Após 2018, voto agora será de comparação, diz presidente do Locomotiva
“Eleitor avaliará se está melhor hoje ou se era melhor antes”, comenta sobre a polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro
atualizado
Compartilhar notícia
A polarização na disputa pela Presidência volta a se repetir, fato que ocorre desde 1994, mas em 2022 tem ganhado contornos mais graves, inclusive com violência. O cenário é inédito: um presidente concorrendo com um ex-ocupante do Palácio do Planalto.
Para o presidente do Instituto Locomotiva de Pesquisa e fundador do DataFavela, Renato Meirelles, após um movimento de repulsa ao Partido dos Trabalhadores (PT), na eleição de 2018, agora, será uma escolha de comparação.
“O eleitor avaliará se está melhor hoje ou se era melhor antes. A renovação de 2018 necessariamente não partiu de uma vontade, mas sim, uma opção de raiva ou voto de negação”, explica.
A declaração de Renato foi dada em entrevista ao canal Um Brasil, iniciativa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP). O Metrópoles adianta com exclusividade os principais pontos da conversa, que será divulgada nesta sexta-feira (15/7).
Para ele, a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas de intenção de voto, e o presidente Jair Bolsonaro (PL) prejudica a discussão de temas relevantes, como restruturação da economia.
Dessa forma, pautas de comportamento, como aborto e porte de arma de fogo, ganham mais destaque do que assuntos estruturantes.
“São temas que interessam correntes mais ideológicas. Quem defende o porte de arma, defende o direito individual de se defender e esquece como isso pode ser prejudicial numa briga de transito, por exemplo. O porte de arma tem mais efeito no aumento de mortes do que na segurança pessoal. Os defensores do aborto defendem o direito efetivo da mulher ser dona do próprio corpo. O processo de polarização impede uma discussão saudável que consiga achar o ponto de encontro entre o direito individual e o direito coletivo”, explica.
Neste cenário, encontrar uma outra possibilidade, o que tem sido chamado de terceira via, é difícil. “É uma ilusão acha que as pessoas que não gostam nem de um lado nem do outro gostam de alguém do meio. A vida das pessoas não melhorou nos últimos tempos”, conclui.
Renato avalia que umas das maiores consequências da polarização é a pouca escuta. Ele cita como exemplo o processo de ataque à credibilidade das pesquisas eleitorais. Segundo o especialista em consumo e opinião pública, quem desacredita os dados está a serviço das fake news ou acredita somete na avaliação pessoal.
“Temos que entender a serviço de que está ligada a desconfiança. O descrédito vem junto com o descrédito do jornalismo profissional e das instituições. Deixa de partir de uma verdade factual”, salienta.
Renato cita que política é uma ciência humana e que as pessoas mudam de opinião. “As pesquisas têm a obrigação de acompanhar esse movimento”, acrescenta.
Ao longo da entrevista, Renato afirma que o desprezo pelos dados e pelas informações é reflexo de um processo dos últimos anos. “Tivemos um desmonte de todos os mecanismos que nos permitiam ter um olhar científico e bastante preciso sobre a realidade do brasileiro”, analisa, citando Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Isso coloca os institutos privados de pesquisa obrigados a ter uma posição mais vocal que expresse a realidade brasileira”, completa.
E qual será o estado de espírito do eleitor na votação? “Vemos um brasileiro cansado de anos de crise econômica, com dificuldade de enxergar um futuro promissor e um brasileiro carente de oportunidades”, analisa.