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DEM faz política com a esquerda e apoia economia da direita

Representante do partido, Rodrigo Maia tem boa relação com comunistas e petistas, mas se identifica com propostas do economista Paulo Guedes

atualizado

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ANDRE DUSEK/ESTADAO
FORO / STF
1 de 1 FORO / STF - Foto: ANDRE DUSEK/ESTADAO

Fundado em janeiro de 1985 como dissidência da ditadura, o Partido da Frente Liberal (PFL) mudou o nome para Democratas (DEM) em 2007 e, agora, prepara-se para se adaptar à próxima mudança no Palácio do Planalto. Decisivos na transição para os governos civis, os pefelistas ocupam espaço estratégico para a futuro arranjo político qualquer que seja o vencedor do segundo turno da eleição presidencial deste ano.

Embora a bancada da sigla na Câmara tenha sido reduzida dos atuais 43 deputados federais para 29 na próxima legislatura, algumas características fazem do partido um aliado tanto da esquerda quanto da direita no Congresso Nacional. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é o maior símbolo dessa circunstância.

Eleito para o cargo com ajuda de parlamentares da esquerda, Maia (foto em destaque) se identifica com as propostas liberais de Paulo Guedes, escolhido para o Ministério da Fazenda caso Jair Bolsonaro (PSL), candidato direitista ao Planalto, seja eleito presidente da República. Essa proximidade com o responsável pelo programa econômico do presidenciável tem antecedentes no DEM.

“Paulo Guedes colaborou, informalmente, com o partido, ainda nos tempos do PFL”, recorda-se o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), presidente do Instituto Liberdade e Cidadania, órgão de pesquisa e assessoramento da legenda.

Dois deputados do partido, Onyx Lorenzoni (RS) e Tereza Cristina (MS) reforçam as ligações entre o DEM e Bolsonaro. O candidato do PSL adiantou que, caso seja eleito, o parlamentar gaúcho será o ministro da Casa Civil.

Integrante do “baixo clero” do Congresso, Lorenzoni ganhou estatura de cardeal com a ascensão de Bolsonaro, com quem se aliou na campanha eleitoral. Maia apoiou o presidenciável tucano Geraldo Alckmin no primeiro turno.

Intriga e ministérios

Divulgação
Lorenzoni e Tereza Cristina com Bolsonaro, prestando apoio da bancada ruralista ao candidato

 

Como Lorenzoni não faz parte do grupo mais próximo de Rodrigo Maia, o crescimento de seu prestígio gerou ruídos na relação entre os dois. Nos bastidores, surgiram previsões de que, como ministro, ele atuaria contra o presidente da Câmara.

Lorenzoni se apressou em estancar a propagação dos boatos. “Diante da eleição presidencial de 2018, Rodrigo Maia e eu escolhemos caminhos diferentes, mas nossas escolhas foram – e sempre serão – pautadas pelo diálogo e pelo respeito”, afirmou o deputado gaúcho em nota pública divulgada na sexta-feira (18/10).

Para quem pode, em breve, comandar a relação entre o Planalto e o Congresso, Lorenzoni fez um gesto importante para o diálogo entre os poderes Executivo e Legislativo.

Tereza Cristina, por sua vez, preside a Frente Parlamentar Agropecuária, a poderosa bancada ruralista, composta por cerca de 260 integrantes que declararam apoio a Bolsonaro. A deputada do Mato Grosso do Sul foi procurada pelo presidenciável do PSL para conversar sobre nomes para o Ministério da Agricultura. Diante da consulta, sinalizou interesse de participar das negociações em torno da composição do futuro governo.

Se der PT, democratas vão para oposição
Caso não se confirme o favoritismo do candidato do PSL contra o petista Fernando Haddad apontado pelas pesquisas eleitorais, o caminho natural do DEM será a oposição. No Congresso e nos governos, desde os tempos do PFL, o partido e o PT estiveram sempre em lados diferentes.

Apesar das divergências, nos bastidores, petistas ajudaram na eleição de Rodrigo Maia para a presidência da Câmara depois que Eduardo Cunha (MDB-RJ) renunciou ao cargo por envolvimento na Operação Lava Jato.  No segundo turno da disputa, Maia venceu Rogério Rosso (PSD/DF) com discreto apoio do PT e, principalmente, do PCdoB.

As conversas dessa época se desdobraram em um bom relacionamento do presidente da Câmara com a esquerda. Excluídos do governo federal, PT e PCdoB tiveram espaço com Maia para participar e interferir na rotina parlamentar, por exemplo, em relatorias de projetos.

A força do centro
Na Câmara, o DEM faz parte do Centrão, agrupamento de partidos conservadores que ganhou força no impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2006. As outras legendas que compõem esse conglomerado são PP, PR, PRB e Solidariedade.

Dirigentes desses partidos reclamaram, na última semana, de especulações em torno do nome de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidenciável, para sucessor de Maia no comando da Câmara. Diante da repercussão negativa, deputados ligados a Bolsonaro entraram em campo para desautorizar a iniciativa.

Com 207 deputados previstos para a próxima legislatura, o Centrão tem força para influir decisivamente na sucessão da presidência da Câmara. Em bloco, esses partidos também podem negociar com o Planalto em condições mais vantajosas. Terceira maior bancada eleita neste ano, com 37 integrantes, o PP aparece como alternativa para indicar um nome para disputar o cargo hoje ocupado por Maia.

As negociações em torno da sucessão na Câmara ainda dependem dos resultados do segundo turno para definir a correlação das forças que vão comandar o país no Congresso e no Planalto. Seja quem for o eleito, o futuro presidente terá cacife para participar dos acordos parlamentares.

Pelas relações costuradas no mandato atual, Maia agrega apoios que podem ampliar o leque ideológico do poder federal. Se Bolsonaro, de fato, for o próximo presidente, o pêndulo político penderá necessariamente para a direita.

Nessa situação, um perfil menos alinhado com o Executivo dará ao Congresso um viés de autonomia; menos provável, se o cargo for ocupado por um representante do Centrão ou por alguém diretamente ligado a Bolsonaro.

Caso o DEM siga, majoritariamente, o caminho tomado por Onyx Lorenzoni e Tereza Cristina na adesão a um eventual governo do candidato do PSL, o partido se reaproximará dos militares dos quais se afastou na redemocratização.

Ao sair do PDS, partido que dava sustentação política à ditadura, a Frente Liberal também se distanciou da linha dura dos quartéis. Nos governos decorrentes do golpe de 1964, essa corrente fardada comandou a repressão sangrenta aos oposicionistas.

A partir da abertura política iniciada no mandato de Ernesto Geisel, a linha dura se enfraqueceu e só agora, com o crescimento político de Bolsonaro, voltou a ter perspectivas de poder no país. Pelos movimentos de Lorenzoni e Tereza, ao menos uma ala do antigo Partido da Frente Liberal pode recompor com os setores militares dos quais se afastou em 1984.

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