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Moro vê resultado da eleição como risco à Lava Jato

Para juiz, país precisa do “exemplo de lideranças honestas” e de políticas que reduzam “incentivos” para a corrupção

atualizado

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O juiz federal Sérgio Moro admitiu que o resultado das eleições deste ano está inserido no que ele chama de “risco de retrocesso” no combate à corrupção, simbolizado na Operação Lava Jato. Para Moro, o país precisa “do exemplo de lideranças honestas” e “de políticas mais gerais para diminuir os incentivos e oportunidades da corrupção”.

O magistrado participou nessa quarta-feira (25/7) do Fórum Estadão Mais governança e mais segurança, realizado em São Paulo. Moro foi um dos debatedores do painel O Combate à Corrupção, do qual participaram o advogado criminalista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira e o promotor de Justiça Marcelo Mendroni, do Ministério Público paulista.

Após a mesa, em entrevista, o juiz disse que discussões como esta precisam ser feitas no período eleitoral, pois “a corrupção espalhada, disseminada e profunda” é um dos principais problemas a ser resolvido pela sociedade brasileira.

“Minha ideia principal em relação a isso é, primeiro, a Justiça tem de funcionar. Então, pessoas culpadas têm de ser punidas, segundo o devido processo, mas não só isso é suficiente. Precisamos do exemplo de lideranças honestas e, por outro lado, de reformas de políticas mais gerais para diminuir os incentivos e oportunidades à corrupção.”

O futuro da Lava Jato
Conforme observado por Moro, ainda existem processos pendentes de julgamento na Lava Jato e a expectativa é de que “cheguem a bom termo”. “A dúvida é o que vai acontecer daqui para a frente. Vamos retomar aquela tradição de impunidade ou isso representou uma quebra significativa? Nessa perspectiva, existe sempre um risco de retrocesso em relação a esses avanços. E há um risco, ainda, que nós não avancemos mais. Para avançar mais, precisamos, além de processos efetivos contra a corrupção, de mudanças políticas mais gerais nas leis para diminuir os incentivos e oportunidades para a corrupção. Mas os riscos sempre permanecem. Isso é algo que não vai ser dessa eleição, nem da próxima, sempre vai existir esse risco. Espero que não se concretize.”

Questionado, o magistrado preferiu não comentar as declarações do candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes. De acordo com a afirmação do pedetista, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – preso e condenado no âmbito da Lava Jato – só terá chance de sair da cadeia se ele, Ciro, for eleito.

O postulante ao Planalto disse em entrevista a uma emissora de TV do Maranhão, no dia 16, que é preciso “botar juiz para voltar para a caixinha dele, botar o Ministério Público para voltar para a caixinha dele e restaurar a autoridade do poder político”.

Provocado sobre uma suposta intenção de se restaurar a autoridade política – expressão usada por Ciro –, Moro afirmou não enxergar nenhum problema entre juízes e agentes políticos. “O que acontece nesses casos já julgados é a constatação de que agentes políticos cometeram crimes e eles têm de pagar por isso, como qualquer outro cidadão. Então, não existe nenhuma disputa fora desse nível, entre um juiz criminal e um agente político.”

Prisão após condenação em segunda instância
A respeito da possibilidade de o Supremo Tribunal Federal (STF) rever o entendimento que autoriza a prisão após condenação em segunda instância, o juiz disse considerar “improvável”. “Muito difícil prever. Me parece, no entanto, que esse precedente foi tomado pela primeira vez em 2016 e reiterado três vezes, depois, no Supremo. Então, me parece um tanto quanto improvável uma alteração da jurisprudência do Supremo, embora seja algo possível e eu possa estar enganado”, pontuou Sérgio Moro.

Apesar dos diversos casos de corrupção na seara política e a extensão da Operação Lava Jato nos últimos anos, Moro manifestou otimismo. “Não se pode pensar que a solução para o Brasil é a fronteira ou o aeroporto. Não existe nenhum problema irremediável. Existem na história países que tiveram problemas sérios de corrupção, alguns até mais profundos que o Brasil, e conseguiram melhorar os seus níveis de governanças. Por exemplo, a Geórgia, a ex-República Soviética, os próprios Estados Unidos eram um país extremamente corrupto no início do século passado.”

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