Bolsonaro festeja economia, enquanto tenta se afastar de crise no MEC
Desemprego e dólar em queda garantiram boas notícias a Bolsonaro nos últimos dias; desgaste veio com ação do PL e acusações de corrupção
atualizado
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A economia tem dado sinais de melhora mesmo com o cenário internacional incerto. A pandemia de Covid no país dá sinais de que o pior já passou. As pesquisas registram diminuição da rejeição e melhora nos índices de intenção de voto. Os últimos dias garantiram ao presidente Jair Bolsonaro (PL) uma esperança de reverter o favoritismo atual do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder constante das pesquisas, na briga pelo Planalto.
Nem tudo, porém, foram alegrias para o atual chefe do Executivo federal. Viu o escândalo de favorecimento a pastores na distribuição de verbas do Ministério da Educação e uma atrapalhada ação do seu partido para censurar artistas no festival Lollapalooza atrapalharem o momento favorável.
Nos últimos dias, o Brasil registrou queda no desemprego – que, embora ainda alto, chegou ao menor nível desde 2016 – e viu o valor do real se valorizar frente ao dólar. Os indicadores deram um alento ao governo. Agora, a torcida no governo e na campanha de Bolsonaro é para que a melhora de indicadores não seja apenas passageira. Eventuais decisões equivocadas internas e a manutenção da guerra entre Rússia e Ucrânia são variáveis que podem destruir o bom momento bolsonarista, avaliam analistas.
No aspecto positivo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nessa quinta-feira (31/3) que, no trimestre de dezembro a fevereiro, a taxa de desemprego baixou para 11,2%. Ao todo, o país tem 12 milhões de desempregados. No mesmo período de 2021, a taxa estava em 14,6%, e a população desocupada somava 14,9 milhões de pessoas.
O resultado recém-revelado representa o menor patamar para o período desde 2016. A renda média, entretanto, caiu 8,8%.
Além disso, a alta no preço das commodities e os juros altos pressionam a queda do dólar, que tem ficado abaixo de R$ 5 nos últimos dias.
Bolsonaro, contudo, não tem motivos só para comemorar. A queda de Milton Ribeiro no Ministério da Educação, por exemplo, gerou impacto negativo e dias de notícias ruins para a imagem do governo. A investigação que apura a suposta atuação de pastores na pasta, com direito a denúncias de propinas até em barras de ouro, criou um escândalo, a sete meses do pleito, envolvendo justamente um dos pilares do apoio ao presidente, os evangélicos, e a imagem de gestão sem corrupção.
A Polícia Federal investiga indícios dos crimes de corrupção passiva, tráfico de influência, prevaricação e advocacia administrativa. O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu abrir inquérito para apurar as denúncias.
Outro problema foi a repercussão negativa do pedido do partido de Bolsonaro para que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinasse a proibição de manifestações políticas durante os shows do festival Lollapalooza, em São Paulo.
O ministro Raul Araújo acatou o pedido, mas depois recuou e cancelou a decisão, quando o PL, pressionado pela imensa reação negativa, desistiu do processo. Tudo surgiu porque a cantora Pabllo Vittar levantou uma bandeira com a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante apresentação na sexta-feira (25/3).
Análise
O cientista político Ricardo Caldas, professor da Universidade de Brasília (UnB), sustenta que a guerra na Ucrânia traz efeitos positivos e negativos, como o aumento da venda de petróleo nacional por conta das sanções contra a Rússia, mas também a inflação dos alimentos por causa das restrições impostas na venda do trigo. É inevitável que esse panorama mexa com o humor do eleitor.
“Muitos investidores resolveram retirar os recursos do Leste Europeu e aplicar na América Latina. Os dólares saíram do Leste Europeu e vieram para cá”, avalia o professor, em tom de otimismo.
O preço das commodities, ele explica, está subindo em efeito cascata. “Eu acredito que essa crise gera oportunidades para o Brasil. A venda do petróleo vai aumentar”, alega.
Caldas prevê que a inflação dos alimentos só tende a cair quando ocorrer um cessar-fogo na guerra da Ucrânia. O professor, contudo, avalia de maneira otimista o que chamou de situação privilegiada das reservas internacionais preservadas, exportação de petróleo e a segurança jurídica do país para investidores.
Comportamento de Bolsonaro
O cientista político Rui Tavares Maluf, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), analisa que a situação política do governo vai sacudir as eleições. Ele ressalta que a conduta de Bolsonaro, que ele considera “atípica”, tem interferência direta na consolidação da campanha.
“O processo eleitoral gera insegurança econômica por ter um grande espaço de discurso do que virá a ser feito a partir de 1º de janeiro de 2023”, frisa.
O professor acredita que as perspectivas positivas podem se dissipar a depender do prolongamento da guerra na Ucrânia.
É consenso entre os cientistas políticos que uma economia equilibrada facilita a reeleição. Por enquanto, Bolsonaro comemora a reação que vem mostrando nas pesquisas eleitorais. Os últimos levantamentos divulgados têm registrado estreitamento da distância entre o atual chefe do Palácio do Planalto e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na última pesquisa PoderData, por exemplo, Bolsonaro chegou a 38% das intenções de voto, enquanto Lula lidera com 50%. A vantagem do petista, agora em 12 pontos, vem indicando tendência de queda. Em janeiro, a diferença era de 22 pontos no mesmo instituto.
A economia foi fator determinante no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016. Antes disso, ela enfrentou dificuldades para se reeleger em 2014 por causa da crise que começava.
Câmbio favorável
O economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE), é categórico: a guerra puxa para cima o preço de produtos e serviços, mas o dólar está em um bom momento.
Braz explica que as cadeias produtivas já vinham comprometidas por causa da pandemia de Covid-19. “É um cenário pautado pela incerteza. O segundo semestre dependerá das condições melhorarem, como a guerra cessar, os embargos [contra a Rússia] ficarem mais amenos, as eleições e desaceleração mais rápida da inflação”, conclui.
Ele salienta: “O cenário é de cautela. A inflação deve ser mais persistente do que a gente imaginava. Não há garantias de que a nossa moeda vai continuar se valorizando em comparação ao dólar”.