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Lula mira a classe média em nova carta eleitoral

“Desta vez a ideia é dialogar com o povo brasileiro”, disse o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto

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1 de 1 Lula - Foto: Michael Melo/Metrópoles

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato ao Planalto, prepara uma nova versão da Carta ao Povo Brasileiro. Segundo interlocutores de Lula, o alvo agora, ao contrário de 2002, não é o mercado financeiro, mas a classe média que culpa os governos do PT pela crise econômica. Lula quer fugir do rótulo de populista reafirmando um compromisso com a responsabilidade fiscal.

“Esta carta não será como a outra, que foi mais dirigida ao mercado. Desta vez a ideia é dialogar com o povo brasileiro”, disse o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto.

Em conversas com colaboradores, o ex-presidente tem se referido à ideia como “uma Carta ao Povo Brasileiro só que para o povo brasileiro mesmo”.

Durante a vitoriosa campanha presidencial de 2002 Lula lançou a Carta ao Povo Brasileiro na qual, em síntese, se comprometia a manter os fundamentos da estabilidade econômica depois de décadas de confronto com o grande capital. O alvo era o mercado financeiro.

Em encontro com o PT de São Paulo, ontem, o ex-presidente disse que é alvo de “terrorismo de mercado” e que seus adversários “estão criando uma guerra de classes”.

Na semana passada a XP Investimentos divulgou relatório que aponta risco de queda da Bolsa e alta do dólar em caso de vitória de Lula. O PT avalia que parte da classe média é sensível a essa narrativa. O petista, no entanto, minimiza o poder da banca. Ontem, na reunião com o PT paulista, ele disse que “o mercado não vota”. Por isso o alvo agora é próprio eleitorado.

A nova carta ainda não tem data para ser lançada e nem mesmo começou a ser rascunhada. Segundo pessoas que conversaram com Lula sobre o assunto, o petista quer mostrar que, embora o contexto político e econômico seja muito diferente de 2002, a responsabilidade com a condução econômica é um princípio pessoal

Para isso, Lula vai listar fatos de seus dois governos, como os seguidos superávits fiscais além da meta, trajetória de queda da dívida pública, obtenção do chamado “grau de investimento”, recordes de valorização de ações na Bolsa e aumento das reservas cambiais.

“Ninguém pode dizer que sou irresponsável. O mercado sabe disso”, tem dito Lula com certa frequência.

Governo Dilma. Além disso o petista deve demarcar as diferenças na condução da economia entre seus governos e os da presidente cassada Dilma Rousseff. Um colaborador de Lula destacou que os números da economia saíram de controle no governo Dilma.

O petista ainda não escalou o time que vai redigir a carta, mas, de acordo com colaboradores próximos, já falou sobre o assunto com o ex-presidente do PT Rui Falcão, o ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, entre outros.

Outra estratégia de Lula para reduzir as desconfianças quanto à condução econômica em um possível terceiro mandato é a tentativa de reeditar a vencedora chapa trabalho/capital. Em vez de José Alencar, seu parceiro em 2002, morto em 2011, o petista tenta convencer o filho do ex-vice-presidente, o empresário Josué Gomes da Silva.

Durante a passagem da caravana de Lula por Montes Claros (MG), Josué foi alvo de comentários e brincadeiras sobre sua disposição de concorrer em 2018 como vice de Lula. Em 2014 ele concorreu ao Senado pelo PMDB de Minas. Segundo dirigentes do PT, Josué teria sinalizado que pretende voltar a disputar o Senado. Um dos entraves para que ele seja o “vice dos sonhos” é a filiação partidária.

Lula lidera as pesquisas eleitorais em todos os cenários mas pode ficar inelegível caso o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) confirme a sentença de primeira instância que o condenou a 9 anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá.

‘Verdades alternativas’. O cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Hilton Cesario Fernandes, observa que a base eleitoral de Lula também sofreu diversas mudanças após sua primeira vitória. “A classe média se distanciou e formou a base da insatisfação popular que culminou na saída de Dilma em 2016, uma presidente mal avaliada mesmo entre as classes mais baixas”, disse.

“Neste contexto, uma nova Carta aos Brasileiros soa como uma tentativa anacrônica de repetir os passos que levaram o PT ao governo federal pela primeira vez. Resta saber, entretanto, se o partido irá apresentar novas lideranças e propostas ou se continuará a oferecer verdades alternativas sobre o passado recente.”

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