Para Bolsonaro, Brizola já foi opção para o país, e Lula, “importante”
No início da carreira política como vereador, o nome do PSL à Presidência viu com bons olhos os líderes do campo progressista
atualizado
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Líder nas pesquisas para presidente da República, o pré-candidato Jair Bolsonaro (PSL) é conhecido por posições fortes e polêmicas, normalmente alinhadas com partidos do campo conservador e liberal. Nos primórdios do seu histórico parlamentar, no entanto, o paulista nascido em Campinas deu declarações capazes de espantar qualquer correligionário, ao elogiar líderes esquerdistas.
Um desses casos ocorreu quando Bolsonaro, militar reformado que deu o pontapé na política como vereador da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, sinalizou um eventual palanque a Leonel Brizola (PDT) para a Presidência. Ele também chegou a parabenizar a atuação de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no ABC Paulista.
O agrado a dois dos principais líderes da história do campo progressista foi publicado há 30 anos, em entrevista ao Jornal do Commercio, no ano de 1988, pouco depois de ser eleito a uma das cadeiras na Câmara Municipal e antes de assumir seu primeiro mandato, em 1989. “Brizola pode até ser uma solução para o país”, disse Jair Bolsonaro ao JC. Ele condicionou, porém, a ideia de apoiar o pedetista somente se a chapa fosse composta pelo ex-presidente do regime militar João Figueiredo. Naquela época, já se definia como um político de direita.
Eleito vereador aos 33 anos com expressivos 11.062 votos pelo Partido Democrata Cristão (PDC), o capitão reformado disse que o líder do PDT não era mal visto entre os militares, apenas entre os oficiais mais antigos e “que viveram 1964”. Sobre Lula, ele destacou: a estrela petista “foi importante para solucionar os problemas enfrentados pelas comunidades do ABC” e, inclusive, em sua visão, também para reduzir a incidência de greves na região industrial da Grande São Paulo.
Essa posição durou pouco tempo. Em 1989, ele declarava ser eleitor de Guilherme Afif Domingos e voltou a falar do pedetista ao dizer “se a tropa brizolou, o oficialato colloriu”, comentando as eleições.
Bolsonaro também falou de um assunto muito recorrente nos tempos atuais: “A polarização entre direita e esquerda no segundo turno é perigosa para o país?”. Na enquete respondida ao Jornal do Brasil, ele disse que sim. Na visão do então vereador pelo PDC, “se Lula não for eleito, por exemplo, é possível que a ala xiita do PT não concorde pacificamente com a derrota. A polarização política não pode ser tranquila num país onde a maioria não dorme porque tem fome, e a minoria não dorme porque tem medo”.
Com o passar dos anos, Bolsonaro viria a reforçar em várias ocasiões que havia mudado de opinião sobre a dupla. Em relação ao pedetista, chegou a trocar ofensas em 2010 com Brizola Neto (PDT-RJ), quando discutiram sobre o ex-governador e avô do parlamentar.
A rusga ocorreu porque o militar disse que Brizola teria desviado dinheiro enviado pelo líder cubano Fidel Castro na época da ditadura. Sobre Lula, as críticas são comuns, como quando torceu pela sua condenação ou disse que ele colhia ovos por ter transformado o país num galinheiro.
Ele [Brizola] recebeu vultosa quantia em dinheiro de Fidel Castro e a investiu comprando fazendas no Uruguai. Então, é tratado por Fidel Castro como Don Ratón
Jair Bolsonaro sobre Leonel Brizola, em discurso na Câmara dos Deputados em 2010
A reportagem procurou a assessoria do deputado para comentar as publicações, mas, até a última atualização deste texto, não obteve retorno.
Mandato discreto
Eleito vereador pelo extinto Partido Democrata Cristão (PDC) para a terceira legislatura (1989–1992) da Câmara Municipal do Rio, Bolsonaro apresentou, entre 1989 e 1990, cinco projetos de lei e dois projetos de resolução para alteração do regimento interno da Casa.
O 16º mais votado entre os vereadores daquela eleição não teve qualquer projeto de lei aprovado, mas tentou emplacar alguns temas. Um deles dispunha sobre familiares poderem acompanhar doentes terminais e idosos na rede municipal. Ele também pretendeu criar dois sistemas: o de Convênio Escolar Comunitário e o de Convênio Ambulatorial. Uma tentativa que não andou foi a de autorizar o transporte gratuito a militares nos coletivos urbanos.
A passagem discreta nos corredores da Câmara Municipal se encerraria em 1990, quando foi eleito deputado federal, ocupando o posto em 1991, carregado pelos votos das zonas militares.
Embora discreto nos discursos na Câmara e averso a leituras – Bolsonaro chegou a dizer que a falta de leitura não lhe tirava votos –, o agora candidato à Presidência da República adorava escrever cartas para os jornais. Seus protestos eram constantemente publicados, quando aproveitava para cobrar melhores condições trabalhistas e salariais para os militares. Essa bandeira, inclusive, levantou sua carreira na política, sendo reconhecido como um grande defensor da categoria.
Em uma das mensagens fora do assunto militar publicadas pelos jornais, ele culpou a explosão demográfica no país como “causa primeira de nossa miséria, seguida da corrupção”. Mas sua maior indignação era com os baixos salários recebidos pelas tropas. Ele chegou a colaborar com uma publicação do Jornal do Brasil que tratava da comparação salarial entre civis e militares.