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Com piora econômica e reprovação alta, Bolsonaro muda mira para 2022

Eleito em 2018 com apoio do mercado financeiro, Bolsonaro agora deve focar na agenda conservadora e se vender como trava à volta do PT

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Tânia Regô/Agência Brasil
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1 de 1 1_tnrgo_abr_2810186521-6399143 - Foto: Tânia Regô/Agência Brasil

A menos de 10 meses do primeiro turno das eleições gerais, o presidente Jair Bolsonaro (PL) enfrenta altos índices de reprovação devido à sua atuação durante a pandemia de Covid-19 e tenta reverter a deterioração econômica em pleno ano eleitoral. Entre as estratégias para viabilizar seu projeto de reeleição em 2022, Bolsonaro — que se elegeu em 2018 se vendendo como outsider da política e sem vínculos com setores tradicionais da economia — aposta na ampliação do leque de alianças com o Centrão, na reformulação do Bolsa Família, na concessão de benefícios a setores econômicos e em reajustes para categorias do funcionalismo público.

De 2019 para agora, os principais indicadores econômicos do país pioraram consideravelmente (veja detalhamento abaixo), levando o mercado financeiro a abandonar a confiança irrestrita no ministro da Economia, Paulo Guedes, principal esteio do bolsonarismo na campanha de 2018.

No cenário que se desenha, em que Bolsonaro não vai mais poder se vender como uma novidade nem tampouco prometer mundos e fundos no campo da economia, o postulante à reeleição mudou a mira e deve voltar a apostar nas pautas conservadoras. Sem a veia liberal vendida no último pleito, e com menos de um terço do eleitorado fidelizado, a principal confiança agora é na venda de sua imagem como trava à volta do PT ao poder.

A estratégia é pública e já foi vociferada por Bolsonaro em várias ocasiões durante conversas com apoiadores no “cercadinho” do Alvorada e em entrevistas a canais amigos. Na quinta-feira (6/1), ele repetiu que o PT “quase quebrou” a Petrobras durante o tempo em que governou o país. “E parte da população quer reconduzi-lo à cena do crime”, reclamou.

Bolsonaro também deve voltar a explorar o atentado à faca que sofreu em 2018 e que na última semana lhe rendeu uma nova internação em São Paulo. Opositores esperam que o presidente use o episódio e suas consequências em momentos-chaves da campanha.

O colunista Igor Gadelha, do Metrópoles, apurou que aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) trabalham com a hipótese de que Bolsonaro não participará dos debates eleitorais durante a campanha deste ano. Espera-se que Bolsonaro candidato volte a justificar eventuais ausências nos debates com uma orientação médica.

Em entrevista concedida em novembro de 2021 ao jornalista Luís Roberto Lacombe, Bolsonaro disse que até topa participar dos debates em 2022, mas sob a condição de não tratar de sua vida particular. O presidente não quer debater com adversários temas relacionados à família e a amigos.

Quatro anos depois

Bolsonaro terá poucos resultados econômicos para apresentar de seus quatro anos de mandato. Da inflação à taxa de juros, do desemprego ao câmbio, o governo assistiu a uma piora nos indicadores macroeconômicos. Para se contrapor a esse cenário, será alegado que isso foi motivado, em grande medida, pela pandemia, que surpreendeu governos do mundo todo e causos prejuízos econômicos globais — embora em intensidade menor em grande parte do planeta.

Nessa esteira, Bolsonaro deve seguir batendo na tecla de que não adotou medidas restritivas de governadores e prefeitos e vai se isentar da responsabilidade por questões como o aumento do desemprego e da fome.

Diferentemente de 2022, quando o ocupante da cadeira presidencial será um dos principais personagens da disputa eleitoral, em janeiro de 2018 Michel Temer (MDB) entrava em seu último ano de mandato já como “pato manco”, termo empregado pela classe política para se referir a político que perde capital e tem cada vez menor poder no horizonte. Com um presidente que não tinha intenção de disputar cargos, a campanha eleitoral acabou antecipada e as articulações se iniciaram bem antes do período regular.

Naquela época, o emedebista se recuperava de acusações de corrupção e de uma greve dos caminhoneiros que causou aumento nos preços dos alimentos. Seu apoio aos candidatos foi mínimo.

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Temer passa faixa presidencial a Bolsonaro em 2019
O ex-presidente da República Michel Temer (MDB)
Jair Bolsonaro e seu vice, Hamilton Mourão
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Ministro Paulo Guedes

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Temer passa faixa presidencial a Bolsonaro em 2019

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O ex-presidente da República Michel Temer (MDB)

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Jair Bolsonaro e seu vice, Hamilton Mourão

Hugo Barreto/Metrópoles

Apesar de promessas feitas por Guedes e Bolsonaro ao longo de 2018, o país chega ao quarto ano de mandato da atual gestão em situação pior do que quando começou. Veja abaixo um apanhado dos principais indicadores:

1. Inflação

A inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), havia ficado em 2,95% em 2017. Na época, o governo ainda sofria com o impacto da greve dos caminhoneiros. Mesmo assim, a alta dos preços ficou dentro da meta estabelecida pelo Banco Central para 2018, que era de 3% a 6%.

Atualmente, sem greve dos caminhoneiros, mas com uma nova onda da Covid-19, a inflação oficial do país chegou a 10,74% nos últimos 12 meses. A tendência é de que o indicador feche 2021 acima de 10%. O resultado será divulgado na próxima terça-feira (11/1).

