Aécio Neves: de quase presidente a deputado federal sem protagonismo
Senador tucano conseguiu mandato parlamentar na Câmara, com 106 mil votos e na condição de réu no âmbito da Lava Jato
atualizado
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Eleito deputado federal por Minas Gerais no último domingo (7/10), com 106.702 votos, o senador e candidato derrotado na disputa pela Presidência da República em 2014 Aécio Neves (PSDB) experimenta uma situação inusitada em sua carreira de mais de 30 anos: a falta de protagonismo político. O tucano, réu no âmbito da Lava Jato, passou despercebido nas eleições: conquistou novo mandato parlamentar, porém sem estar no centro dos holofotes.
Neto do ex-primeiro-ministro e presidente eleito em 1984, Tancredo Neves, Aécio construiu sua vida pública de forma meteórica e só viria a sofrer um revés décadas depois.
Em 1986, aos 26 anos de idade, o então peemedebista deixou a diretoria de Loterias da Caixa Econômica Federal para ser o deputado federal mais votado de Minas Gerais, com 236 mil votos. Integrou a Assembleia Nacional Constituinte. Aécio atribuiu sua vitória a uma “homenagem dos mineiros a Tancredo”, falecido em abril de 1985.
É bem verdade que, ao disputar reeleição à Câmara em 1990, pelo PSDB, Aécio viu diminuir seu cacife eleitoral, conseguindo 42 mil votos nas urnas. Mesmo assim, permaneceu como o primeiro entre os deputados federais mineiros.
Cabeça tucana
Dali para frente, no entanto, o neto de Tancredo passaria a obter votações sempre expressivas, ao passo que consolidava seu nome no cenário nacional como uma das principais cabeças tucanas.
Conquistou o terceiro mandato na Câmara dos Deputados em 1994, com 105 mil votos. Em 1998, aos 38 anos, foi o terceiro deputado federal mais votado em Minas Gerais – e o primeiro do PSDB em todo o país –, com 185 mil votos.
Articulou, então, para se tornar cacique numa sigla que já contava com o presidente eleito Fernando Henrique Cardoso, o então governador de São Paulo, Mário Covas, e o deputado federal José Serra, visando à eleição para a Presidência da Câmara Federal.
Adotou uma postura mais austera, com medidas para reduzir gastos – embora tenha instituído a “verba de gabinete”, recurso extra para bancar gastos extras dos deputados – e modernas, com ações de divulgação da instituição e a realização de pesquisas de opinião pública sobre o trabalho parlamentar.
Presidente por quatro dias
O político chegou a assumir a Presidência da República, embora interinamente. O presidente FHC e seu vice, Marco Maciel (PFL), ausentaram-se do país em missão oficial. Terceiro na linha sucessória, Aécio foi chefe de Estado entre 22 e 25 de junho de 2001.
Tido como um político jovem, moderno, hábil e articulador, deixou Brasília para voltar a Minas Gerais como governador eleito em 2002, com 5.282.043 votos. Foi reeleito em 2006, com 7.482.809 votos e o segundo maior percentual de votação entre os governadores eleitos: 73%.
A eleição para o Senado, em 2010, com 7.565.277 votos, terceira maior votação do país, seria mais um passo rumo à Presidência da República, cargo ao qual o avô Tancredo havia sido eleito indiretamente em 1984, mas que não pôde assumir, dadas as circunstâncias de sua doença e morte.
Em 2014, após um primeiro turno acirrado e num cenário de turbulência social, Aécio conseguiu bater Marina Silva (PSB) e ir para o segundo turno das eleições presidenciais, com 34,8 milhões de votos.
Na segunda fase do pleito, perdeu para a petista Dilma Rousseff, embora tenha obtido uma votação que o confirmaria naturalmente como figura maior da oposição: 51.038.023 votos.
Derrocada
Em maio de 2017, o empresário Joesley Batista, proprietário da empresa JBS, entregou à Procuradoria-Geral da República (PGR) uma gravação na qual Aécio Neves pede R$ 2 milhões. Para o empresário, tratava-se de propina; para o tucano, empréstimo.
Foi o momento da célebre frase: “Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação”, sobre o portador do dinheiro entregue pelo empresário.
A vida do mineiro virou de ponta-cabeça. Sua irmã, Andrea Neves, foi presa, apontada como intermediadora nos pagamentos de propina, e ele foi afastado de suas funções no Senado e da presidência do PSDB.
Em abril deste ano, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou a denúncia feita pela PGR e tornou o senador réu, no âmbito da Lava Jato, pelos crimes de corrupção passiva e obstrução de Justiça.