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Com apelo antissistema, Janones incomoda presidenciáveis mais famosos

Deputado mineiro em primeiro mandato, que diz não ser de direita nem de esquerda, alcança empate técnico com João Doria em pesquisas

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Reprodução/Facebook/Andre Janones
O deputado federal André Janones (Avante-MG)
1 de 1 O deputado federal André Janones (Avante-MG) - Foto: Reprodução/Facebook/Andre Janones

Um deputado federal em primeiro mandato e que ficou em segundo lugar na única eleição para o Executivo em que já se candidatou (à prefeitura de Ituiutaba, em 2016) está colhendo resultados melhores nas pesquisas de intenção de voto para o pleito presidencial deste ano do que nomes com muito mais peso político.

Trata-se de André Janones, do minúsculo Avante. Ele constrói sua influência política principalmente nas redes sociais. Aposta na esperança de vestir o figurino de candidato que vem “de fora” do sistema e se torna competitivo em eleições majoritárias, uma figura que não é incomum na história eleitoral brasileira.

Na mais recente pesquisa XP/Ipespe, divulgada na última sexta-feira (6/5), Janones ficou no quinto lugar, com 2%, à frente de pré-candidatos de partidos grandes e tradicionais, como Simone Tebet, do MDB (1%), e Luciano Bivar, do União Brasil, que nem chegou a pontuar. Esse mineiro de Ituiutaba, que já foi cobrador de ônibus e depois virou advogado e influenciador digital, ficou um ponto percentual atrás de João Doria, do PSDB, mas já esteve numericamente à frente do ex-prefeito e ex-governador de São Paulo em outros levantamentos.

A força que Janones mostra nessa pré-campanha, apesar de não ter estrutura para se promover ou alianças com outras forças políticas, é fruto do posicionamento público que ele assume, avalia Amanda Vitoria Lopes, que é doutoranda no Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB).

“Há uma parte do eleitorado que resiste aos políticos tradicionais, profissionais, e Janones, apesar de já ter exercido um mandato, se apresenta como alguém de perfil diferente, como uma terceira via mais palatável para esse público”, afirma ela, em entrevista ao Metrópoles.

“Além disso, ele tem um público muito grande nas redes sociais, e as usa muito bem. Sabe escolher temas de grande apelo popular, como fez com o Auxílio Emergencial em 2020, e foca muito em direitos, em denunciar injustiças. Se coloca, em resumo, como um nome antissistema. E isso tem apelo”, completa a cientista política.

Fenômeno das redes

Janones virou uma celebridade virtual após a primeira derrota eleitoral. Apesar de ser advogado, ele se destacou como um dos porta-vozes das reivindicações dos caminhoneiros na grande greve de 2018. Suas lives diretamente de pontos de bloqueio em rodovias eram vistas por milhares de pessoas, e Janones se consolidou como nome forte para as eleições legislativas daquele ano. Foi eleito deputado federal com 178 mil votos dos mineiros.

Sua presença nas redes é tão grande que, de acordo com um levantamento da consultoria Bites, Janones ultrapassou Eduardo Bolsonaro (PL-SP) como parlamentar brasileiro com mais seguidores em plataformas como Facebook e Instagram. Ele é seguido por 11,5 milhões de perfis em suas redes, contra 10,1 milhões do filho 03 do presidente Jair Bolsonaro (PL).

A maior fatia desses seguidores está no Facebook: 8 milhões. Na mesma rede, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera todas as pesquisas, é seguido por 4,9 milhões de pessoas. Bem à frente dos dois está o presidente Bolsonaro, seguido por 14 milhões de internautas no Facebook, mas Janones pode se orgulhar de constantemente alcançar mais visualizações em suas transmissões ao vivo do que Bolsonaro, que faz sua tradicional live todas as quintas.

Segundo um levantamento feito pela revista Piauí em agosto do ano passado, Janones teve 34,6 milhões de interações no Facebook quando estava promovendo a ampliação do Auxílio Emergencial, com média de 1,1 milhão de interações por dia. Bolsonaro, no período, tinha 21,7 milhões de interações, com média de 700 mil por dia.

