Como funciona a produção de jingles em uma campanha eleitoral
Na era das redes sociais, produtoras investem em versões de hits e oferecem até dancinha no TikTok
atualizado
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Os jingles têm papel fundamental no marketing de um candidato durante a campanha eleitoral. Algumas canções já são consideradas clássicas, como o “Varre, varre, vassourinha”, de Jânio Quadros e o “Lá, Lá, Lá, Lá, Lá, Brizola”, da campanha presidencial de Leonel Brizola, em 1989. Anos depois, as músicas viraram elemento quase obrigatório na corrida e, agora, adquirem nova roupagem na era das redes sociais, ganhando até dancinha no TikTok.
Em uma rápida pesquisa, é possível encontrar centenas de empresas que oferecem o serviço de produção dos jingles, nos mais variados ritmos: do funk ao gospel, sertanejo ou axé. Em alguns casos, as músicas são feitas em até 48 horas. Outra estratégia é oferecer versões pré-prontas, geralmente paródias de músicas já famosas. Nesse sentido, dominam os pedidos hits virais de artistas como Zé Felipe, Pedro Sampaio, Barões da Pisadinha, Gusttavo Lima e Nathanzinho.
No entanto, os jingles mais buscados são aqueles inéditos, ou seja, feitos de acordo com o briefing de cada candidato. Esse são, também, os mais caros. Enquanto uma paródia pode custar R$ 600, os inéditos chegam a até R$ 2.000.
A preferência dos clientes por esse tipo de canção está na capacidade de personalizar o conteúdo a ponto de gerar uma identificação entre o candidato e o eleitor. “Quando a gente produz um jingle para que ele exploda, viralize, e fique na mente das pessoas, a gente tem que criar músicas que representam o eleitor, e não o candidato, porque é o eleitor que vai viralizar essa música”, explica Yago Silva, especialista em marketing digital e dono da Mundial Mídia Studio, produtora de jingles da Paraíba.
Com as redes sociais, as empresas se adaptaram ao novos formatos e passaram a oferecer, além das músicas, a produção de vídeos e coreografias. “O TikTok revolucionou o mercado musical como um todo e, na questão de jingles políticos, não é diferente”, pontua o empresário.
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A valorização dessa estratégia nas redes pode ser percebida pela postura dos presidenciáveis. O candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), investiu cerca de R$ 700 mil para impulsionar a música Capitão do Povo, que embala a campanha, no YouTube. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PDT) também destinaram parte de seus recursos em anúncios de jingles nas redes.
No entanto, a campanha de rua, em carreatas e passeatas, ainda é um dos maiores meios de propagação das canções. “O segredo está na divulgação do jingle. Quanto mais as pessoas ouvirem, mais chiclete fica”, destaca Ramon Quadros, proprietário da Jingles Online, do Rio Grande do Sul. Segundo ele, cerca de 70% das produções neste ano foram músicas inéditas.
Características
Sandra dos Santos, coordenadora do Observatório da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel), explica que os jingles desempenham diferentes funções dentro de uma campanha eleitoral. Uma delas é a de facilitar a memorização dos nomes e números de urna dos candidatos. Outro ponto é que eles destacam atributos do postulante, do governo ou de suas propostas.
“Se ele é um candidato jovem, dinâmico, ou outra coisa, tudo vai estar embutido ali na letrinha daquele jingle. Então, traz características, tem um tom emocional para convencer a pessoa, para ir direto no coração”, explica dos Santos.
A pesquisadora também observa que as músicas podem funcionar como um fio que liga o candidato a determinado grupo de pessoas. A exemplo, um presidenciável que apresenta diferentes versões de um jingle dependendo a região do país. Um sertanejo no Norte, um forró no Nordeste, e por aí vai.
“O jingle também tem essa característica de querer chegar mais próximo, trazer o eleitor para dentro da campanha. A partir do momento que ele sai cantando uma música ou fica com aquilo na cabeça, vai se envolvendo cada vez mais no período eleitoral. Isso é importante.”