De 390 candidatas de grupo presidido por Luiza Trajano, só 18 foram eleitas
De acordo o TSE, o Brasil segue sendo um dos países com a mais baixa participação de mulheres na participação da política
atualizado
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Mesmo as mulheres sendo a maioria (52%) do eleitorado brasileiro, elas não são representadas em cargos políticos. Por causa desse cenário, o Grupo Mulheres do Brasil, criado em 2013 por empresárias e presidio pela dona do Magazine Luiza, Luiza Trajano, trabalha para alavancar as candidaturas femininas. Porém, o resultado obtido nas Eleições de 2020 não foi o desejado pelo grupo.
O Metrópoles pesquisou a situação de 390 mulheres, divulgadas pelo Grupo Mulheres do Brasil, que assinaram a carta de compromisso. Porém, dentre elas, só 18 (4,6%) foram eleitas no primeiro turno.
De acordo com a líder do Comitê de Políticas Públicas do grupo, Alexandra Segantin, esses números estão abaixo do esperado: “São um reflexo da nossa sociedade”. Para ela, esse processo de ocupação ainda continuará a passos lentos. “É preciso ter mais ter representatividade e visibilidade feminina”, considera.
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Brasil segue sendo um dos países com a mais baixa participação de mulheres na política. Com as Eleições 2020, apenas 12% de suas cidades são governadas por mulheres. Elas representaram apenas 13% das candidaturas para as prefeituras e 33% para Câmaras de Vereadores.
No ano de 2018, o país implementou a obrigação de destinar pelo menos 30% dos recursos públicos de campanha e tempo de propaganda eleitoral gratuita a mulheres. Porém, elas seguem enfrentando inúmeras dificuldades para lançar-se como candidatas.
Dificuldades
Essas dificuldades são apontadas pela cientista política Luiza Paranaguá. “Além da verba, as siglas devem dar espaço para as mulheres, colocá-las em cargos de decisão”, diz. O segundo ponto, de acordo com a especialista, é oferecer visibilidade: “Nós votamos em quem conhecemos. A verba para campanha também é muito importante para esse sucesso eleitoral”.
Para a analista de relações governamentais Gabriela Agapito, essa situação pode ser mudada quando a mulher se enxergar em espaços de poder: “É a questão da divisão do público e privado, do papel do homem e a mulher. Há muitas delas presentes na política, mas em papeis, por exemplo, de chefe de gabinete ou assessora”.
Agapito também explica que para se atingir números mais positivos, da participação feminina, esse processo precisa acontecer no período da pré-candidatura: “É importante ter representantes mulheres nos diretórios partidários, especialmente no momento em que vai ser decidido quem são os postulantes mais fortes, para quem vão as verbas e a principal visibilidade”.
Importância das mulheres nas câmaras
A analista ainda considera que as eleições municipais são de extrema importância, pois ali a população percebe a política de maneira mais próxima. “Mesmo não decidindo diretamente sobre os direitos reprodutivos — assunto de âmbito nacional –, é de extrema importância que tenham mulheres em prefeituras e em câmeras de vereadores. Ali se decide sobre iluminação pública, por exemplo, e isso vai trazer mais segurança para as trabalhadoras e estudantes que saem ou voltam para casa tarde da noite. Ou pautas voltadas para creche, saúde pública, questões que afetam diretamente o dia a dia da mulher”, avalia Agapito.
Avanço
Mesmo com essas dificuldades, Luiza Paranaguá se diz otimista com a presença de mulheres na política. “É um caminho lento, mas estamos cada vez mais conquistando espaços importantes, seja pela pressão popular ou não. E quanto mais mulheres negociando nesses ambientes, mais pautas que nos beneficiam serão aprovadas”.
Para as especialistas, o importante é as mulheres que quererem fazer parte da política — direta ou indiretamente — procurem candidatas com uma ideia parecida, seja ela mais conservadora ou liberal. O essencial é ter um dever político ativo.
O Grupo Mulheres do Brasil afirma que o objetivo do coletivo é dar cada vez mais visibilidade às mulheres. “Pretendemos atingir todo o país, o nosso processo de apoio continua, com aquelas que foram eleitas ou não”, diz Alexandria.