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O deputado André Janones discursa na Câmara
Post do deputado André Janones (Avante-MG), anunciando participação em debates
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Deputado e presidenciável André Janones, em frente a seu gabinete, na Câmara

Evandro Éboli - Metrópoles
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O deputado André Janones discursa na Câmara

Najara Araujo/Câmara dos Deputados
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Post do deputado André Janones (Avante-MG), anunciando participação em debates

Reprodução - redes sociais

Sem caminho fácil

Apesar de seus números permitirem uma quase euforia – pelo contraste com nomes já consolidados –, Janones tem um caminho difícil pela frente para não terminar a eleição como nanico, avalia o cientista político Rui Tavares Maluf, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).

“Janones representa a ideia da novidade nessas eleições, e, num primeiro momento, atrai eleitores frustrados com os políticos tradicionais. Mas essa pode ser uma preferência baseada em muito pouca informação, em desconhecimento. E ainda não estou convencido que o eleitorado de fato já esteja muito atento ao processo eleitoral. Acho que o interesse vai crescer num contínuo entre junho, julho e agosto. Só então nós saberemos se ele será relevante”, afirma o acadêmico, que também vê no interesse por candidatos “antissistema” um sintoma de fragilidade dos partidos no Brasil.

“Ele é um espelho de um país que não consegue formar partidos sólidos, capazes de agrupar e representar os interesses da sociedade. Nesse cenário, projetos personalistas sempre conseguem algum espaço”, afirma Tavares Maluf, que dá como exemplos o próprio presidente Bolsonaro, que se elegeu por um partido pequeno e sem estrutura em 2018, e Fernando Collor, que estrelou roteiro parecido em 1989.

Janones é de direita ou de esquerda?

Segundo o próprio pré-candidato, nenhuma ideologia o define. “Ora você precisa buscar soluções à esquerda, ora à direita”, costuma declamar ele, quando perguntado sobre o assunto. O parlamentar busca convencer seus eleitores de que “problemas reais” precisam ser abordados sem paixões ideológicas, o que o leva a criticar tanto Bolsonaro quanto Lula.

Passado petista

Apesar do discurso, André Janones foi filiado ao partido de Lula entre 2012 e 2015 e só saiu de lá quando foi se candidatar a prefeito, em 2016 (então, pelo PSC). Em entrevista concedida ao UOL em fevereiro deste ano, o parlamentar explicou sua saída do PT dizendo que percebeu que a legenda funcionava como “uma seita”, e isso o deixava desconfortável.

“Que você estando ali teria que ter uma cartilha, seguir por aquela cartilha. ‘Quero votar tal matéria, defendo tal ideal’, mas se o partido não vota aqui, você não pode ir por esse caminho”, disse ele.

Na mesma entrevista, após tentar escapar da pergunta, Janones admitiu que, caso fique fora do segundo turno e tenha de escolher entre Lula e Bolsonaro, provavelmente irá optar pelo ex-companheiro de partido. “O que eu posso dizer é: Jair Bolsonaro não é uma opção de voto. Eu não considero Jair Bolsonaro uma opção. Então, não é ‘optaria pelo Lula’. Lula e Bolsonaro no 2º turno, Lula é candidato único, na minha concepção de política.”

Virando vidraça

Um dos trunfos de Janones nessa campanha, na opinião da cientista política Amanda Vitória Lopes, é ser ainda um político “sem desgaste”. “Ele usa acusações conhecidas para atacar seus adversários, e, pela posição que ainda ocupa, não é atacado de volta”, explica ela.

A projeção recente, porém, já começa a lhe tirar dessa posição. Em janeiro deste ano, o colunista Guilherme Amado, do Metrópoles, noticiou que Janones foi denunciado à Procuradoria-Geral da República por um ex-assessor, que o acusava da prática de rachadinha, a apropriação ilegal de parte dos salários de funcionários comissionados. Na época, o deputado disse desconhecer o caso. Procurado esta semana, Janones não atendeu aos chamados da reportagem.

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