Bolsonaristas usam tiroteio em Paraisópolis para atacar Lula e o PT
Perfis de filhos do presidente e de deputados aliados a Bolsonaro fazem exploração política do episódio, ainda em investigação
atualizado
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As investigações sobre o tiroteio que deixou um homem morto em Paraisópolis, em São Paulo, no momento em que o candidato Tarcísio de Freitas (Republicanos) fazia ato de campanha nesta segunda (17/10) ainda estão começando. Em entrevista horas após o caso, o secretário de Segurança do estado, general João Camilo Pires de Campos, não deu ênfase para a possibilidade de atentado político, apesar de dizer que nenhuma hipótese foi afastada.
Antes mesmo dessa declaração, no entanto, perfis importantes do bolsonarismo já faziam uma exploração política do episódio, atacando (em alguns casos até responsabilizando) o PT e o candidato do partido à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
A deputada federal reeleita Carla Zambelli (PL-SP), por exemplo, usou as redes sociais minutos após o tiroteio para destacar palavras de Lula no debate do dia anterior com o presidente Jair Bolsonaro (PL), quando o petista comemorou conseguir fazer campanha em favelas, em referência à visita ao Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, na semana anterior.
“Porque, em uma comunidade, o candidato ao governador de São Paulo não consegue sequer passar perto porque existe muito tráfico ali dentro?”, questionou ela, em vídeo.
“Um candidato de direita, e aconteceria o mesmo com Bolsonaro. Enquanto o Lula consegue entrar dentro de um complexo, numa boa em uma comunidade em que existe muito tráfico de drogas, e o Tarcísio não consegue nem chegar perto?”, continua ela, que oferece uma resposta para a própria pergunta: “Porque o PT tem diálogo cabuloso com [facções] e com todo o tráfico de drogas no Brasil e na América Latina”.
Filho do candidato à reeleição para presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) postou nas redes sociais a foto de um fuzil pintado com as iniciais de uma facção criminosa e a sigla CPX, que virou arma na campanha bolsonarista após Lula usar, no Alemão, um boné com essas três letras.
Até mesmo o candidato Jair Bolsonaro (PL) usou a sigla para atacar Lula no debate da Band, no domingo (16/10), mas, ao contrário do que propagam os bolsonaristas, as letras são uma sigla para Complexo [do Alemão, no caso], expressão largamente usada pelos moradores do Rio de Janeiro, e não um código identificado com o crime.
Flávio Bolsonaro escreveu: “Infelizmente, alguns locais onde o tráfico tem influência não aceitam que candidatos que não têm acordo com eles tentem melhorar a vida dos moradores da região. Mas Lula consegue fazer campanha onde [facção] atua”.
Deputado federal eleito, Mario Frias (PL-SP) também usou suas redes para politizar o episódio: “Em 2018, Bolsonaro sofreu um atentado (…). Hoje, Tarcísio sofreu um atentado. Seria uma mera coincidência?”, questionou.
A senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF) também chamou o episódio de “atentado” em postagem nesta segunda.
Veja postagens de bolsonaristas sobre o tiroteio no local onde Tarcísio fazia ato de campanha:
Bolsonaro evita politização
O próprio presidente Jair Bolsonaro foi mais contido do que os aliados ao comentar o tiroteio em conversa com jornalistas em Brasília.
“Recebi um telefonema do Tarcísio, algumas imagens também. Tudo é preliminar ainda, então, eu não quero me antecipar”, disse Bolsonaro. “Se foi uma ação contra a equipe dele, se foi uma ação isolada, se algum conflito já estava havendo na região. Então, seria prematuro eu falar sobre isso”, completou o presidente, no Palácio do Alvorada.