Boric defende “reação conjunta da América Latina” a “golpe” no Brasil
Presidente do Chile, constantemente atacado por Bolsonaro, disse à revista Time que o continente deve reagir para impedir possível golpe
atualizado
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O presidente do Chile, Gabriel Boric, defendeu que a América Latina “tem que reagir em conjunto para colaborar na prevenção” a um possível golpe de Estado no Brasil. Em entrevista à revista Time, publicada nesta quarta-feira (31/8), Boric foi questionado sobre a possibilidade de o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), não aceitar os resultados das eleições de outubro.
Bolsonaro tem aparecido em segundo lugar nas principais pesquisas de intenção de voto, atrás do ex-presidente Lula (PT).
Perguntado sobre o que faria para apoiar a democracia brasileira, o presidente chileno defendeu atuação conjunta do subcontinente e saudou a Carta em Defesa do Estado Democrático de Direito, elaborada por juristas e pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FDUSP).
Veja a resposta de Boric:
“Foi muito esperançoso ver a carta de São Paulo, que tem um milhão de assinaturas a favor da democracia, com a transversalidade dos signatários de [vários setores da sociedade e da política]. Foi um sinal poderoso da sociedade civil brasileira. Se houver uma tentativa como aconteceu, por exemplo, com a Bolívia [em 2020], onde se acusou de fraude que não foi, e um golpe de Estado foi validado, a América Latina tem que reagir em conjunto para colaborar na prevenção”.
Assim que foi eleito, o chileno disse que, claramente, ele e Bolsonaro são muito diferentes. Ex-líder estudantil, Boric atuou como deputado e foi um dos fundadores da coalizão política Frente Ampla. No pleito que o elegeu, teve o apoio do Partido Comunista e de uma coalizão de siglas de esquerda.
Boric derrotou José Antonio Kast, tido como “Bolsonaro do Chile” e defensor declarado do ex-ditador Augusto Pinochet.
Chile convoca embaixador brasileiro
Na segunda-feira (29/8), o governo chileno convocou o embaixador brasileiro em Santiago para prestar esclarecimentos após as falas do presidente Bolsonaro sobre o chefe do Executivo chileno, durante o debate presidencial de domingo (28/8).
Na ocasião, Bolsonaro acusou o líder do Chile de atear fogo em metrôs durante as manifestações no país, em outubro de 2019. “Lula também apoiou o presidente do Chile também, o mesmo que praticava atos de tacar fogo em metrôs lá no Chile. Para onde está indo nosso Chile?”, questionou o atual presidente do Brasil.
A chanceler do Chile, Antonia Urrejola, classificou as declarações de Bolsonaro como “inaceitáveis”, e afirmou que elas “não condizem com o trato respeitoso que se deve aos chefes de Estado, tampouco com as relações fraternas entre os países latinoamericanos”.
“Consideramos essas acusações gravíssimas. Obviamente são absolutamente falsas e lamentamos que em um contexto eleitoral as relações bilaterais sejam aproveitadas e polarizadas por meio da desinformação e das notícias falsas”, disse, em comunicado.
O governo chileno, segundo a chanceler, está “absolutamente convencido de que esta não é a maneira correta de fazer política quanto se trata de dois chefes de Estado democraticamente eleitos”. Ela classificou a relação de Bolsonaro e Boric como “respeitosa, apesar da diferença ideológica”.