Esposa de Bolsonaro, ceilandense pode ser primeira-dama do Brasil
Mulher do pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSC-RJ) é evangélica, nasceu no DF e mora hoje no Rio de Janeiro
atualizado
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A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) deixou o polêmico deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) mais perto do Palácio do Planalto. Pré-candidato à Presidência, o parlamentar ocupa atualmente o segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás apenas do líder petista. Caso eleito, o militar terá ao seu lado a esposa, Michelle de Paula – como Michelle de Paula Firmo Reinaldo Bolsonaro gosta de ser chamada. Nascida em Ceilândia, ela pode ser a primeira brasiliense a ocupar o posto de primeira-dama do Brasil.
Os dois se conheceram na Câmara dos Deputados, em 2007. Na época, Michelle era secretária parlamentar na Casa, e Bolsonaro já cumpria o seu quinto mandato como deputado federal. “Tudo começou quando nos vimos pela primeira vez, no gabinete do Jair. Não demorou muito para termos a certeza de que queríamos dividir uma vida a dois”, afirmou Michelle em entrevista a uma revista carioca, anos depois.
Michelle trabalhou como funcionária da Câmara entre 2006 e 2008. No período, ocupou o cargo de secretária parlamentar nos gabinetes dos ex-deputados Vanderlei Assis (PP-SP) e Dr. Ubiali (PSB-SP). Em 2007, a esposa de Bolsonaro foi nomeada para uma posição na liderança do PP – sigla do político carioca, na época –, na qual permaneceu entre junho e setembro.
Em 18 de setembro de 2007, a funcionária foi nomeada para o gabinete de Bolsonaro, também como secretária parlamentar. Contudo, a brasiliense acabou exonerada em novembro de 2008, após uma súmula do Supremo Tribunal Federal (STF) emitida em agosto daquele ano proibir a contratação de parentes de até terceiro grau.
Religião
Michelle é evangélica e frequentou durante anos a sede da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (Advec), igreja fundada pelo pastor Silas Malafaia, na Barra da Tijuca. Partiu dela o pedido para que Malafaia celebrasse seu casamento religioso com Bolsonaro, em 21 de março de 2013. O dia foi escolhido por ser o aniversário do parlamentar e a véspera da data de nascimento da noiva.
Desde sua exoneração na Câmara, em 2008, Michelle tem se dedicado a atividades voluntárias dentro da sua congregação religiosa. Na Assembleia de Deus Vitória em Cristo, era conhecida entre os colegas por organizar eventos sociais e comemorações, além de auxiliar no funcionamento da escola dominical.
No entanto, a brasiliense começou a frequentar a Igreja Batista da Atitude, que também mantém uma sede na Barra da Tijuca, a partir de 2017. O período coincide com o distanciamento entre Bolsonaro e Malafaia. O líder religioso foi indiciado pela Polícia Federal em dezembro de 2016, após ser investigado por lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Timóteo.
Na época, segundo interlocutores, Malafaia teria procurado o deputado federal em busca de ajuda. Bolsonaro, contudo, não teria interferido no andamento das investigações da PF. Em retaliação, o pastor divulgou uma série de críticas ao parlamentar em suas redes sociais, chegando a chamá-lo de “radical e desonesto intelectualmente”, e passou a apoiar publicamente a candidatura do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), ao Palácio do Planalto.
Na nova igreja, Michelle envolveu-se com a educação de surdos e mudos. A brasiliense chegou a trabalhar, inclusive, com a tradução simultânea dos cultos para a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Em setembro de 2017, em uma das raras aparições públicas ao lado da mulher, Bolsonaro divulgou um vídeo, na sua página no Facebook, em homenagem ao Dia Nacional dos Surdos.
Perfil discreto
Avessa à mídia, Michelle mantém um perfil discreto ao lado de um dos homens mais polêmicos do Brasil. Não é vista em campanhas eleitorais ou eventos frequentados pelo marido, que geralmente aparece na companhia dos três filhos políticos: o deputado federal Eduardo (PSC-SP), o deputado estadual Flávio (PSC-RJ) e o vereador Carlos (PSC-RJ).
Um dos poucos episódios em que Bolsonaro mencionou publicamente a esposa aconteceu em 2011. Acusado de racismo após uma entrevista ao programa CQC, ele se defendeu, afirmando ser casado com uma afrodescendente cujo pai atendia pelo apelido de “Paulo Negão”.
Na ocasião, a cantora Preta Gil perguntou ao deputado qual seria a reação dele caso seu filho se apaixonasse por uma negra. Bolsonaro respondeu: “Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco, e meus filhos foram muito bem educados. E não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu”.
Para dissipar a polêmica, o deputado organizou uma entrevista com o cunhado, o militar Diego Torres Dourado, irmão de Michelle por parte de pai. Questionado por jornalistas se o político era preconceituoso, Diego negou. “Já estive várias vezes com ele. Ele nunca foi preconceituoso, porque ele não é”, disse sucintamente.
Campanha eleitoral
Pré-candidato à Presidência da República, Bolsonaro já iniciou peregrinação por diversas capitais do país e deve intensificar a campanha a partir de agosto, com o início da propaganda eleitoral. Aliados do deputado federal afirmam, contudo, que a tendência é Michelle ocupar um papel tímido durante a corrida eleitoral.
“Tanto Bolsonaro quanto a esposa não querem que ela se envolva na campanha”, resumiu um parlamentar próximo ao político carioca. O distanciamento entre Michelle e a vida pública do deputado seria motivado, em parte, por antigos relacionamentos do marido. Em seu primeiro casamento, Jair Bolsonaro incentivou Rogéria – mãe de Carlos, Eduardo e Flávio – a seguir carreira na política. A ex-mulher foi eleita vereadora pelo Rio de Janeiro em 1992 e cumpriu apenas um mandato.
Em entrevista à revista IstoÉ Gente em 2000, o parlamentar chegou a afirmar que o seu primeiro relacionamento “despencou” após a eleição de Rogéria à Câmara Municipal. “Ela era uma dona de casa. Por minha causa, teve 7 mil votos na eleição. Acertamos um compromisso. Nas questões polêmicas, ela deveria ligar para o meu celular, para decidir o voto dela. Mas começou a frequentar o plenário e passou a ser influenciada pelos outros vereadores”, disse.