De vigílias a passeatas: como atuam os evangélicos que apoiam Lula
Com apoio de pastores de todo o país, o QG petista tem trabalhado para melhorar popularidade de Lula entre evangélicos
atualizado
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A chamada “guerra santa” se tornou um dos marcos das eleições presidenciais de 2022. Nos últimos meses, as campanhas de Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT) têm traçado estratégias voltadas aos eleitores religiosos para conquistar votos.
Na equipe de Lula, o esforço principal é chegar aos evangélicos, grupo no qual a popularidade do ex-presidente é menor. Com apoio de pastores de todo o país, o QG petista tem trabalhado para melhorar o cenário até o segundo turno das eleições.
A pesquisa Datafolha mais recente aponta Lula em vantagem entre os católicos. De acordo com o último levantamento do instituto, divulgado em 14 de outubro, o ex-presidente tem 57% das intenções de voto neste grupo, contra 37% de Bolsonaro. Entre os evangélicos, no entanto, Bolsonaro lidera a corrida, com 65% das intenções de voto, ante 31% de Lula.
O esforço da campanha petista pela conquista dos votos evangélicos tem sido dificultada pela disseminação de fake news. As mentiras são diversas: publicações nas redes sociais alegam que, se eleito, Lula pretende fechar igrejas, legalizar o aborto e perseguir cristãos.
A propagação de fake news foi revidada por apoiadores do ex-presidente. Nas últimas semanas, grupos petistas compartilharam imagens de Bolsonaro em visita a uma loja maçônica. Fotos manipuladas mostravam o presidente ao lado de imagens ligadas ao satanismo e diziam que o mandatário teria prometido “entregar o Brasil a satanás” caso fosse eleito.
Evangélicos com Lula
Criada em agosto deste ano, a rede Evangélicos com Lula é um braço da campanha petista destinado apenas para a comunicação com os religiosos. Os perfis nas redes sociais e grupos no WhatsApp e Telegram divulgam, diariamente, vídeos com trechos de versículos bíblicos, além de desmentir informações falsas sobre o ex-presidente.
Os grupos também são utilizados para organizar vigílias de orações e compartilhar material “educativo” sobre como conversar com os “irmãos” sobre o plano de governo de Lula.
A rede é coordenada pelo pastor Luís Sabanay, ministro ordenado desde 1991, com atuação há 32 anos na Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.
“As organizações e militância evangélica, por iniciativa própria, se organizam em comitês populares, nas atividades de distribuição de materiais, nas redes sociais e no dialogo em suas igrejas locais”, explica o religioso, em entrevista ao Metrópoles.
A cartilha Vira Voto Evangélico é um dos exemplos de material criado pelo grupo. O documento lista sete dicas para tentar conquistar o voto de eleitores religiosos. Entre as orientações estão: “fale sobre o que dói”, “estabeleça uma conexão” e “dê o seu testemunho”.
Além do site Evangélicos com Lula, a campanha também criou a página Restitui Brasil, que pede o fim da “violência, do ódio e do medo”, com base em princípios bíblicos. A rede também convida os evangélicos a participarem de um “relógio de oração” pelo país.
“O presidente Lula tem lembrado em suas falas do texto bíblico de Mateus 20: ‘Jesus foi um faminto, estrangeiro e sem teto’. Todas as vezes que acolhemos famintos, estrangeiros e sem teto, é como se estivéssemos acolhendo o próprio Jesus”, consta na página.
Veja a cartilha Vira Voto Evangélico
Ecl – Vira Voto Evangelico_compressed (2) (1) by Rebeca Borges on Scribd
Vigílias, passeatas e contato “cara a cara”
Na véspera do primeiro turno das eleições, em 1° de outubro, o grupo Evangélicos com Lula mobilizou uma vigília de orações de 24 horas por “um governante que tenha ouvidos atentos às dores dos enfermos”.
Além do grupo de oração, pastores têm promovido passeatas. Em Salvador, por exemplo, dezenas de evangélicos participaram de ato em apoio a Lula e Jerônimo (PT), candidato ao governo da Bahia, na última semana. As imagens viralizaram nas redes sociais. Veja:
Passeata Evangélicos com Lula em Salvador:
Estou OBCECADO pela instituição Evangélicas com Lula. pic.twitter.com/nyrKEQWlOj
— smell like mc naninha spirit irma (@jadecamilaaaa) October 13, 2022
Apesar da grande mobilização da campanha de Lula nas redes sociais, o trabalho que faz diferença, na opinião do pastor Filipe Gibran, é o contato cara a cara. O religioso ministra na igreja Comuna do Reino, em Belo Horizonte (MG).
Para Filipe, a mobilização on-line não chega à maior parte do público evangélico, “que é periférico, de ‘quebrada'”, avalia Filipe. Esse é um dos motivos pelos quais a rejeição deste grupo a Lula segue alta, opina o pastor.
“A mobilização no nosso campo é muito mais corpo a corpo que na internet. Na internet a narrativa já foi ganha, a fake news impera, o ambiente fundamentalista religioso comanda a internet”, avalia.
O líder ressalta que tem conversado com a comunidade fora do púlpito: “A gente mantém o nosso compromisso de não misturar igreja e Estado. Não assumimos nenhum viés partidário no púlpito, mas no corpo a corpo temos alertado as pessoas sobre o perigo do fascismo, do neonazismo e sobre como isso não tem relação com a espiritualidade cristã”, explica Filipe.
Para o pastor de Minas Gerais, a campanha do presidente deve investir mais em ações in loco, com objetivo de criar uma relação de confiança com os fiéis.
Repressão
Uma das dificuldades encontrada pelos evangélicos apoiadores de Lula tem sido a repressão. Em alguns casos, a perseguição ocorre dentro das próprias igrejas. Segundo Filipe, em Belo Horizonte, um grupo pequeno de 20 pastores tem incentivado a candidatura de Lula.
“Os poucos que atuam têm sofrido perseguição, têm sido mandados embora, estão perdendo membros nas suas igrejas. O ambiente fundamentalista conservador está tão grande, que, a cada apoio que a gente dá, significa uma perda. Somos poucos, e esses poucos estão constrangidos”, opina Filipe.
Uma das estratégias utilizadas por pastores que apoiam Lula é a fiscalização de casos de perseguição a religiosos que declararam voto ao petista. Nas redes sociais, a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito disponibiliza um canal de denúncias sobre casos de intolerância. Inaugurado na última quarta-feira (12/10), o canal recebeu 30 denúncias em apenas dois dias.
“Já foram cerca de trinta contatos de pessoas que contam histórias das igrejas, o assédio a pastores através do púlpito ou até mesmo casos da própria liderança ligar para os seus membros e pedir votos a em Bolsonaro. A gente vai ter um escritório que vai ajudar a gente a avaliar se é possível encaminhar as denúncias junto ao sistema Pardal, do Tribunal Superior Eleitoral”, explicou Marcelo Santos, integrante da Frente, em entrevista ao Metrópoles.