De volta à Presidência, Lula ficará só atrás de Vargas em tempo no cargo
Lula terá ficado 12 anos na Presidência quando terminar seu 3° mandato, enquanto Vargas esteve no comando do país por mais de 18 anos
atualizado
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Eleito no último domingo (30/10), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ficará atrás apenas de Getúlio Vargas em tempo ocupando a cadeira presidencial. Ao fim de seu mandato, o petista terá 12 anos de Planalto, contra 18 de Vargas.
Getúlio Dornelles Vargas nasceu em 19 de abril de 1882, no Rio Grande do Sul, e tornou-se presidente do Brasil durante a chamada Revolução de 1930. Lula chegou ao poder pela primeira vez 72 anos depois, em 2002.
O movimento que culminou na tomada de poder de Vargas começou quando o então presidente do Brasil, Washington Luís (paulista), rompeu o acordo que sustentava a República do Café com Leite no país e indicou para Presidência outro paulista, Júlio Prestes. A partir disso, os estados da Paraíba e do Rio Grande do Sul se juntaram e formaram a Aliança Libertadora, que tinha como objetivo derrubar o governo de Washington Luís e impedir que o seu sucessor assumisse o cargo.
Era Vargas
Em 1930, Vargas colocou-se como candidato à Presidência, tendo como candidato a vice o paraibano João Pessoa, que enfrentava a Revolta de Princesa Isabel, mostrando-se claramente opositor ao presidente Washington Luís. No ano seguinte, ele derrubou a Constituição Federal, o que culminou em uma revolta social e a eventual aprovação da Constituição de 1934.
No ano de 1937, Vargas derrubou a legislação novamente e instituiu o Estado Novo, com caráter centralizador e autoritário. Após anos de poder com apoio popular, em 1945, o ex-presidente viu a população se virar contra seu governo, e acabou renunciando na iminência de uma deposição.
Vargas se exilou na cidade de São Borja (RS), mas não sofreu qualquer punição ao se afastar do poder. Ele ainda contou com o apoio de grande parcela da população, e se tornou senador em 1946. Sua candidatura foi contestada no Tribunal Superior Eleitoral por ser um suposto “criminoso político” em razão dos golpes que derrubaram as constituições sob seu poder. No ano seguinte, Vargas deixou o poder e voltou a se exilar.
O ex-presidente tomou posse em 1951, pelo PDT, sucedendo ao presidente Eurico Gaspar Dutra. O governo foi cercado de polêmicas e acusações de corrupção. Em 1954, o Atendado da Rua Tonelero – em que suspeitava-se que um apoiador de Vargas teria atirado contra membros da oposição – desgastou o governo a tal ponto que o levou ao suicídio.
Era Lula
Lula assumiu o poder após três candidaturas sem sucesso, em 1989, 1994 e 1998. Em sua primeira tentativa, Lula ficou atrás apenas de Fernando Collor. Em 1994 e 1998, o petista ficou em segundo para Fernando Henrique Cardoso.
Em 2002, Lula se distanciou do sindicalismo e colocou como vice o empresário José Alencar (PL). Em 27 de outubro daquele ano, o petista foi eleito presidente do Brasil, derrotando o ex-ministro da Saúde e senador paulista José Serra (PSDB).
Em meio a escândalos de corrupção entre ministros, Lula se reelegeu em 2006 contra Geraldo Alckmin (PSDB), que é vice do novo presidente neste ano. Foram 49% votos de Lula contra 42% de Alckmin. No 2º turno, Lula teve 61% e o então tucano terminou com 39%.
Em seus mandatos, Lula garantiu avanços econômicos e sociais ao país, que lhe renderam aprovação acima dos 80%. Mas o ex-metalúrgico enfrentou graves escândalos de corrupção, com denúncias de propina assolando as principais obras e investimentos públicos. As investigações do Mensalão e do Petrolão descobriram que o governo loteava cargos em órgãos públicos e estatais. As vagas eram ocupadas por indicados de partidos aliados e, em muitos casos, faziam do patrimônio público um balcão de negócios.
Em 2017, Lula foi condenado pelo então juiz federal Sergio Moro por corrupção, e em abril de 2018, foi preso após ter a sentença do caso do triplex no Guarujá confirmada em segunda instância. Naquele ano, tentou se candidato ao Planalto mas foi barrado pela Lei da Ficha Limpa. Após 580 dias preso, foi solto e prometeu voltar ao governo.
Em abril de 2021, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou as alegações da defesa de Lula, de que ele não deveria ter sido julgado pela Justiça Federal em Curitiba, e anulou as condenações e os processos em andamento.
Em 2022, concorreu ao Planalto pela sexta vez, e, em 30 de outubro, recebeu 60,346 milhões de votos, o equivalente a 50,9% dos votos válidos. Bolsonaro teve 58,206 milhões de votos (49,1%).
Uma das semelhanças entre Lula e Vargas é esta trajetória no poder. Ambos tiveram mandatos com ampla aceitação popular, deixaram o governo, tiveram dificuldade para se recandidatar, e se elegeram com apoio da população novamente.
Estabilidade
O historiador Mateus Gamba Torres, da Universidade de Brasília, afirma que um fator decisivo que aproxima os dois governos é a experiência. Tanto Lula quanto Bolsonaro evoluíram no decorrer dos anos no poder e aprenderam a lidar com a máquina pública.
“Para a população também é uma vantagem saber o que esperar em termos de instabilidade econômica e política”, explica.
Contrário ao que aconteceu nos primeiros governos PT, no entanto, a nova gestão de Lula deve ser focado na coalizão. A chapa do petista neste ano foi formada por PT, PV, PCdoB, PSOL, REDE, PSB, Solidariedade, Avante, Agir e Pros.
Semelhanças e contradições
Entre os avanços do governo Vargas estão a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT); a formação da Aliança Nacional Libertadora (1934), de orientação comunista, e a Ação Integralista Brasileira (1932), de orientação fascista; a Revolução Constitucionalista de 1932; a Constituição de 1934.
Já do governo Lula se destacam o foco na economia, que colocou o Brasil na 6º no ranking mundial, o Bolsa Família, ProUni, Fies, Mais Médicos e a saída do país do Mapa da Fome. A gestão do petista terminou com aprovação recorde da população: 80%.
Lula e Vargas, entretanto, diferem nas políticas. Enquanto Vargas foi populista, com políticas que “apelam ao povo”, sua popularidade não era tão grande. Lula, por outro lado, se destaca pela popularidade durante todos os seus governos, mas, principalmente na parte final como presidente, não focou em políticas populistas, mas de coalizão.
Cultura política
Tanto Lula quanto Vargas se destacam como líderes políticos que conseguem captar, dentro de uma cultura política, quais são os anseios de um povo. “Eles conseguem pensar como pensa o povo em um determinado ponto e propor medidas que sejam adequadas”, explica Torres.
Assim, mesmo com a evolução da cultura de política, esses líderes transformam as vontades do povo em discurso e, possivelmente, em propostas. Isso angaria um grande apoio da população para o governo.
Outra característica deste governo é a moderação no discurso de Lula, tanto em 2002 quanto neste ano. “Ele percebeu que não adianta ter um discurso tão à esquerda porque a população não vai aprovar o que ele vai propor”.