Agro: Lula enfrenta a última fronteira em território bolsonarista
Petista envia emissários para discutir impostos e retomada de obras de infraestrutura para escoamento de safra
atualizado
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Em nova fase de diálogo com setores da economia, Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato do PT à Presidência da República, deu início a uma ofensiva para tentar desbancar a preferência de representantes do agronegócio brasileiro ao presidente Jair Bolsonaro (PL), seu principal adversário nas eleições deste ano.
A campanha petista ensaia a reaproximação contando com interlocutores de peso nos estados do Centro-Oeste, principalmente Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Tocantins.
Entre esses nomes estão o ex-ministro da Agricultura, hoje vice-presidente da Frente Parlamentar da Agrupecuária (FPA), deputado Neri Geller (PP-MS). Geller, apesar de estar no PP, partido da base bolsonarista, conta com apoio de Lula para sua reeleição. Pecuarista e deputado federal, Carlos Favaro (PSD-MT) declarou apoio a Lula na última semana.
E aparecem mais nomes de peso: Blairo Maggi, empresário, ex-ministro e ex-governador do Mato Grosso; o deputado Paulo Mourão (PT-TO), que será candidato, com o apoio de Lula, ao governo de Tocantins; e José Eduardo Motta, um dos maiores pecuaristas do país.
Outro empresário de peso que fala com o setor em nome de Lula é o produtor rural Carlos Ernesto Augustin, conhecido como Teti, proprietário da Sementes Petrovina, no Mato Grosso. Em janeiro deste ano, ele chegou a organizar um grupo de lideranças do agro que se reuniu com Lula no escritório do advogado Cristiano Zanin.
Ainda de acordo com interlocutores da campanha, fora da região centro-oeste, o pré-candidato a vice, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), já trata de organizar reuniões com produtores do interior de São Paulo para as próximas semanas.
“Ele [Alckmin] tem uma relação boa com esse setor e sabemos que o Mato Grosso do Sul está muito ligado à Avenida Paulista”, disse Geller, ao Metrópoles, referindo ao centro financeiro do país. “Então, a gente vai construir por aí”, disse o ex-ministro.
Para se aproximar ainda mais do núcleo duro de Lula, Geller tem encontro com o coordenador do programa de governo, o ex-ministro Aloizio Mercadante (PT), na próxima semana, em São Paulo. O objetivo é acertar as linhas de diálogo com o setor.
Já Blairo Maggi tem uma ligação forte com produtores da região sul do país e é a arma de Lula para ganhar terreno nessa região com forte marca bolsonarista.
Infraestrutura e tributos
No esforço de reconquistar o apoio do setor, Lula tentará lembrar do legado de investimento em ferrovias e portos para escoamento da produção e falará da disposição de retomar um projeto de criação de infraestrutura de transportes, caso seja eleito. O ex-presidente também apontará no sentido de discutir a reformulação de tributos diretamente ligados ao setor.
“Nós temos ainda um processo muito arcaico em nossas ferrovias. Por exemplo, a ferrovia Norte-Sul. Lula fez a conclusão dela pelo menos do estado de Tocantins e parte de goiás”, lembra Paulo Mourão, a aposta petista para o Tocantins.
Segundo ele, hoje a Norte-Sul é usada pela Vale e, no máximo, para transporte de combustíveis. “Mas precisamos inserir o processo das carnes (que requer vagões frigoríficos e polos modais adaptados para esse tipo de transporte”, apontou o petista.
Mourão está preparando um encontro de Lula com empresários do setor em Tocantins, segundo ele, a pedido dos empresários. O encontro deve ocorrer em agosto, mas ainda não há data definida.
“Vou fazer um primeiro levante no sentido de resgatar o que nós fizemos pelo agro. Isso desenvolver a questão de infraestrutura, envolve principalmente a sua reestruturação. E pautas legislativas, que foram extremamente importantes, como a questão da biotecnologia. Além das concessões, outro tema importante para destravar”, avaliou Geller.
Geller já presidiu a Associação de Produtores de Soja Aprosoja, uma das entidades mais bolsonaristas do setor e que passou, inclusive, a ser investigada por financiar atos ameaçadores constra a democracia A associação perdeu poder de articulação depois do início da investigação, inclusive após ter suas contas bloqueadas por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O ex-presidente da Aprosoja reconhece que a maioria da associação é bolsonarista, mas encara o desafio de tentar mudar esse cenário ou pelo menos reverter parte de voltos em favor de Lula.
Armas no campo
A questão do acesso às armas, tão caro ao governo Bolsonaro, é visto com reticência por interlocutores de Lula no setor agro. Essas pessoas temem um ambiente deflagrado.
“Lula continuará com um discurso duro pelo desarmamento. O próprio Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) tem demonstrado amadurecimento. O movimento não investe mais em invasões. Querem muito mais assegurar condições de produtividade para os assentamentos”, destacou Mourão.
Geller foi na mesma linha. “Não precisamos de agravar o conflito no campo com armas. O que precisamos é de investimentos”, destacou.