prefeito na campanha, como atacar demais o governador Rodrigo Garcia (PSDB), que acabou apoiando Tarcísio e Bolsonaro no segundo turno, a conclusão é que Haddad teve papel fundamental na vitória de Lula, prioridade que o ex-prefeito nunca escondeu.
Com o melhor desempenho da história do PT no estado (44,7%), superando o de José Genoino em 2002, que foi ao segundo turno contra Geraldo Alckmin e depois perdeu com 41,4% dos votos, Haddad ajudou a frear a onda bolsonarista que parecia se formar em São Paulo logo após o primeiro turno da eleição presidencial. Bolsonaro havia derrotado Lula no estado com sete pontos de diferença e projetava dobrar a vantagem com ajuda dos aliados tucanos. Haddad nacionalizou o debate com Tarcísio e , junto com Lula, intensificou os ataques a Bolsonaro na campanha. A diferença no segundo turno foi pouco acima dos 10% para o atual presidente.
Agora, a expectativa é de que Haddad assuma um ministério que tenha dinheiro em caixa para altos investimentos e margem para a realização de grandes projetos que realcem a diferença do governo do PT para o bolsonarismo. Com o acordo feito para o partido apoiar a candidatura do deputado federal eleito Guilherme Boulos (Psol) para prefeito de São Paulo em 2024, Haddad terá três anos e meio para construir uma vitrine que possa render dividendo eleitoral para a sucessão de Lula em 2026.