De intérprete de Libras a ex-Abin: bolsonarismo tenta renovação
Após rompimentos com antigos aliados, o grupo se reorganizou e pretende lançar, nas eleições de 2022, membros do segundo escalão do governo
atualizado
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Depois de romper com figuras que foram fundamentais na campanha de 2018 ou no governo, como o general Carlos Alberto dos Santos Cruz e os irmãos Weintraub, o presidente Jair Bolsonaro (PL) agora tem incentivado a candidatura de uma nova leva de bolsonaristas. A lista inclui desde o intérprete oficial da Presidência de Língua Brasileira de Sinais (Libras) até o ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
São auxiliares que trabalharam no governo ao longo dos últimos anos, a maioria em cargos de segundo escalão e longe dos holofotes. Esse grupo deve disputar cargos eletivos pela primeira vez. Seguindo o encalço de Bolsonaro, o caldo de pré-candidatos se filiou recentemente ao PL de Valdemar Costa Neto.
Entre eles, estão ex-secretários de ministérios – autoridades que, por vezes, acabaram chamando mais atenção que os próprios titulares das pastas. Dois dos estreantes nas urnas são Mario Frias, ex-secretário especial de Cultura, e André Porciuncula, ex-secretário nacional de Incentivo e Fomento à Cultura. Eles devem se candidatar à Câmara dos Deputados.
O ex-global Mario Frias é bolsonarista desde 2018, mas chegou ao governo em 2020. Tanto ele quanto Porciuncula seguem o roteiro do grupo de apoiadores do presidente, o que inclui o hábito de se envolverem ativamente em polêmicas nas redes sociais. Para o pleito de outubro, eles apostam na continuidade das investidas contra a Lei Rouanet e outros mecanismos de financiamento público para profissionais da cultura, além de ataques à classe artística.
A nova leva de bolsonaristas inclui ainda outros ex-galãs da TV Globo, a exemplo dos atores Felipe Folgosi e Thiago Gagliasso, irmão do também global Bruno Gagliasso, com quem está rompido por divergências políticas. Ambos se filiaram ao PL e devem disputar os legislativos estaduais do Rio de Janeiro e de São Paulo, respectivamente.
Jorge Seif, ex-secretário de Aquicultura e Pesca e “queridinho” de Bolsonaro, disputará uma vaga no Senado pelo PL de Santa Catarina, possivelmente na chapa do senador Jorginho Mello, que vai se candidatar ao governo estadual.
Outro nome é o do advogado e empresário Bruno Roberto, filho do deputado federal paraibano Wellington Roberto – presidente estadual do PL e aliado de Bolsonaro. O primeiro suplente será Tercio Arnaud Tomaz, assessor especial do presidente próximo de Carlos Bolsonaro e integrante do chamado “gabinete do ódio”.
Já o intérprete de Libras da Presidência da República, Fabiano Guimarães, tem o apoio da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Ele vai disputar uma cadeira de deputado federal pelo Republicanos do Distrito Federal. Fabiano deve investir na pauta defendida pela primeira-dama, em especial a inclusão de pessoas com deficiência.
Alexandre Ramagem, cuja nomeação para o comando da Polícia Federal (PF), em 2020, acabou suspensa, também se filiou ao PL e vai disputar um mandato de deputado federal pelo Rio de Janeiro.
Recentemente, mesmo quando ainda estava no cargo de diretor-geral da Abin, Ramagem passou a se expor mais nas redes sociais e manifestou publicamente suas opiniões acerca de diversos assuntos, como a guerra na Ucrânia.
Ramagem chefiou a equipe de segurança do então candidato à Presidência na campanha eleitoral de 2018, depois do atentado sofrido em Juiz de Fora (MG). Desde então, ele se tornou próximo do chefe do Executivo.
Outros dois assessores pessoais de Bolsonaro apostam na proximidade com o mandatário para suas campanhas à Câmara dos Deputados: o ex-tenente do Exército Mosart Aragão e o ex-sargento do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Max Guilherme. O primeiro vai tentar uma vaga por São Paulo, e o segundo, pelo Rio de Janeiro.
Ambos ficaram conhecidos por acompanharem de perto o presidente em agendas externas em Brasília e em outras cidades. Sem trajetória política, os “papagaios de pirata” apostam na proximidade pessoal com Bolsonaro para viabilizar suas candidaturas.
Recém-filiados ao partido do presidente, os assessores podem permanecer nas funções até o dia 2 de julho, três meses antes das eleições, diferentemente dos ministros de Estado, cujo prazo para desincompatibilização encerrou-se em 2 de abril.
Conhecida durante a CPI da Covid como “Capitã Cloroquina”, a ex-secretária do Ministério da Saúde Mayra Pinheiro completa a lista e vai disputar uma vaga na Câmara pelo PL do Ceará. A ex-auxiliar do governo defendeu enfaticamente medicamentos sem eficácia comprovada para tratamento da Covid-19. Para sua campanha, ela se ampara no “jeito Bolsonaro” de enfrentar a pandemia.
Ministros outsiders
Além desse grupo que vai disputar cargos no Legislativo, Bolsonaro também tem investido em seus ministros menos conhecidos, os chamados outsiders (como são chamados os candidatos que têm pouca experiência política). Esses ex-auxiliares devem concorrer nas eleições pela primeira vez em 2022 e têm como principal ativo eleitoral a experiência no governo Bolsonaro.
Entre eles, estão Tarcísio Gomes de Freitas (PL), ex-ministro da Infraestrutura e pré-candidato ao governo de São Paulo; Damares Alves (Republicanos), ex-ministra da Mulher e que estuda candidatura ao Senado ou à Câmara pelo Distrito Federal; e Gilson Machado (PSC), ex-ministro do Turismo e pré-candidato ao governo de Pernambuco.
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