Haddad incorpora propostas de aliados e se mantém hostil aos bancos
Modelo elaborado pelo PT, mesmo após ajustes, não acena com benefícios ao mercado e permanece hostilizando o setor bancário
atualizado
Compartilhar notícia
Na busca de alianças no segundo turno das eleições, o candidato do PT, Fernando Haddad, começou a incorporar ao seu plano econômico sugestões apresentadas por PSol, PDT e PSB, legendas que já declararam apoio formal à candidatura petista. Porém, nenhuma dessas novas propostas aponta para um reposicionamento em relação ao mercado financeiro, o que significaria o início de um caminho ao centro.
Com isso, Haddad deixa para seu adversário, Jair Bolsonaro (PSL), o papel de preferido dos investidores. Apesar de alguns recuos na área de geração de energia, Bolsonaro já sinalizou que vai adotar uma agenda de privatizações e de reformas econômicas liberais, caso seja eleito. “O candidato dos bancos é o meu adversário”, disse Fernando Haddad, em entrevista ao Metrópoles.
Para ser mais palatável ao mercado, Haddad, no máximo, aposta em um discurso mais conciliador, de garantias da democracia, fortalecimento das instituições e com o governo atuando para gerar um ambiente propício aos negócios. Ou seja, nada que possa significar uma “sinalização ao mercado”, nada no sentido de venda de empresas públicas e estatais.
Uma ideia lançada pelo ex-governador da Bahia e senador eleito Jaques Wagner, coordenador da campanha do petista neste segundo turno, seria anunciar, antes da eleição, o ministro da Fazenda. No entanto, Haddad diz que ainda está estudando a viabilidade dessa ação. Na opinião de Wagner, isso teria o efeito de “acalmar o mercado”.
Sem citar nomes, Fernando Haddad limita-se a falar sobre o perfil para o comando da economia caso ele seja eleito: “Não será um banqueiro”.
Taxação dos mais ricos
O petista segue na linha de taxações das grandes fortunas no país, em um contexto de reforma tributária. Haddad não fala em percentuais ou faixas que teriam suas alíquotas alteradas entre os mais ricos. Já em relação aos mais pobres, Haddad propõe isenção total de imposto de renda para quem ganha até cinco salários mínimos, valor correspondente a R$ 4.770, atualmente.
“A recuperação da capacidade de investimentos do Estado, o combate às desigualdades e a expansão das oportunidades no Brasil não serão obtidos apenas com políticas sociais de combate à pobreza. Exigem também que os mais ricos, sobretudo os que obtêm grandes ganhos financeiros, paguem mais impostos”, defende o programa do petista.
Enquadramento
Outro ponto hostil ao mercado financeiro é o chamado “enquadramento” dos bancos para forçar a diminuição dos juros. De acordo com a ideia sustentada pelo presidenciável, entidades bancárias que cobram juros mais altos passarão a ter alíquotas para pagamento de tributos proporcionalmente mais altas.
“Não haverá investimento se o consumo não aumentar. E o consumo pode aumentar de duas formas: reduzindo a contribuição de quem ganha menos e obrigando os bancos a reduzir juros, para que a taxa de juros seja menor que o lucro. Senão, não vai ter investimento”, disse Haddad. “Se não tomarmos essas duas providências, a economia não tem como retomar”, insistiu o presidenciável.
Investimento público
Fernando Haddad aponta a necessidade de retomada dos investimentos públicos em obras. Mas o petista deixa claro: para isso, uma das suas primeiras medidas, caso chegue ao Palácio do Planalto, será revogar a emenda constitucional que instituiu o teto de gastos (EC 95). Ele também deve retomar a política anticíclica dos governos petistas. Isso significa formar superávit primário em momentos mais prósperos.
A retomada das obras é também uma das principais exigências feitas pelo PSB, que declarou apoio ao petista no segundo turno. Em resolução publicada pelo partido, a legenda sustenta a necessidade de recuperação e ampliação da infraestrutura nacional – portos, aeroportos, telefonia, mobilidade e transporte.
Os socialistas ainda acrescentaram a recuperação dos investimentos em ciência e tecnologia e a volta aos patamares de recursos praticados no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando o partido esteve no comando dessa pasta.
A política de consumo é também uma retomada do método usado pelo ex-presidente Lula com o objetivo de conter internamente os efeitos da crise internacional em 2008.
Incorporações
Entre as medidas de outros partidos adotadas pelo plano de governo do petista, está a proposta de Ciro Gomes (PDT) de limpar os nomes de brasileiros endividados. A única diferença apresentada por Fernando Haddad é que a linha de crédito para esses devedores seria feita em bancos públicos. Na proposta de Ciro, essa possibilidade atingia também as instituições privadas.
Na semana passada, antes mesmo da declaração de “apoio crítico” feita pelo PDT, a equipe de Haddad reuniu-se com um dos principais conselheiros de Ciro Gomes nesta campanha, o ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos Mangabeira Unger, para que os ajustes fossem feitos. Este é um ponto a ser considerado no programa do petista.
Casas
Já em relação ao PSol, partido que também deu apoio a Fernando Haddad, a principal reivindicação diz respeito ao programa Minha Casa Minha Vida. O programa do petista prevê a retomada da construção de moradias populares e incorporou os pedidos da legenda aliada de que os terrenos utilizados para erguer as novas casas estejam nas áreas mais centrais das cidades.
Além disso, o PSol levou uma meta para o programa do PT: construir 100 mil moradias populares nos primeiros seis meses de governo. Haddad, por sua vez, assumiu esse compromisso com Guilherme Boulos, que foi o candidato da legenda no primeiro turno das eleições.