A verdade? Presidenciáveis usam sites para contra-atacar “boatos”
Pré-candidatos têm um “exército” de jornalistas e militantes para desarticular notícias, falsas ou não, que se espalham nas redes
atualizado
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É só entrar no site oficial de três pré-candidatos à Presidência da República e logo na capa você encontra um espaço bem destacado onde os presidenciáveis colocam suas versões de fatos e boatos. Ou de notícias sobre as quais tentam mostrar o outro lado das histórias usadas contra suas biografias. Geraldo Alckmin (PSDB), Jair Bolsonaro (PSL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm em suas páginas uma seção voltada para o assunto e, cada um deles, batizou como achou melhor.
No endereço Geraldoalckmin.com.br o tucano traz a seção Anti Fake News. Ela é a terceira opção de clique no site oficial e por lá a equipe de comunicação do pré-candidato tenta derrubar notícias falsas que se espalham sobre ele, como também, rebater acusações que recebe de adversários. Uma das postagens, por exemplo, afirma que se trata de uma mentira que “Alckmin apoia bandidos”.
No entanto, o vídeo que viralizou do presidenciável apoiando Ney Santos, prefeito de Embu das Artes (SP) e apontado como integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC), é verdadeiro. Mas, na publicação, sua assessoria tenta separar os dois. “Só após a gravação Ney Santos foi alvo de investigações e processos, com os quais Geraldo Alckmin não compactua de nenhuma forma. Tentar associá-lo a pessoas ou denúncias dessa forma é golpe baixo que tem um único intuito: espalhar mentiras e manchar uma trajetória limpa de mais de 40 anos de vida pública”, afirma a publicação.
“Esse momento atual é dos pré-candidatos tentarem formar a sua imagem diante do eleitor. Então, a intenção com essas postagens nos sites e nas redes sociais não é de desmentir uma notícia falsa, e, sim, combater qualquer discurso que possa manchar sua imagem diante da opinião pública”, explica o especialista em marketing político Alexandre Bandeira.
Para o cientista político Aurélio Maduro de Abreu o momento é de guerra de informações, onde cada um tenta convencer o outro da sua própria verdade. “A internet virou um espaço perfeito para este embate, com rapidez e exércitos defendendo seus lados. Nestes disparos certamente alguns têm sua reputação atingida ou mesmo acabam autores de ideias que nunca tiveram”, completa.
No site de Bolsonaro, a parte que tenta combater o discurso de acusação dos adversários é nominada de A Verdade. “O objetivo é esclarecer a opinião pública contra ações de alguns veículos de comunicação que insistem em distorcer as verdades dos fatos”, registra o texto de abertura da seção. No local, os jornalistas que fazem o material do presidenciável apontam a “imparcialidade da mídia” em notícias e comentários que citam o nome do político do PSL.
“Muitas das notícias que eles tentam combater nesse espaço, que os pré-candidatos acreditam ser falsas, têm bastante verdade. Assim, eles contam com um grupo de jornalistas e demais profissionais que tentam reverter o foco do assunto e, além de colocarem no site e nas redes sociais, espalham o discurso do político via e-mail, telefone e qualquer outro canal que tiverem”, explica o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer.
Além dos dois pré-candidatos do PSDB e PSL, o ex-presidente Lula também dedica um espaço em seu site oficial para contra-atacar discursos e notícias que se espalham sobre ele. Dentro da seção Mitos e Fatos, o leitor pode escolher pelas opções Mitos Sobre Lula, O Patrimônio do Lula, Os Documentos do Guarujá e As Palestras.
“Lula é vítima de boatos e mentiras há muitos e muitos anos, desde que passou a representar uma séria ameaça aos grupos que controlaram o país durante décadas a fio. Leia aqui alguns dos principais boatos, saiba a verdade e ajude a divulgar as informações reais”, traz a introdução de uma das publicações.
“Antes, era possível responder aos adversários apenas em debates ou programas eleitorais. Mas, este ano, com a campanha mais curta e o crescimento das redes sociais, o contra-ataque está ocorrendo na internet”, explica o cientista político David Fleischer.
Segundo Aurélio Maduro de Abreu, as redes sociais e essas notícias falsas ou exageradas terão uma influência pequena nas eleições de outubro. “Um limitador para tudo isso é que as pessoas costumam viver em bolhas na internet, convivem com outros que pensam igual. Isso pode limitar o impacto das fake news”, argumenta.
O especialista Alexandre Bandeira encara de forma diferente. “Vale lembrar que ao espalhar notícias falsas ou suas versões de fato, os candidatos abastecem suas militâncias. A intenção deles, com isso, é que esses militantes, ao conversarem com aqueles indecisos pelas ruas, conquistem votos”, completa .
O Metrópoles procurou os pré-candidatos Alckmin, Bolsonaro e Lula. A assessoria de imprensa do tucano, até a publicação desta reportagem, não havia se posicionado. Marcelo Vitorino é quem cuida da área digital da campanha do pessedebista. Vitorino trabalhou na campanha vitoriosa do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB).
A comunicação de Bolsonaro preferiu não comentar “A Verdade” postada pelo presidenciável em suas páginas na internet. O assessor do Instituto Lula, José Crispiniano, disse que a seção Mitos e Fatos foi criada ainda em 2015. “Nós colocamos porque Lula e sua família são as maiores vítimas de fake news do país”, completou.