Após crise, Lula chama antigos petistas para comando da campanha
Partidários do ex-presidente temem saída de Franklin Martins após queda de braço na contratação de marqueteiro
atualizado
Compartilhar notícia
A crise na comunicação da pré-campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o clima de apreensão gerado pelas pesquisas que indicam uma diminuição da diferença entre o petista e o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) obrigaram o núcleo em torno de Lula a se ampliar, chamando petistas históricos para também colaborarem de forma mais efetiva a partir de agora.
Encontros estão marcados para esta terça-feira (26/4), com a inclusão de mais um nome no núcleo de campanha: trata-se do ex-ministro Gilberto Carvalho, que chefiou o gabinete pessoal de Lula no Palácio do Planalto e, até o momento, estava alijado de todas as decisões da campanha.
Carvalho começará agora a se interar dos passos do petista, até então conhecidos apenas pelo restrito grupo comandado pela presidente da legenda, Gleisi Hoffmann). Até então, o ex-ministro, que esteve ao lado do petista durante todo o governo, não tinha acesso nem mesmo à agenda do pré-candidato, muito menos das costuras políticas.
Nesta segunda-feira (25/4), reuniões ocorreram em São Paulo, nas quais se juntaram ao entorno de Lula o senador Jaques Wagner (BA), o ex-governador do Piauí Wellington Dias e o deputado Reginaldo Lopes (MG), pré-candidato ao Senado em uma aliança com o PSD, do ex-prefeito de Belo Horizonte (MG) Alexandre Kalil.
“Insatisfação retumbante”
A exclusão de Carvalho do centro de decisões vinha gerando críticas de petistas mais antigos, inconformados com a blindagem a Lula.
Na última visita do petista a Brasília, Carvalho chegou a avisar a Lula que estaria a sua disposição para contribuir com o que fosse preciso. Foi a partir dessa conversar que Lula o chamou para a reunião que ocorrerá no Instituto Lula.
“Há uma retumbante indignação de todas as correntes do PT com a ausência de Gilberto Carvalho na campanha”, disse ao Metrópoles, um quadro do partido, em reservado.
Para alguns petistas ouvidos, a blindagem partiu do próprio ex-presidente, que confiou a poucos a condução da campanha. Entre os primeiros chamados por Lula estavam apenas Gleisi, José Guimarães, Paulo Teixeira, Aloizio Mercadante, Luiz Dulci, Paulo Frateschi e Márcio Macedo, este último como única pessoa da confiança de Lula para desempenhar a função de tesoureiro da campanha.
Macedo, no entanto, assumiu um mandato na Câmara e quer tentar sua reeleição como deputado federal. Isso, na avaliação de petistas, inviabilizaria os planos de dar a ele essa função.
Problemas e atritos
A chegada de mais nomes não ameniza os urgentes problemas que podem surgir no horizonte do petista. Um deles refere-se à comunicação. Um dos pontos temidos hoje é a possibilidade de que o chefe da comunicação da campanha, o jornalista Franklin Martins, deixe a função devido aos atritos na contratação da empresa responsável pela produção de peças publicitárias e vídeos.
Franklin havia insistido na manutenção do contrato com a MPB, do empresário Augusto Fonseca. O jornalista, no entanto, perdeu a queda de braço com o chefe da comunicação do PT, Jilmar Tatto, que defendeu o cancelamento do contrato com Fonseca e conseguiu emplacar o publicitário Sidônio Palmeira, dono da empresa Leiaute. Ele foi responsável pelas campanhas de Fernando Haddad em 2018 e por campanhas petistas na Bahia, como a de Wagner e a de Rui Costa.
Segundo petistas ouvidos, o valor superior a R$ 40 milhões cobrados por Fonseca foi a gota d’água, diante de uma realidade de poucos recursos do fundo partidário para a pré-campanha, agora que a lei não permite mais arrecadação de recursos privados.
“Essa coisa do Franklin também está chata demais. Acho que corre o risco de ele sair, pelo temperamento dele”, disse um petista ouvido em reserva pelo Metrópoles.
“Julgamento” de Dilma
Outro ponto de reclamação comum entre petistas refere-se ao alijamento da ex-presidente Dilma Rousseff da campanha. Um ex-ministro de Dilma disse ao Metrópoles, também em reservado, que o tratamento dado à ex-presidente se assemelhava a um “julgamento”.
“A ausência da Dilma dá a impressão de julgamento. Ela deveria estar mais presente”, reclamou.
Dilma esteve ausente inclusive do encontro de Lula com as mulheres do partido em março, evento que foi organizado justamente quando a ex-presidente havia viajado ao Chile para representar o PT na posse do presidente eleito daquele país, Gabriel Boric.
Um dos petistas ligados a Lula justificou que a ex-presidente tem contribuído com as questões internacionais por ela ter muito respeito fora do país, mas não negou a avaliação de que a presença dela na campanha mais atrapalha que ajuda.
O encontro de mulheres com Lula, organizado pela secretaria de Mulheres do partido, também não convidou ex-ministras petistas, que foram responsáveis por feitos como a implementação dos mecanismos garantidores da Lei Maria da Penha e de políticas de empoderamento feminino.
Uma das não convidadas foi a deputada federal Iriny Lopes (PT-ES), ministra das Mulheres durante o governo de Dilma.