O Banco Central já informou que as chances de a inflação extrapolar o teto da meta são de 100%. O centro estabelecido pelo governo para o ano de 2021 é de 3,75% (de 2,25% até 5,25% é considerado dentro da meta). Quando a inflação supera o teto, o presidente da autarquia precisa escrever uma carta pública, endereçada ao ministro da Economia, explicando as razões para o IPCA não ter atingido a meta. Campos Neto será o sexto líder da instituição a ter que fazer isso.

2. Juros

No início de 2018, a taxa básica de juros (Selic) estava em 7%. No fim do governo Temer, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central entregou ao ministro Paulo Guedes a Selic em 6,5% ao ano. A taxa foi mantida por seis decisões seguidas e começou a cair, chegando a 2% ao ano em outubro de 2020, seu menor nível desde que o Copom foi criado, em 1996.

A partir de março de 2021, entretanto, os juros voltaram a subir. Em sua última decisão, em dezembro, o Copom decidiu aumentar a taxa Selic em 1,5 ponto percentual, elevando o índice de 7,75% para 9,25% ao ano. A sétima alta consecutiva eleva o indicador ao maior patamar em pouco mais de quatro anos – em julho de 2017, a Selic estava em 10,25%.

3. Desemprego

A taxa média de desocupação estava em 12,3% no ano de 2018, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua).

Neste ano, segundo os últimos dados do IBGE, o desemprego no Brasil atingiu 12,6% no trimestre móvel de agosto a outubro, o que representa queda de 1,6 ponto percentual (p.p.) na comparação com o trimestre de maio a julho de 2021, quando ficou em 13,7%. Em relação ao mesmo trimestre móvel de 2020 (14,6%), o recuo é de 2,5 pontos percentuais.

O resultado ainda é distante do indicador que aguardava Guedes quando assumiu sua cadeira na Esplanada dos Ministérios.

4. Dólar

No último pregão de 2017, o dólar comercial fechou em alta de 1,95%, cotado em R$ 3,31. Já em 2018, após a vitória de Bolsonaro, fechou o ano cotado a R$ 3,88, valorização de 16,94% no acumulado do ano.

Na época, investidores estavam de olho nas movimentações do futuro governo de Jair Bolsonaro, que prometia fazer um pente fino nas decisões tomadas no governo Temer e trabalhar para reduzir o déficit primário.

Em 2019, o dólar subiu menos que no anterior, 3,5%, cotado a R$ 4,01. Já em 2020, a alta foi de 29,33%, e a moeda ultrapassou a barreira dos R$ 5.

Na esteira disso, em 2021, o dólar encerrou com alta anual pela quinta vez seguida contra o real. Com o resultado do último pregão do ano, a moeda americana valorizou 7,47% em relação à brasileira.

5. Bolsa de valores

Mesmo diante da insegurança econômica promovida pela greve dos caminhoneiros, o principal indicador da bolsa brasileira, a B3, fechou em alta de 26,86% no último pregão de 2017, aos 76.402 pontos.

No ano de 2018, a alta foi de 15%: com 87.887 pontos. Após meses de volatilidade, em meio às eleições no Brasil e preocupações com o cenário externo, o Ibovespa encerrou no azul pelo terceiro ano seguido.

A bolsa registrou alta de 31,6% no ano de 2019 (aos 115.645 pontos) e de 2,92% em 2020, mesmo em meio à pandemia da Covid-19 (aos 119.017 pontos).

Já em 2021, o Ibovespa fechou o último pregão do ano aos 104.822 pontos. Ao longo de 2021, o índice perdeu 11,93%. Esta foi a primeira vez que a bolsa de valores brasileira encerrou o ano no vermelho desde a recessão de 2015, quando acumulou perda de 13,3%.

Pesquisas eleitorais

Além de adaptações na persona que vai ser apresentada ao eleitorado dentre de pouco menos de 10 meses, Bolsonaro também já iniciou a artilharia contra os institutos de pesquisa, alegando que os levantamentos não previram sua eleição em 2018 (veja abaixo um apanhado das pesquisas).

Apesar de terem apontado a vitória de Lula, com a troca por Fernando Haddad, os institutos atestaram crescimento contínuo de Bolsonaro.

Pesquisas de janeiro daquele ano mostravam o ex-presidente Lula na dianteira. Segundo levantamento divulgado em 31/01/2018 pelo Datafolha, o petista tinha 37% das intenções de voto, seguido por Jair Bolsonaro (então no PSL), com 16%, e Geraldo Alckmin (ex-PSDB), com 7%. Em simulações de segundo turno no início do ano, Lula vencia Bolsonaro por 49% a 32%.

Mais próximo das eleições, o último Ibope antes do primeiro turno contabilizou 41% para Bolsonaro, que de fato foi ao segundo turno com 46,03% dos votos. Na segunda votação, ele bateu Haddad por 55,13% a 44,87%. Preso em abril daquele ano, o petista só deixou a cabeça de chapa em setembro.

O último levantamento referente às eleições de 2022 realizado pelo Datafolha, em 16/12/2021, aponta que Lula tem 48% das intenções na simulação de primeiro turno, ante 30% de Bolsonaro. Lula agora possui chances de vencer a disputa ainda em primeiro turno. Em uma eventual segunda votação, Lula tem 59% das intenções de voto, ante 30% de Bolsonaro.

Bolsonaro e seus auxiliares seguem ironizando as pesquisas. “Tem que ter o ‘Datapovo’ aí”, disse o presidente em dezembro.

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